O roteiro nonsense de ‘A Substância’ parte do etarismo sofrido pela estrela de cinema Elisabeth Sparkle. Ao completar 50 anos, ela é demitida. O produtor a considera “velha” para continuar à frente do programa de ginástica que apresenta na TV. 45s3e
Escrito e dirigido por uma sa na mesma faixa de idade, Coralie Fargeat, o filme discorre sobre o peso do envelhecimento devido ao preconceito de uma sociedade que hipervaloriza a juventude. A mulher pode ser burra e vulgar, mas, se tiver o frescor da mocidade, ganha vantagens na competição.
Demi Moore, 62 anos, se reinventou no papel. Desdenhada em Hollywood nos últimos anos pela falta de personagens para atrizes maduras, ela atingiu seu ápice de desempenho diante da câmera. Merecia o Oscar tanto quanto Fernanda Torres, 59.
Apesar de ter recebido a Palma de Melhor Atriz em Cannes aos 20 anos, somente agora a atriz brasileira conheceu o reconhecimento pleno no Brasil e no exterior. Antes, era associada às comédias televisivas, gênero popular, porém, menos valorizado do que o drama.
A vitória de uma delas seria a necessária exaltação da maturidade feminina. A Academia, formada em sua maioria por homens mais velhos, preferiu eleger Mikey Madison, de 25 anos, pelo papel de uma provocante garota de programa em ‘Anora’. Ganhou pela performance ou por mexer com a imaginação erótica de votantes?
Provocação à parte, a mensagem de ‘A Substância’ se concretizou no Dolby Theatre: as ‘coroas’ estarão em desvantagem na maioria das vezes. Mesmo ex-símbolos de beleza, como Demi, e artistas incensadas pela força dramática, a exemplo de Fernanda, não escapam do desapreço.
Resta às veteranas não caírem na armadilha de deformar o rosto com plásticas nem forçar uma magreza irreal, como o fizeram tantas atrizes apavoradas com a perda de prestígio na indústria do entretenimento.
Vale seguir o pensamento de uma das mais sagazes ganhadoras do Oscar, Audrey Hepburn, que soube envelhecer muito bem: “O segredo da minha lucidez é não acreditar em juventude eterna”.