Estudantes brasileiros em Harvard enfrentam insegurança diante da proibição do governo Trump de matricular estrangeiros, enquanto a universidade busca reverter a medida judicialmente.
A tensão entre a Universidade de Harvard e o governo Donald Trump ganhou um novo capítulo na última semana após o Departamento de Segurança Interna proibir que a universidade mais prestigiada dos Estados Unidos tivesse alunos estrangeiros. A centenária instituição recorreu e recebeu decisão favorável para que estudantes de todas as partes do mundo sigam com as suas atividades. 3a3f2o
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Oficialmente, o governo Trump diz que Harvard não entregou os documentos solicitados sobre os alunos de fora dos Estados Unidos. De acordo com os dados, 1 em cada 4 estudantes da universidade são estrangeiros.
O novo capítulo do embate, que começou ainda em abril quando Harvard não aceitou as ordens da Casa Branca para descontinuar políticas de diversidade e inclusão e impedir manifestações pró-Palestina, gera angústia em centenas de alunos brasileiros em Boston.
Aluno de pós-graduação em Direito em Harvard, Danilo Linhares, de 31 anos, soube por uma amiga indiana que Trump revogou a autorização para a universidade matricular estrangeiros. Com a medida, muitos alunos podem ser transferidos para outras instituições norte-americanas credenciadas.
Para Linhares, o maior receio não é a transferência. Como está no final do curso de três anos, acredita que a universidade o manterá mesmo no quadro, no entanto, não sabe como a burocracia pode afetar sua carreira. "Minha maior preocupação é não conseguir emprego. Aqui, é comum os estudantes se formarem com visto F e, no primeiro emprego, obterem o OPT, uma extensão desse visto que permite trabalhar por um ano. Se o empregador gostar do desempenho, patrocina o visto H-1B, mais caro e . O problema é que o OPT depende da universidade que você se formou estar certificada. Acho que isso pode me dificultar."
Segundo Linhares, o campus virou um "celeiro de sentimentos". “Tem gente que está meio desesperada, achando que vai rolar mesmo [transferências], tem colegas de algumas nacionalidades que estão indo embora, tem alguns colegas que estão cancelando a volta para casa. A gente está chegando nas férias, teoricamente, muita gente planejava visitar a família. Mas a insegurança de não poder entrar de novo é real.”
Mesmo conhecendo pessoas de direita e ditas conservadoras, o brasileiro afirma que os estudantes nativos, de forma geral, não estão fazendo coro ao discurso de Donald Trump. "Há gente desesperada, alguns até deixando o país. Recebi mensagens de amigos americanos se solidarizando, pedindo desculpas pelo ocorrido e oferecendo ajuda", relatou.
O estudante de pós-graduação de Direito, que planejava fazer pós-doutorado e lecionar nos EUA, agora considera seguir a carreira acadêmica em outro país. Sua família, no Brasil, acompanha a situação com apreensão --sua mãe teme problemas ao declarar no aeroporto que virá para sua formatura em Harvard.
A mesma tensão também acompanha a paulista Renata Prôa, de 26 anos, mestranda de Saúde Global na instituição. Nos EUA desde 2022, ela conta que escolheu o país pela junção de dois desejos pessoais e profissionais. “Tinha muitas razões. Tinha uma razão de curiosidade, de querer explorar, de saber que as referências do mundo estão aqui. E a minha área de doutorado. Não tem muitas pessoas que fazem no Brasil, tem pouquíssima gente. Então, eu tinha que vir pra cá mesmo”, detalhou.
Primeiro, começou na Universidade de Columbia, em Nova York, estudando Neurociência Computacional. Depois de um tempo, deu uma pausa no doutorado para fazer o mestrado em Boston, que é onde está agora. Com as mudanças, os planos de continuar estudando parecem incertos. E sem ter certeza, não dá pra sonhar.
“Estou me sentindo muito, muito, muito ansiosa. Tem sido pra mim uma montanha russa. Quando eu me formasse, eu queria voltar para o meu doutorado. [...] Então, a cada semana, a cada dia, era uma notícia que mudava a minha opinião. Vou tentar estender a minha estadia em Harvard? Não. Vou tentar voltar antes para a Columbia? Em nenhum dos lugares eu me sinto segura”, desabafou Prôa.
Ela conta que faz parte de um programa da associação de estudantes brasileiros, que busca incentivar a vinda de mais conterrâneos para a instituição, e enquanto fazia as entrevistas recebeu a notícia da ordem emitida pelo governo Trump. “Eu estou confusa agora. [...] O que vai acontecer comigo? A ansiedade está a mil”, diz.
Apoio de Harvard 1x5o4q
Na tentativa de acalmar os estudantes, Harvard tem enviado e-mails de apoio. “A gente recebeu uma pequena enxurrada de e-mails de diferentes departamentos. A gente está em várias listas de e-mail. Tem o mailling de um departamento, sei lá, da escola de Direito. Tem um departamento de políticas públicas. Coisas assim… que a gente está envolvido. Todas as partes da universidade têm mandado algum tipo de comunicação. Tem um grupo dentro da faculdade de Direito também, que já existe há tempos, que oferecendo até apoio jurídico", contou Linhares..
Por estarem em período de provas finais, Renata detalha que não tem sido fácil, principalmente pela documentação entre as instituições, mas tem recebido auxílio: “A gente tem muita coisa pra fazer, mas a ansiedade tem sido muito grande. E tem afetado muito a minha saúde mental. [...] Teve um momento que eu estava muito estressada e eu falei [para a instituição]: ‘Está difícil para mim’. E eles conversaram com meus professores.”