O secretário-geral da ONU pediu nesta segunda-feira (2) uma investigação independente após a morte de pelo menos 31 pessoas em decorrência de tiros na véspera, perto de um centro de ajuda humanitária em Gaza. Os socorristas atribuem o ataque ao Exército israelense, que negou envolvimento. 1o4a3
Segundo a Defesa Civil, tiros israelenses causaram pelo menos 31 mortos e 176 feridos próximo de um centro de distribuição de ajuda alimentar em Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
Fotos da agência AFP mostram civis carregando corpos no local, e médicos de hospitais próximos relataram inúmeros feridos por balas.
Em guerra há quase 20 meses em Gaza contra o movimento islâmico palestino Hamas, após o ataque de 7 de outubro de 2023 em Israel, o exército negou ter disparado contra civis próximos ou dentro do local gerido pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada pelos Estados Unidos e Israel.
Um porta-voz da GHF negou qualquer incidente, denunciando informações "falsas e fabricadas".
"Consternado" 203v34
"Estou consternado com as informações sobre palestinos mortos e feridos enquanto buscavam ajuda em Gaza", declarou na segunda-feira o secretário-geral da ONU, António Guterres.
"É inaceitável que palestinos arrisquem suas vidas para obter comida", acrescentou ele em comunicado, sem atribuir responsabilidades pelas mortes.
"Peço a abertura imediata de uma investigação independente sobre esses eventos e que os responsáveis sejam punidos", disse ainda.
A GHF, oficialmente uma empresa privada, afirma ter distribuído milhões de refeições desde o início de suas operações no fim de maio, mas sua atuação tem sido marcada por cenas caóticas e relatos de vítimas de tiros israelenses próximas aos centros de distribuição.
As Nações Unidas recusaram trabalhar com essa organização devido a preocupações sobre seus métodos e neutralidade, com algumas agências humanitárias acreditando que ela teria sido criada para atender a objetivos militares israelenses.
Israel enfrenta pressão internacional crescente para acabar com a guerra no território palestino devastado pelos bombardeios, que vive uma situação humanitária catastrófica. Israel impôs um bloqueio total por mais de dois meses, parcialmente liberado no fim de maio.
No domingo, moradores de Gaza descreveram cenas de "caos" e tiros do Exército israelense perto do centro de distribuição de ajuda.
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou ter tratado no local pessoas atingidas por tiros, qualificando o sistema de distribuição da GHF como "desumano, perigoso e totalmente ineficaz".
Risco de fome 50603t
O Exército israelense declarou que uma primeira investigação indicou que seus soldados "não dispararam contra civis próximos ou dentro do local".
O porta-voz do exército, Effie Defrin, afirmou em vídeo que "o Hamas fez o possível para nos impedir" de distribuir a ajuda, comprometendo-se a "investigar todas as acusações" contra as tropas israelenses.
Segundo a ONU, toda a população do território enfrenta risco de fome. Recentemente, as Nações Unidas relataram incidentes em que a ajuda humanitária foi saqueada, inclusive por indivíduos armados.
Além disso, a Defesa Civil anunciou a morte de 14 pessoas em um bombardeio israelense numa residência em Jabalia, no norte de Gaza.
No domingo, o ministro israelense da Defesa, Israel Katz, disse ter ordenado que o exército avance na Faixa de Gaza, "independentemente de qualquer negociação", para aumentar a pressão sobre o Hamas e obter a libertação dos reféns.
Das 251 pessoas sequestradas em 7 de outubro de 2023 em Israel, 57 ainda estão retidas em Gaza, sendo que pelo menos 34 delas morreram, segundo as autoridades israelenses.
As negociações para um cessar-fogo e um acordo para a libertação dos reféns ainda não avançaram, e Israel encerrou em 18 de março uma trégua de dois meses.
(Com AFP)