A maioria das pessoas não se lembra dos primeiros anos de vida, não é mesmo? Apesar disso, não significa que essas experiências simplesmente desaparecem. Um estudo publicado pela revista Science mostra que o cérebro dos bebês forma memórias que podem apenas se tornar iníveis com o tempo. 4s535o
O fenômeno, chamado de amnésia infantil na pesquisa, ocorre apesar da intensa atividade cerebral dos primeiros anos. É nessa fase que os bebês aprendem a reconhecer rostos, vozes e objetos, formando conexões fundamentais pelo hipocampo - região do cérebro responsável pela organização da memória, que ainda está em desenvolvimento.
Como realizou-se o estudo? b64y
O estudo em questão acompanhou 26 bebês, divididos entre menores e maiores de um ano, que observaram imagens variadas. Posteriormente, essas mesmas imagens foram apresentadas, enquanto a atividade cerebral era monitorada por ressonância magnética funcional (fMRI).
Como os bebês ainda não se comunicam verbalmente, os pesquisadores utilizaram a criatividade para conduzir o experimento. Para mantê-los calmos e atentos, foram usados itens familiares, como chupetas, bichos de pelúcia e fundos com padrões psicodélicos.
Os resultados mostraram que os bebês mais velhos (acima de um ano) apresentaram maior atividade no hipocampo durante tarefas de memória - especialmente aqueles com melhor desempenho ao reconhecer imagens. Segundo Nick Turk-Browne, professor de Psicologia em Yale e um dos autores principais da pesquisa, é possível concluir que os bebês têm capacidade de codificar lembranças episódicas no hipocampo desde, aproximadamente, um ano de idade.
Lembranças esquecidas ou iníveis? x2p2
A grande questão que permanece é: o que acontece com as primeiras lembranças ao longo do tempo? O pesquisador acredita que essas memórias podem permanecer no cérebro, mas se tornam iníveis à medida que ele se desenvolve. "Não lembramos de nenhuma dessas experiências, pois existe uma espécie de desajuste entre essa incrível plasticidade do cérebro e nossa capacidade de aprendizado", explicou.
Essas descobertas reforçam a importância dos estímulos e vínculos afetivos nos primeiros anos de vida, mesmo que não fiquem íveis na memória consciente. Afinal, o cérebro infantil está absorvendo muito mais do que somos capazes de lembrar.