Médica descobriu ter esclerose múltipla aos 22 anos após quase ficar cega: 'Não é o fim do mundo' 4d695b

Maria Eduarda Coelho, de 26 anos, teve um choque ao receber o diagnóstico da doença, condição autoimune crônica que afeta o sistema nervoso 1g3h6d

2 jun 2025 - 04h59
Maria Eduarda Coelho, de 26 anos, foi diagnosticada com esclerose múltipla em novembro de 2021
Maria Eduarda Coelho, de 26 anos, foi diagnosticada com esclerose múltipla em novembro de 2021
Foto: Arquivo pessoal/Arquivo pessoal

"Não é o fim do mundo". É assim que a médica baiana Maria Eduarda Coelho, de 26 anos, define o diagnóstico de esclerose múltipla, doença crônica autoimune inflamatória que afeta o sistema nervoso. Hoje, ela faz essa leitura, mas a notícia do diagnóstico veio como um choque. y2i71

Maria descobriu que tinha esclerose múltipla em novembro de 2021, após um episódio que quase a deixou cega. Ela se dedicava ao seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), quando, de repente, a visão do olho direito começou a ficar embaçada. Em um primeiro momento, pensou que fosse apenas cansaço e não deu bola, mas o sintoma persistiu.

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"No dia seguinte, relatei o sintoma aos meus professores e perguntei a eles o que poderia ser. Eu tenho sinusite, então pensei que pudesse ser algum abscesso [bolsa de pus] que tivesse se formado e estava atrapalhando a visão", conta Maria ao Terra.

"Dois dias depois, [o quadro] estava tão ruim que eu estava tendo que tampar o olho para poder ler e estudar. Via tudo embaçado --não conseguia mais visualizar objetos ou distinguir cores, por exemplo", acrescenta.

Maria foi ao oftalmologista e realizou um teste de acuidade visual --procedimento que avalia a capacidade do paciente de enxergar com nitidez e clareza. O resultado foi de 20/200, o que indica deficiência visual grave e, em alguns casos, pode ser classificado como cegueira legal.

O médico, então, aplicou outro exame em Maria, o chamado "teste de fundo de olho", que permite visualizar a retina, o nervo óptico e os vasos sanguíneos do olho. Este não constatou nenhuma alteração.

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A partir dos resultados dos exames, o médico chegou a um diagnóstico: neurite óptica, consequência de uma desmielinização. O nome é complicado, mas a causa por trás do sintoma é simples: esclerose múltipla.

"Na hora em que recebi o diagnóstico, desabei. Esperei o médico terminar de falar, saí do consultório e comecei a chorar. Pensei: 'Meu Deus, estou condenada'", relata Maria.

"Até então, não conhecia a esclerose múltipla a fundo. Só me veio à mente o caso da atriz Cláudia Rodrigues [que luta contra a doença há cerca de 20 anos e enfrenta uma série de problemas de saúde, incluindo dificuldades de locomoção]", acrescenta.

Entendendo a esclerose múltipla 3y4b72

Segundo a neuroimunologista Lis Campos Ferreira, a esclerose múltipla é uma doença autoimune desmielinizante do sistema nervoso central. Isso significa que o paciente tem um ataque autoimune a uma camada que recobre o axônio do neurônio, que é chamada de bainha de mielina.

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A doença pode afetar o nervo óptico (o nervo do olho), o cérebro e a medula. Os sintomas são variáveis. Podem incluir desde turvação visual até dormência, formigamento, fraqueza, incoordenação motora e dificuldade para urinar e defecar.

Maria foi diagnosticada com esclerose múltipla Remitente-Recorrente (EMRR), o tipo mais comum da doença, em que o paciente apresenta surtos de sintomas seguidos de períodos de remissão.

Enquanto o tipo Secundariamente Progressivo (EMSP) ocorre após anos de EMRR, com progressão lenta e gradual da doença, o tipo Primariamente Progressivo (EMPP) é caracterizado por progressão lenta e constante desde o início, sem períodos de surtos.

Imediatamente após receber o diagnóstico, Maria iniciou tratamento com pulsoterapia, que consiste na istração de altas doses de medicamentos, geralmente corticosteroides, por via endovenosa, durante um período curto de tempo. Ela conseguiu recuperar 100% da visão.

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"A esclerose múltipla ainda não tem cura, mas tem bons tratamentos, tanto pelo SUS quanto pelo sistema privado, pelo setor privado de saúde", afirma Lis, que é secretária do Departamento Científico de Neuroimunologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

"Existe um protocolo dentro do SUS, inclusive, com drogas orais, injetáveis, subcutâneas ou venosas de alta eficácia, evitando que o paciente tenha acúmulo de sequela e evitando novos surtos da doença", acrescenta.

Com o tratamento adequado, a esclerose múltipla tem um bom prognóstico. Apesar disso, a doença ainda é cercada de tabus. Até mesmo Maria, que era estudante de medicina à época em que recebeu o diagnóstico, pouco sabia sobre a condição e imaginou que pudesse estar fadada a ficar presa a uma cama para o resto da vida.

Maria toma um medicamento imunossupressor duas vezes ao dia e, com isso, consegue ter uma vida normal. Desde novembro de 2021, ela não teve mais surtos da esclerose múltipla. Hoje, reconhece que o diagnóstico não é "o fim do mundo" e que uma doença crônica não a define.

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"Qualquer diagnóstico de uma doença que vai acompanhá-lo pelo resto da vida é um impacto --mas, aos poucos, você aprende a lidar com isso", diz Maria. "É uma doença crônica como qualquer outra, assim como diabetes ou hipertensão. Você pode enfrentar obstáculos pelo caminho, mas com o tratamento adequado e o e necessário, é possível superá-los."

Fonte: Redação Terra
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