O Baile do Panta reúne multidões nos fins de semana. Feito pelo povão da quebrada, que também é incomodado pela muvuca, o pancadão é um dos maiores de São Paulo. Alimenta a cultura dos bailes e não perde em nada para shows que estiveram na programação da Virada Cultural.
Brotamos no Baile do Panta. Ou melhor, nos bailes do Panta — ou Pantanal — que também não é um só, mas formado pelos bairros Jardim Lapenna e União de Vila Nova, na zona leste de São Paulo. Conhecido pelas enchentes, o Pantanal é o Panta do funk estourado de MC Nego Trufa, que diz “ô novinha, brota no Baile do Panta”. 63o48
Um dos bailes mais movimentados de São Paulo, acontece em vários pontos, com muvucas, muvuquinhas e muvuconas ao redor do centro nervoso: uma encruzilhada em forma de X em União de Vila Nova. O Jardim Lapenna, que a “novinha” do funk também teria conhecido, fica do outro lado do rio Jacu Pêssego.
No último sábado de maio, no começo da noite, as primeiras motos tiram finas enquanto ainda dá para acelerar nas ruas. Fazem grau, empinando, motos e bicicletas. A roupa denuncia quem já está pronto pro baile. Outros am com copões de gim na mão, a bebida da moda. Em frente às casas, as muvuquinhas ouvem seu próprio som, com cooler abastecido e narguilê fumaceando.
Mercadinhos e açougues fecham enquanto abrem adegas, bares, tabacarias e trailers de lanches. São muitas adegas — só no centro nervoso, pelo menos dez. Ricardo Caetano, 40 anos, dono de uma lanchonete, conta que trabalha “todos os dias, menos na terça... Aqui, todo dia tem movimento. É maior na sexta, sábado e domingo, com o baile”.
A muvuca cresce com a noite e vira muvucona 6jaj
Quanto mais perto da meia-noite, mais gente aparece. Há muitos moradores da própria quebrada, mas também quem chega de trem e pega o “Uber da vila” por dez reais. São motoristas fazendo um extra levando gente da estação de trem Lapenna até o Baile do Panta, uns três quilômetros de distância.
“Colo aqui porque é mais ível, as bebidas, as comidas, é perto da estação. Eu estava lá na Pedroso, não tava rolando nada, então vim pra cá. Aqui é o pico”, diz Alexandre Silva Souza, 27, do Alto Pedroso, também na zona leste. Alexandre brota sempre no Baile do Panta.
O som rola solto nas adegas, carros e paredões. Enquanto o funk estoura, um bar tem brega ao vivo, e grupos ouvem sertanejo em frente às casas. Tem gente de bike, de muleta, com a perna amputada. O baile lota mesmo reprimido pela polícia e com grandes eventos gratuitos paralelos, como a Virada Cultural, com a vantagem da Heineken a R$ 7,50.
“Colo no baile do Pantanal porque geralmente é o único rolê que tem pra fazer aqui. É um momento de escape mesmo”, diz Beatriz Lima Villas Boas, 20. “O diferencial é que conheço muita gente lá, então mesmo se eu for sozinha, não fico sozinha.”
Quem brota e quem não brota mais 6r4n2e
“O baile começa tipo meia-noite e termina às sete da manhã, sexta e sábado. As portas e janelas da minha casa se movimentam com o grave do som. É uma falta de respeito com os moradores que não frequentam o baile”, desabafa Valeria Silva da Luz, 26. O lixo deixado é outra crítica.
Outro morador, que preferiu não se identificar, diz que “quem acorda cedo para trabalhar no centro não descansa direito. Só tem um sono bom de segunda pra terça. E mesmo assim, nem sempre.” Há também quem já curtiu, mas parou de ir. “O baile trouxe visibilidade, é diversão da galera. Mas é limitado. Aqui deveria ter mais coisas”, diz Dayane Santos Ferreira da Silva, 33.
Na manhã de domingo, entre copos no chão, restam os resistentes. Assiste-se a um mano sem camisa, de óculos escuros, copão na mão, dançando sozinho. As muvuquinhas finais encerram mais uma edição do Baile do Panta, muvucona que varou a madrugada. Até o próximo baile, segue a muvuca de sempre, dos dias de semana.