Dinheiro invisível: por que o Brasil pode liderar o futuro dos pagamentos digitais 3fo1d
Especialistas apontam o Brasil como um terreno fértil para o avanço de pagamentos automatizados, tokenização e experiências financeiras sem fricção 6r4t5u
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Imagine ar por um pedágio sem parar, sem pegar a carteira, sem sequer perceber que pagou. O valor é debitado automaticamente da sua conta, e você segue viagem. Essa experiência, já comum em muitas estradas, é apenas um vislumbre do que especialistas estão chamando de pagamento invisível — uma tendência que promete transformar o ato de pagar em algo cada vez mais imperceptível.
"Não é que você não queira pagar, mas o ato de pagar deixa de ser uma ação consciente", explica Fabiano Amaro, head de alianças & inovação na Matera. Segundo o que ele debateu nesta quarta-feira, 14, durante o Summit Tecnologia e Inovação, do Estadão, tecnologias como blockchain, contratos inteligentes e a própria evolução do comportamento digital indicam que a transação financeira do futuro será automática, contínua e sem fricção — assim como o exemplo do pedágio que não exige parada.
Mas, se a promessa é um futuro em que o dinheiro circula sem fricção, muitos diriam que o Pix já representa esse avanço. Em partes, sim. "Já fazemos transações via Pix sem, muitas vezes, entender como tudo acontece por trás disso", lembrou Glauber Mota, CEO da Revolut Brasil. No entanto, ele destaca que a verdadeira revolução não está apenas no meio de pagamento, mas na infraestrutura tecnológica por trás dele, que ainda pode evoluir muito.
Segundo Mota, o dinheiro já é digital — a transformação agora está em como essas novas tecnologias estão criando uma estrutura mais moderna, barata e eficiente para sua movimentação. "Com contratos inteligentes, podemos conectar várias etapas de uma transação, reduzir intermediários e garantir mais segurança", explica.
Mais do que pagar com facilidade, o futuro apontado por especialistas é de um dinheiro que se move automaticamente, com rastreabilidade garantida e operações mais personalizadas, graças ao uso de inteligência artificial. O que antes exigia múltiplos sistemas e confirmações, poderá acontecer em segundos, com um simples clique — ou nem isso.
É nesse cenário que entram iniciativas como a da Mastercard, que aposta em transformar não apenas a tecnologia, mas a própria experiência de pagar. "A última coisa que o consumidor quer é perder tempo com o processo de pagamento; ele quer dedicar seu tempo à escolha dos produtos", afirma Ana Karina Scarlato, vice-presidente de Produtos e Inovação da Mastercard Brasil.
Segundo ela, o Brasil é um dos países mais receptivos a novas tecnologias, com 89% da população demonstrando curiosidade e abertura para testar inovações, o que favorece a rápida adoção de soluções como o pagamento por aproximação e o Click to Pay. Essa tecnologia, já em operação com parceiros como Sympla e McDonald's, permite que o consumidor finalize uma compra online com apenas um clique, dispensando senhas ou digitação de dados.
Com a combinação de biometria e tokenização, o processo se torna não só mais ágil — economizando até 22 segundos no checkout — como também mais seguro. "Nosso compromisso é eliminar completamente o uso de senhas e qualquer inserção manual até 2030. E com a tokenização de 100% das transações, ganhamos em segurança, confiança e eficiência", reforça Ana Karina.
E o papel do real - e vice-versa? 555j5f
Mas e o dinheiro tradicional — aquele emitido por governos, regulado por bancos centrais — também vai desaparecer?
Não exatamente. O que está acontecendo, segundo os especialistas, é uma transformação na forma como ele circula. Em vez de cédulas ou transferências bancárias, o valor está migrando para formas digitais estáveis, como as stablecoins, que reproduzem digitalmente o valor de moedas como o real ou o dólar, mas com vantagens operacionais e tecnológicas.
"A grande pergunta que surge é: por que não levar o dinheiro oficial para esse formato digital?", provoca Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin. Durante sua participação no evento, ele destacou que as stablecoins já movimentam trilhões ao redor do mundo e começam a ganhar espaço também no Brasil.
"A Tether, por exemplo, movimentou US$ 20 trilhões no ano ado com apenas 200 funcionários. Isso mostra o poder da tecnologia e o quanto ela pode ser mais eficiente do que os modelos tradicionais", completou.
A lógica é simples: se o dinheiro pode estar em um ambiente 100% digital, ele também pode ser programado, rastreado e movimentado com menos burocracia. O desafio, segundo Rabelo, está em tornar essa tecnologia tão simples quanto o Pix — algo que o usuário use sem perceber o que está acontecendo por trás.
"O grande desafio para as stablecoins e para o blockchain é justamente alcançar essa simplicidade. Quando pagamos com Pix, muitas vezes nem pensamos no processo. Com o dinheiro invisível, a experiência deve ser ainda mais natural", concluiu.
Tudo isso aponta para uma direção clara: o dinheiro está deixando de ser um objeto físico ou até mesmo um clique consciente, para se transformar em uma infraestrutura invisível, que funciona de forma automática, segura e personalizada.
E, se há um lugar onde essa transformação pode ganhar força, esse lugar é o Brasil. "Somos um celeiro de inovação", como destacou Ana Karina Scarlato, e temos uma população curiosa, conectada e receptiva a mudanças.
Se hoje o pedágio já cobra sem que você perceba, em breve, será o supermercado, a plataforma de streaming, o transporte e até a conta de luz — tudo acontecendo com um "sim" biométrico ou até mesmo sem interação alguma.
