Planejamento não funciona mais diante de um futuro incerto, diz futurista Martha Gabriel 556f23
Autora do best-seller 'Liderando o Futuro' trouxe ao Summit Tecnologia e Inovação, do Estadão, alertas para lidar com IA e outras tecnologias disruptivas 16414e
26244a
Em uma realidade com tantas incertezas quanto ao futuro, como a atual, o planejamento precisa dar lugar à preparação. É isso que defendeu Martha Gabriel, futurista, autora do best-seller Liderando o Futuro, em sua palestra "Entre rupturas e reinvenções: panorama das novas realidades", no Summit Tecnologia e Inovação,realizado pelo Estadão nesta quarta-feira, 14. Durante 40 minutos, Martha ou por oito tendências tecnológicas disruptivas que, simultaneamente, vêm moldando a realidade humana, da IA ao biohacking.
Neste cenário, "se você puxar um fio, torna-se dificil enxergar o que acontece com o resto", diz Martha.
A futurista defende que o grande desafio do presente é antecipar rupturas. "Somos bons em reagir porque vivemos 99% do tempo em ambientes lentos. Mas agora precisamos aprender a antecipar. Se você não se antecipa, não consegue ver onde vai cair o meteoro." A metáfora, recorrente em sua fala, serve de alerta: as mudanças estão em curso, e ignorá-las pode ser catastrófico — mas também há oportunidades justamente onde o impacto acontece.
O conceito de futurismo, que embasa sua palestra, propõe a construção de cenários múltiplos em vez de previsões absolutas. "Não confio em ninguém que tem certeza absoluta. Temos de ter a humildade de não ter certezas", diz.
As oito tecnologias citadas por Martha incluem inteligência artificial, biotecnologia, robótica, blockchain, computação quântica, internet das coisas, realidade estendida e neurotecnologia. "Pela primeira vez, todas essas estão emergindo de forma simultânea num intervalo de dez anos. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo", afirmou. O resultado é um cenário híbrido e acelerado, que redefine os limites do físico e do digital.
A próxima etapa: a da IA física 1y2g5f
A inteligência artificial, tema dominante da palestra, já ou por diversas fases, começando na década de 1970. Segundo Martha, a virada veio com a IA generativa, em especial a partir de 2023. "Até então era só chatbot. Agora entramos na era dos agentes e estamos indo para a era dos inovadores, com a IA descobrindo coisas pra gente." A próxima etapa, diz ela, será a da IA física, integrando robótica com cognição avançada.
Essa fusão entre cérebro e corpo já está em curso. "Temos robôs-atletas, robôs médicos e assistentes domésticos. E se a IA é o cérebro, a robótica é o corpo. As duas estão avançando ao mesmo tempo." Para Martha, o impacto será visível não só na indústria, mas no cotidiano — desde empregos até relacionamentos.
Outra área que promete reconfigurar o mundo é a biotecnologia, especialmente com o avanço da tecnologia personalizada nos campos biológicos e médicos. "Estamos falando de extensão da longevidade, reprogramação genética, bioeconomia. Mas também de questões éticas profundas. A mesma fórmula que pode criar uma pós-humanidade é a fórmula de uma catástrofe ecológica, se usada sem critérios", alerta.
A fronteira entre mente e máquina também já está sendo cruzada. "Estamos falando de telepatia artificial, com IA capaz de desenhar, cantar e transcrever o que pensamos. E, se você não tem mais privacidade de pensamento, como define sua identidade? O que você pode ou não pode pensar?", questiona. Casos como o paciente com implante da Neuralink que joga Counter-Strike 2 melhor do que qualquer um indicam o início de uma nova era.
As implicações vão além da tecnologia. "Estamos vendo a reconfiguração da identidade humana. Avatares, gêmeos digitais, deepfakes — tudo isso fragmenta nossa percepção de verdade e autenticidade."
A economia também a por mutação: o trabalho deixa de ser o único motor da renda para dar lugar à posse digital e aos tokens. E o ensino institucionalizado dá lugar ao aprendizado imersivo, sob demanda e guiado por IA.
Na visão de Martha, a computação quântica e os sistemas autônomos vão exigir um novo tipo de governança. "Hoje já é difícil governar humanos. Imagina governar decisões automatizadas? Precisamos pensar em códigos morais sintéticos, porque se aumentamos a inteligência das máquinas e não a ética, o resultado pode ser perigoso."
A segurança, antes restrita ao mundo cibernético, agora precisa considerar a dimensão biológica. "Quanto mais a gente conecta nosso corpo à tecnologia, mais hackeável ele se torna." Cidadania biológica e cidades inteligentes resilientes são, segundo ela, temas emergentes que exigem preparo — não só técnico, mas ético e institucional.
Para a futurista, o maior erro seria tentar aplicar velhos modelos a um novo mundo. "Planejamento é prever o futuro. Mas, se o futuro muda rápido, o planejamento não serve. Em ambientes incertos, a gente não faz viagem: a gente joga. E, para jogar bem, precisa se preparar."
