Marty Friedman fala à RS sobre shows no Brasil com Kiko Loureiro, Megadeth, Rock in Rio e mais 401z5d
Guitarrista americano radicado no Japão excursionará com brasileiro por oito cidades do país: "faremos coisas nunca feitas antes em nossas carreiras" 662xn
Faz uma década desde que Marty Friedman esteve no Brasil pela última vez. Mas a ocasião foi marcante. O guitarrista, conhecido especialmente por seu trabalho com o Megadeth na década de 1990, viajou por mais de 20 cidades realizando workshops. "Me disseram que aquela foi a maior e mais longa turnê de workshops de guitarra feita por qualquer músico estrangeiro no país", contou o músico americano, radicado há anos no Japão, em entrevista à Rolling Stone Brasil. 2j4v5l
Agora, chegou a hora de retornar, mas para apresentações propriamente ditas. Friedman excursionará junto ao brasileiro Kiko Loureiro, outro virtuoso da guitarra e também ex-integrante do Megadeth. O itinerário é um pouco menor que o de 2015, mas ainda assim bastante amplo, pois a dupla tocará em oito cidades: Santo André (30/05), Brasília (31/05), Goiânia (01/06), Belo Horizonte (04/06), Porto Alegre (05/06), Rio de Janeiro (06/06), São Paulo (07/06) e Curitiba (08/06). Alírio Netto (voz), Felipe Andreoli (baixo), Bruno Valverde (bateria) e Luiz Rodrigues (guitarra) acompanham. Ingressos estão disponíveis no site de Kiko.
E o que eles vão tocar? Segredo absoluto. Sabe-se que Loureiro promove seu álbum solo mais recente, Theory of Mind (2024), enquanto Friedman traz consigo o disco Drama (2024). Trabalhos bem diferentes entre si — o do brasileiro é bem pesado, enquanto o do americano tem uma abordagem quase cinematográfica, dramática como o título indica —, mas há em comum o formato de música instrumental com foco em guitarra. Não espantaria se músicas desses discos aparecessem no repertório junto a clássicos do Angra (banda que teve Kiko na formação entre as décadas de 1990 e 2010) e Megadeth (Marty poderá ser preso se não executar o solo de "Tornado of Souls"!!).
Convidado a dar spoilers do repertório, Friedman, com seu discurso polido e inglês de ótima dicção, desvia:
"Não vou revelar nenhum segredo ou surpresa, mas vou dizer uma coisa: já decidimos tudo o que vamos fazer. Fizemos os arranjos. Acho que todos ficarão muito surpresos. Claro, o show é do Kiko Loureiro — tem uma parte do show em que eu vou entrar e nós vamos levar isso para um lugar diferente. Vamos fazer coisas que nunca foram feitas antes em nenhuma das nossas carreiras musicais. As coisas vão se desenvolver organicamente e se transformar nesses novos conceitos. Nunca havíamos tocado juntos antes, somente uma vez no palco com o Megadeth, mas não conta muito quando comparado ao que vamos fazer."
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Na verdade, Kiko e Marty tocaram juntos duas vezes, ambas em 2023. Foi quando o americano aceitou subir ao palco junto de sua ex-banda — à época contando com o brasileiro — no Budokan Hall, conceituadíssima casa de eventos no Japão, e no Wacken Open Air, festival na Alemanha.
Uma informação de bastidores indica que Loureiro foi o responsável por sugerir ao vocalista e guitarrista Dave Mustaine, líder do Megadeth e pouco afeito a reconciliações, a convidar Friedman para tocar com ele em território japonês. Marty revela não saber disso, mas reflete:
"É bem possível. Não sei o que aconteceu para Dave me convidar, ele só me mandou um e-mail perguntando: 'você já tocou no Budokan?'. Eu disse que sim, ele mandou outro: 'gostaria de tocar de novo com a gente?'. E eu respondi: 'claro'. Era um sonho. Quando eu estava no Megadeth, não havia nada que eu quisesse mais do que tocar no Budokan. Dave Mustaine sentia o mesmo. Mas nunca havíamos tocado juntos lá. Quando me mudei para o Japão, toquei lá sete ou oito vezes, mas não ter tocado com o Megadeth lá era um daqueles sonhos não resolvidos. Se Kiko teve algo a ver com isso, sou ainda mais grato."
Relação de Marty Friedman e Kiko Loureiro 5x3u5o
Independentemente de Megadeth, a relação entre Marty Friedman e Kiko Loureiro é das melhores. O americano conta que, antes de o brasileiro entrar para o Megadeth, só o encontrou casualmente uma vez no Japão. Após ele ter se juntado ao grupo de thrash metal, em 2015, os dois começaram a se falar bastante por e-mail.
"Quando ele vinha ao Japão com o Megadeth, nos juntávamos para beber ou algo assim. Aconteceu várias vezes. Senti que ele era uma pessoa muito especial, amigável, inteligente e divertida. Gostávamos de conversar um com o outro porque temos experiências parecidas, mas nossa musicalidade é incrivelmente diferente. E simplesmente sentia que tínhamos algo que muitos outros músicos não têm."
O que, especificamente, seria "exclusivo" de Friedman e Loureiro? Ele explica:
"Ambos temos uma pegada étnica em nossas músicas. Ambos compartilhamos uma longa experiência em uma banda muito conhecida. Temos nossos próprios projetos e bandas que têm fãs muito dedicados. É incomum: temos coisas em comum, mas não são as mesmas coisas. De certa forma, podemos nos conectar. Lembro que quando conversávamos, não eram coisas bobas e estúpidas, mas inteligentes."
A amizade logo virou parceria, pois Kiko trouxe Marty para participar de Open Source (2020), seu quarto álbum solo. Os dois gravaram juntos a música "Imminent Threat", de grande repercussão, pois representava a união do então atual guitarrista do Megadeth e do ex mais famoso, responsável pelos discos de maior popularidade do grupo. Anos depois, naturalmente, surgiu a ideia para a turnê.
"Quando toquei no disco dele, fiquei muito impressionado. Na verdade, nunca havíamos tocado juntos no mesmo ambiente antes. Então, essa viagem ao Brasil será muito interessante, pois faremos muitas coisas juntos que provavelmente nunca foram feitas por ninguém. Estamos tentando expandir os limites da guitarra. Acho que é assim que nós dois crescemos em nossas carreiras: aceitando desafios malucos e tentando levar nossa música cada vez mais longe. Pessoas que estão nessa fase da carreira em que estamos tendem a relaxar e a viver de um ótimo álbum de décadas anteriores. Mas eu penso: 'esqueçam minhas coisas antigas'. Estou sempre tentando melhorar. Acho que o Kiko é assim também."
Lembranças do Rock in Rio 1991 3c245o
Muito antes de se tornar um artista consolidado, Marty Friedman fez sua estreia no Brasil. Com 28 anos de idade e nem um ano de Megadeth, o guitarrista teve de encarar a multidão do Rock in Rio 1991. Na mesma data, tocaram Guns N' Roses, Judas Priest, Queensrÿche, entre outros nomes de peso. Era a turnê de Rust in Peace (1990), álbum que faria crescer a popularidade do grupo de Dave Mustaine, à época completo por David Ellefson (baixo) e Nick Menza (bateria), este já falecido.
Friedman relembra:
"O Rock in Rio foi arrebatador, uma das maiores emoções da minha carreira toda por causa da quantidade de pessoas e da energia que elas emanavam. Sinto energia mesmo com 200 pessoas na plateia, mas aquela foi uma descarga de energia que eu nunca tinha sentido antes. Tornou muito divertido tocar guitarra, porque não usei minha própria energia, mas de todos — e ela simplesmente retorna."
Para o guitarrista, aquele show marcou sua "verdadeira entrada" para a banda, que já existia desde 1983 e tinha lançado três álbuns antes da chegada dele.
"Na época eu só estava na banda há um ano. Foi ali que senti: 'uau, estamos a caminho de fazer coisas incríveis'. Um grande começo para minha trajetória naquela banda. Também foi um grande o para o Megadeth. Abriu muitas portas para nós. Nunca tinha sentido esse tipo de apoio de uma plateia antes."
Come to Brazil 206v43
Com tantas coisas boas a se dizer sobre o Brasil, por que Marty Friedman não incluiu, também, shows solo nesta atual visita ao país? Por aqui, ele se apresenta com Kiko Loureiro, mas a partir de 10 de junho, o americano tocará com sua própria banda em Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Colômbia, Equador, México e Costa Rica.
A resposta é sincera — e, novamente, carregada de elogios:
"O Brasil simplesmente não funcionou logisticamente. As datas não deram certo. Queríamos muito fazer isso. E eu me senti péssimo por não ter adicionado o Brasil, mas foi simplesmente sorte. Recebi uma ligação do Kiko: 'quer fazer uma turnê pelo Brasil comigo?'. E eu disse: 'não é a minha banda, mas com certeza'. O resto dos países da América Latina é com a minha banda do Japão, a minha banda definitiva. A América do Sul tem uma importância muito profunda para a minha carreira e vida pessoal. Poderei tocar na casa do Astor Piazzolla na Argentina, gravar um videoclipe e um álbum ao vivo em Santiago, ir ao Peru pela segunda vez. É algo muito especial."
Kiko Loureiro e Marty Friedman no Brasil 6x1559
- 30/05 - Santo André/SP @ Santo Rock Bar - vendas no Bilheto
- 31/05 - Brasília/DF @ Toinha Brasil Show - vendas no Bilheto
- 01/06 - Goiânia/GO @ Bolshoi Pub - vendas no Baladapp
- 04/06 - Belo Horizonte/MG @ Mister Rock - vendas no Meaple
- 05/06 - Porto Alegre/RS @ Opinião - vendas no Sympla
- 06/06 - Rio de Janeiro/RJ @ Sacadura 154 - vendas no Show
- 07/06 - São Paulo/SP @ Tokio Marine Hall - vendas no Ticketmaster
- 08/06 - Curitiba/PR @ Ópera de Arame - vendas no Bilheto
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