Pedro Fernandes, ator PcD, avalia personagem em Dona de Mim: 'Abrir portas' 5v2319
Em entrevista à CARAS Brasil, o ator Pedro Fernandes, que está no ar na Globo como Peter em Dona de Mim, fala sobre representatividade PcD na televisão 2k1f1d
Pedro Fernandes (33) encara um novo desafio na carreira com Dona de Mim, atual novela das sete da Globo. No ar na telinha como Peter, o intérprete estreia em sua primeira novela com um papel que aborda a naturalização de corpos como o dele: de pessoas com deficiência. Em entrevista à CARAS Brasil, o ator PcD avalia o personagem em Dona de Mim: "Abrir portas", declara. 4z1e3q
Novos corpos em cena 325g6h
Pedro Fernandes está vivendo um marco na sua carreira e, talvez, também na dramaturgia brasileira. No ar como Peter em Dona de Mim, novela das sete da Globo criada por Rosane Svartman (55) com direção de Allan Fiterman (52), o ator dá vida a um personagem com deficiência que não gira em torno da superação ou da piedade, e sim da busca por sua autonomia.
Pedro reconhece o peso simbólico da escalação. Segundo o ator, estar em uma produção de alcance nacional com um texto sensível e direção atenta significa mais do que estar no elenco: é também estar no debate. "Meu personagem, Peter, mostra como a sociedade ainda enxerga esses corpos com muito capacitismo. Ele tem um pai e um irmão superprotetores, e sua trajetória na dramaturgia foca na busca pela autonomia e liberdade", explica o ator.
Para ele, essa representação marca uma nova fase, tanto na própria carreira quanto na forma como o audiovisual brasileiro trata corpos diversos. "Esse personagem traz à tona a importância da inclusão e da pluralidade. Espero que minha atuação inspire outros artistas e mostre que qualquer ator pode fazer qualquer tipo de personagem, basta termos oportunidade e visibilidade", defende.
A experiência de dividir a cena com uma amiga de longa data, com quem já havia atuado em Meu Corpo Está Aqui, também reforça a sensação de conquista coletiva. "Acho que nunca tivemos esse tipo de espaço na televisão. O audiovisual ainda está se abrindo, mesmo que lentamente, para os debates sobre sexualidade e deficiência com a naturalização que a gente merece", pontua.
Representação que educa 4vz5x
Pedro encara sua presença em cena como parte de um trabalho pedagógico. O simples fato de um personagem com deficiência existir sem ser definido apenas por isso já provoca deslocamentos no imaginário popular. "Levar esses temas para a dramaturgia é educativo. Eu, como artista com deficiência LGBTQIA+, acho importante me posicionar. Ainda existe uma infantilização do corpo com deficiência. As pessoas não enxergam nossa sexualidade, mas ela é parte da nossa saúde e do nosso bem-estar", reflete.
Ele reforça que a sexualidade não é um luxo ou tabu, mas parte essencial da existência. "Sexo é saúde, é qualidade de vida. E pessoas com deficiência também têm esse direito — claro, respeitando seus limites e condições. Quero que outras pessoas como eu se sintam representadas, confortáveis e entendam que também podem viver com dignidade, prazer e autoestima."
Esse compromisso se estende para fora das telas. No filme 90 Dias Tibet, escrito por Julia Spadaccini (44) e dirigido por Fellipe Barbosa (44), Pedro vive Kadu, um funcionário de um posto de ibilidade que ajuda a protagonista, interpretada por Benedita Casé (35), em seu processo de autodescoberta como pessoa com deficiência. "Esse filme é muito importante por ser feito por pessoas com deficiência e por naturalizar nossos corpos em diferentes espaços", diz.
Corpo cômico, corpo político 355m5y
Além do trabalho na TV e no cinema, Pedro também integra o Instituto da Alegria, iniciativa liderada por Doutor Daniel da Alegria. Desde 2023, ele participa de formações voltadas à palhaçaria e ao corpo cômico — espaços ainda raros para artistas com deficiência. "Aprendi muito nesse espaço, principalmente por ser uma área onde ainda temos pouquíssimas referências de palhaços com deficiência", destaca.
A presença no palco, inclusive como comediante, é outra forma de afirmar a potência artística dos corpos diversos. "É essencial reforçar a presença do corpo cômico como ferramenta artística, inclusive quando falamos de ibilidade. A cultura ível está caminhando, mesmo que lentamente."
Pedro acredita que ainda há um longo caminho quando se trata de ibilidade para quem está atrás das cortinas — ou seja, o artista. "Hoje temos leis voltadas à plateia, recursos de ibilidade para o público, o que é fundamental. Mas ainda precisamos debater a ibilidade do outro lado da cortina, ou seja, para o artista com deficiência."
Jornada de conquistas s588
Nascido em Petrópolis, na região serrana do Rio, Pedro reconhece que sair de uma cidade pequena e conseguir se firmar no mercado artístico da capital já é uma vitória. "A gente que é de cidade pequena fica muito preso ao próprio universo, à sua 'caixinha'. Então, sair dessa 'zona de conforto' foi fundamental", afirma.
A mudança para o Rio de Janeiro aconteceu em 2021, após ser aprovado no processo seletivo dos Doutores da Alegria. Desde então, vive sozinho com o apoio de uma rede de e. "Sou muito grato ao meu Orixá e às forças espirituais que me acompanham por me permitirem viver experiências significativas na minha trajetória", diz.
Pedro se emociona ao olhar para trás e perceber o quanto caminhou. "Nem todo artista com deficiência tem essa chance. Um artista petropolitano, sair de uma cidade pequena e conseguir viver da própria arte na capital por dois anos já é, para mim, o início de uma grande vitória", reconhece, enquanto espera um futuro promissor como artista.