Problema de gênero na empresa não se resolve tão fácil assim 1s1u11
Problemas de gênero que políticas de igualdade salarial e cotas não resolvem sozinhas 1ml70
Como a maioria de nós, cresci com uma certa cegueira que me impedia de perceber as nuanças de gênero que a sociedade nos impõe. Tudo parecia ser uma questão de mérito e recompensa, bastando apenas colocar esforço pessoal para conquistar sucesso! 573u4m
Para mim, se quisesse ser bem-sucedida em uma área ocupada majoritariamente por homens, bastaria entender como as coisas funcionam na cabeça deles e me comportar um pouco mais como eles e então eu poderia ser qualquer coisa e fazer o que quisesse.
Em 2012, comecei a trabalhar como estagiária de mesa de operações, setor do mercado financeiro onde ocorrem as transações de compra e venda de ações, títulos de renda fixa, derivativos, commodities e moedas. Perguntas muito diretas que me fizeram durante a entrevista me instigaram, como “Você se sentiria bem em trabalhar em um lugar onde todos podem te me mandar tomar no c* a qualquer momento">No setor financeiro, bancos e associações lançaram programas para aumentar o recrutamento de jovens mulheres e também para prepará-las para cargos de liderança, como o YouWin e o Dn’A Women.
Recentemente, tivemos também o maior envolvimento de lideranças políticas e corporativas na agenda de diversidade e inclusão, em que uma série de mudanças institucionais começa a vingar, como a aprovação no Senado do projeto de lei que fiscaliza a igualdade salarial e as novas regras da B3 para que empresas de capital aberto incluam pelo menos uma mulher e uma pessoa de grupos minorizados em seus conselhos de istração.
Todas essas medidas são urgentes e necessárias para começar, porém não suficientes para igualar as oportunidades diante do quadro real: os alicerces da disparidade de gênero são muito mais profundos do que as canetadas organizacionais alcançam.
Estudo da Harvard Business Review v601u
Um bom exemplo dessa profundidade é o estudo da Harvard Business Review sobre avaliações de desempenho anuais, que mostra que as mulheres são 1,4 vezes mais propensas a receber subjetivo negativo. Isso significa que, ao comparar uma profissional mulher a um homem no mesmo cargo, com o mesmo salário e nível educacional, as mulheres ainda têm maior chance de receber uma avaliação subjetiva desfavorável, pois é na subjetividade que mora o viés de gênero, por exemplo ter a percepção de que “João se sente mais à vontade do que Carol ao lidar com o cliente”.
A parte mais difícil do desafio não está no desenho institucional, mas sim na organização social, no modo de ver o mundo e o papel de homens e mulheres nele. Independente de quantas ondas de feminismo criarmos ou quantas políticas conseguirmos aprovar em sociedade ou corporações, se a mentalidade e a cultura das pessoas não mudarem no mesmo ritmo estaremos sempre enxugando gelo em relação à equidade de gênero.
(*) Itali Collini é economista, investidora anjo e diretora da Potencia Ventures.