Quintanilha: Chevrolet perde vendas, mas pode surpreender Volkswagen e Fiat 5o1u4t
Distância da única marca da GM para as líderes aumenta, mas a Chevrolet é a que está mais bem preparada para o futuro 5x4v42
A Chevrolet parece ter saído do páreo na disputa com a Volkswagen e a Fiat pela liderança do mercado brasileiro. Isso é preocupante? Nem tanto. Vou tentar explicar com dados o momento peculiar da Chevrolet – ou da General Motors, uma vez que a GM só comercializa uma de suas marcas no Brasil. 475d2v
Como a comparação é com a Fiat, faz mais sentido falar em Chevrolet; quando é com a Stellantis (dona da Fiat e outras), faz mais sentido falar em GM. O fechamento das vendas de abril mostra que a Chevrolet foi a única do top 3 a perder vendas (-12% em relação a março), enquanto a Volkswagen oscilou para cima (+0,8%) e a Fiat cresceu um pouco (+6,9).
Em apenas quatro meses, a Fiat já tem o dobro das vendas da Chevrolet: 153.494 contra 76.130. A Volks está no meio de ambas, com 111.130. Se voltarmos para o cenário pré-pandemia (2019), a situação era exatamente inversa. A Chevrolet liderava há vários anos, com grande sucesso do Onix, e a Fiat era apenas a terceira colocada.
Mas, de abril de 2019 a abril de 2025, as vendas da Chevrolet desabaram (-47,1%), enquanto a Fiat conseguiu incrível crescimento (+40,8%) e a Volkswagen teve uma ligeira queda (-3,5%). Esses dados foram publicados pelo consultor automotivo Marcelo Cavalcante de Lima no Linkedin.
Bem, diante dessa dramática troca de posição, é para deixar toda a governança da GM preocupada? Na minha visão, não. A perda de volume da GM no Brasil não aconteceu por rejeição aos produtos, mas sim por decisões de Detroit e/ou São Caetano do Sul, de paralisações na fábrica de Gravataí (RS). E também porque o foco da GM/Chevrolet mudou.
Agora permitam-me falar de GM, Stellantis e VW como grupos automotivos que precisam ter um olho no peixe (o mercado local) e outro no gato (as montadoras chinesas). Por mais que o imediatismo possa incomodar alguns executivos da GM, parece claro que a fabricante estadunidense pegou outra estrada no Brasil; a mesma que está sendo percorrida em alta velocidade pela BYD, para citar somente a mais agressiva das montadoras chinesas.
É uma estratégia diferente da Volkswagen, que tem foco total em derrotar a Fiat. Mas, ora, a Fiat não pode ser vista como uma empresa só. Embora seja a vaca leiteira da Stellantis, ela tem sua estratégia ligada ao futuro de outras marcas, como Jeep, Citroën, Peugeot, Ram e agora também a chinesa Leapmotor. Vai ter que equilibrar seis pratos ao mesmo tempo e o desempenho comercial da dupla sa, Citroën e Peugeot, mostra que isso não é fácil.
Recentemente o presidente da GM América do Sul, Santiago Chamorro, foi até a China e diretamente do Salão de Xangai se vestiu de “influencer” para mostrar no Linkedin alguns detalhes do Baojun Yep Plus, que chega ao Brasil rebatizado de Chevrolet Spark EUV. Um carro elétrico ível para começar a incomodar a BYD, para não deixar o futuro mercado de EVs de lambuja para os chineses. Mais acima na faixa de preços, ainda este ano, chegará o Chevrolet Captiva EV, também elétrico.
Ambos são frutos da parceria da GM com a Wuling dentro do mega-acordo que envolve também a SAIC na t-venture SGMW, reunindo as três fabricantes. A Fiat não vai se preocupar com isso; vai apostar em modelos híbridos leves (MHEV) e rapidamente vai liderar também o segmento de híbridos não plugáveis, que exigem pouco investimento.
A Volks nem cogita um futuro elétrico no Brasil. Suas três tentativas no segmento, por enquanto, foram pífias, com um Golf GTE caríssimo e fora de linha, com um ID.4 quase inível por e com o ícone ID. Buzz mais inível ainda. São carros maravilhosos, mas para milionários, no Brasil.
Quanto à GM, não se apoia apenas na China. Ela traz também dois ótimos carros elétricos do México, um país com o qual o Brasil tem livre comércio. Já experimentei a dupla Blazer EV e Equinox EV. Posso afirmar que a plataforma elétrica Ultium é uma das melhores do mundo, por oferecer muita potência e grande alcance – características essenciais para usuários brasileiros.
– Ah, mas esse futuro nunca vai chegar – dirão os céticos. Eu não teria tanta certeza. Mesmo na Europa, a competição com as marcas chinesas já está fazendo a indústria local melhorar seus EVs, as vendas do segmento voltaram a crescer 23,9% e várias montadoras têm projetos de carros urbanos elétricos íveis.
Ainda que no Brasil o segmento de EVs demore mais tempo para se firmar, ele vai acabar criando dois nichos muito poderosos. Primeiro o de veículos urbanos, que vai crescer muito com a produção do BYD Dolphin Mini na Bahia. Em algum momento ele virá. Esses carros serão adotados por motoristas de aplicativos, por jovens com outra mentalidade sobre o uso do automóvel e por quem roda principalmente na cidade.
Na outra ponta, carros de alta tecnologia e com baterias mais poderosas vão movimentar um volume considerável de dinheiro, atraindo famílias que compram carros superiores, podendo ser BEVs ou PHEVs até que muitos descubram que os elétricos puros são muito melhores do que os híbridos plug-in em quase tudo, incluindo a manutenção e oferta de carregadores rápidos nas estradas.
Para além disso, enquanto a Chevrolet coloca sua marca neste novo mundo com quatro ou cinco carros (a picape Silverado EV um dia virá), a Volkswagen vai jogar suas fichas em carros que a Fiat já fez há 10 anos (como a picape Toro), esticar até onde der a vida da Saveiro (projeto de 2009), e a Fiat aparentemente vai focar nos híbridos leves mesmo para sua grande renovação de linha (que já começou na Europa com o Grande Panda).
Quem vai para a briga dos carros que vão atravessar o Século 21 será a Leapmotor. Quem sabe a Fiat não use a plataforma do Leap T03 para um compacto elétrico com o seu primoroso toque italiano? Seria um desafio, mas seria importante para a marca mais vendida do Brasil.
Com carros elétricos de alto valor vindos do México e carros elétricos íveis vindos da China, a GM pode posicionar a Chevrolet como a marca do futuro no Brasil, mas um futuro que já chegou. Ao mesmo tempo, não custa nada à General Motors trazer da China a tecnologia MHEV que já equipa o Chevrolet Monza chinês e colocá-lo em sua linha de produtos brasileiros para disputar mercado com os modelos da Fiat.
Por tudo isso, considero que a Chevrolet pode estar fora do páreo neste momento, mas certamente é a marcade volume que está mais preparada para o futuro dos carros zero emissão de carbono, um tema que vai se tornar mais popular à medida que a urgência climática mostrar que não é brincadeira de cientista. É fato. E o público vai querer estar do lado das marcas que entenderem isso.
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