SOMOS NÓS: “O gênero da pessoa nunca fez e não faz diferença para mim”, diz pansexual 5g181p
Criado na zona rural do interior do Ceará, Samuel Pereira, 22, é uma pessoa pansexual e não-binária 3tf6f
Minha história é meio complicada. Hoje em dia, eu olho para trás e vejo o quanto eu sofri. Eu moro no Ceará. Cresci e nasci aqui, em uma cidade bem pequena chamada Mombaça, onde o preconceito é presente e muito forte. 5mm46
Eu fui uma criança sem referências. Não sabia o que era ser uma pessoa LGBTQIA+. Nunca tinha visto um cara gay ou uma pessoa homossexual até uns 14, 15 anos. Até essa época, na minha cabeça isso nem existia, porque além de ter sido criado em Mombaça, fui criado no meio rural. O interior do interior de uma cidade pequena.
Até o 5º ano do ensino fundamental, minhas aulas aconteciam todas no sítio. Aquelas escolas rurais, sabe? Depois disso, eu precisei ir para a cidade para continuar os estudos. Nessa época, me mudei para a casa da minha tia e foi quando eu me apaixonei pela primeira vez, por uma menina.
Aquilo, para mim, era uma via de mão única. Todas minhas referências giravam em torno desse tipo de relação. Foi uma coisa inocente e não correspondida. Era uma coisa de olhar de longe, irar, de ficar observando o sorriso, a maneira como ela andava. Junto disso, comecei a sofrer bullying e ela foi muito importante durante esse processo.
Esses episódios de bullying aconteciam porque eu era muito calado. Desde pequeno eu já sentia que era diferente dos outros meninos. Eu não tinha a mesma vontade de jogar bola, de ficar paquerando. Então eu sofria muito comigo e com meu entorno e fui me fechando cada vez mais.
Quando eu saí do sítio e fui estudar na cidade, eu prometi para mim mesmo que ia me tornar mais comunicativo, fazer mais amizades, mas acabou acontecendo totalmente o contrário, porque eu percebi que as pessoas da cidade eram as mesmas pessoas do interior do interior. Lembro de uma situação que até hoje mexe muito comigo quando lembro.
Naquela época, o uso de uniforme era obrigatório na escola que eu estudava. Minha família me comprou um e a calça acabou vindo muito justa, não sei porquê. Então, teve um dia que eu estava indo para a escola e, enquanto ava em frente a uma construção, me jogaram um pedaço de concreto e gritaram: ‘Anda direito’. Quando eu cheguei na escola, a primeira coisa que eu fiz foi entrar no banheiro e chorar.
Eu não entendi o motivo daquilo. Eu não tinha feito nada. Não tinha gritado, xingado. Só estava andando na rua e indo para a escola. Essa situação permaneceu na minha cabeça durante muito tempo. Eu acabei não falando para minha família, porque tinha receio do que iriam pensar sobre mim. Depois disso, acabei desenvolvendo uma depressão. Foi a cereja do bolo, sabe">Quando me assumi para minha mãe, foi inesquecível. Minha irmã tinha achado uma saia xadrez no guarda-roupa dela e eu resolvi fazer umas fotos usando a saia. Mostrei as fotos para minha mãe e disse: ‘Mãe, vou postar essas fotos, o que você acha?’ e ela sem rodeios respondeu: ‘Tá lindo, pode postar’, com um sorriso no rosto. Na hora, só consegui dar um abraço nela, porque senti que minhas diferenças foram acolhidas. Foi uma sensação de alívio muito grande.