Presidente da LaLiga pede mudança na lei da Espanha para punir racismo e apoia perda de pontos 3a102y
Javier Tebas concedeu entrevista coletiva nesta quinta-feira para comentar os ataques racistas sofridos por Vinícius Júnior, do Real Madrid, no futebol espanhol 3o1k3c
Javier Tebas, presidente da LaLiga (organizadora do Campeonato Espanhol), concedeu entrevista coletiva nesta quinta-feira para falar sobre os ataques racistas contra o brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid. O mandatário pede mudanças na lei da Espanha para que a competição tenha competência para punir casos de racismo e defende a perda de pontos como forma de punição aos clubes. 1x292t
Questionado pelo Estadão sobre como a LaLiga pretende agir na relação com o Governo da Espanha para evitar novos casos de racismo, Tebas afirmou que a liga emitirá um comunicado nesta sexta-feira pedindo aos partidos políticos e aos membros do Congresso uma "modificação urgente" na Lei 19/2007, que versa sobre crimes de ódio e discriminação", pedindo competência para agir e punir infrações por racismo, homofobia e xenofobia.
Atualmente, no âmbito do futebol, apenas a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) está apta para sancionar os clubes — a entidade puniu o Valencia em 45 mil euros e com o fechamento do setor de onde saíram os insultos a Vini Jr. no último domingo. O presidente da LaLiga destacou ainda que a Procuradoria-Geral arquivou outros casos de racismo ocorridos no futebol espanhol, e que demorou três anos desde a primeira denúncia para que o Ministério Público tomasse providências. Nesta quinta, a Justiça determinou que quatro torcedores que penduraram boneco com camisa de Vini Jr. em ponte de Madri, simulando um enforcamento, em janeiro, sejam proibidos de ir a estádios vinculados à LaLiga.
"Queremos provar que temos competência para resolver esse problema, mas fica difícil terminar com esses insultos. Somos responsáveis pelo torcedor desde que ele sai de casa para ver o jogo até o estádio. Se ele grita coisas racistas, devemos intervir", diz Tebas.
Questionado sobre a possibilidade de punições mais severas, o presidente da LaLiga afirmou que vê com bons olhos a introdução da perda de pontos aos clubes envolvidos em casos de racismo. Ele relembra que, atualmente, a competição espanhola só pode aplicar a medida no caso de inscrição irregular de atletas.
"Seria bom pensar na perda de pontos (para o racismo)? Creio que sim. Isso seria bom poder introduzir. Com o regime atual de sanções, queremos mais competências para nós. Temos que pensar no futuro. Contra o racismo é fundamental lutar todo dia.
Tebas disse, ainda, que "estaria maluco" se não estivesse preocupado com a imagem que a Espanha deixou para o mundo após mais um caso de racismo contra Vinícius Jr., principal jogador do Brasil atuando na Europa. Ele afirma que a Espanha não é racista e irá trabalhar para recuperar a reputação do país e torce para Vini Jr. seguir jogando no futebol espanhol, apesar dos seguidos ataques.
"Eu entendo perfeitamente que ele esteja frustrado. E ele não entende das competências", disse Tebas, em referência à discussão que teve com Vini Jr. por meio das redes sociais após o jogo de domingo, quando o brasileiro pediu mais ação da LaLiga. "Ele está recebendo esses insultos porque é um grande jogador. Se não fosse uma estrela, talvez não fosse a mesma coisa. Mas não é normal ataca-lo como está acontecendo todos os dias", afirmou.
Entenda o caso 6v4j2n
Vini Jr. foi chamado de "mono" ("macaco", em Espanhol) pela torcida do Valencia aos 27 minutos do segundo tempo da partida realizada no domingo. O brasileiro reclamou com o árbitro Ricardo de Burgos Bengoechea e o jogo foi paralisado por nove minutos. O confronto seguiu com o brasileiro revoltado e desestabilizado pelos rivais em campo.
Na reta final da partida, Vini se desentendeu com o goleiro Giorgi Mamardashvili e acabou expulso por acertar a mão no rosto do atacante Hugo Duro, mesmo tendo levado um mata-leão do jogador adversário, que não foi focado pelo VAR. Ao deixar o gramado, o atacante fez um "dois" com os dedos, em referência à luta do time contra a queda para a Série B.
O incidente teve repercussão mundial após Vini Jr. criticar a LaLiga (organizadora do Campeonato Espanhol) pela falta de ações no combate ao racismo. O episódio gerou revolta no Real Madrid, cujo técnico Carlo Ancelotti dedicou sua entrevista coletiva inteira para falar sobre o caso de racismo ao fim daquela partida. A polêmica aumentou quando o presidente da LaLiga, Javier Tebas, criticou Vinicius por ter reclamado da postura da entidade diante dos casos de racismo.
Vini Jr. é sistematicamente perseguido por jogadores e torcedores adversário há pelo menos duas temporadas. Recentemente, o brasileiro depôs na Justiça espanhola no âmbito do caso em que foi xingado de "macaco" por um torcedor do Mallorca em fevereiro deste ano. "Não foi a primeira vez nem a segunda nem a terceira. O racismo é o normal na LaLiga. A competição acha normal, a federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas", afirmou o atleta em seu perfil no Twitter.
O brasileiro ainda alertou para a imagem que a Espanha a para o exterior ao permitir que tais ataques aconteçam na maior competição esportiva da nação. "Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas."
