“Ser anão é só um detalhe”, diz influenciador digital LGBT
Matteus Baptistella, criador do perfil @VireiAdulto, comemora mais de 4,5 milhões de seguidores, compartilhando receitas.
Na descrição do perfil no Instagram o aviso é direto: “ser anão é só um detalhe”. E é mesmo. Quem acompanha o perfil “Virei Adulto”, do Matteus Baptistella, de 30 anos, se perde rodando o feed com receitas rápidas e suculentas. Todo o resto vira detalhe. Economista de formação, largou o mundo corporativo, onde era bem sucedido, para se dedicar à criação de conteúdo para internet. E deu certo! No TikTok são 4,5 milhões de seguidores e outro 1,1 milhão no Instagram. Em entrevista ao Terra, o “anão mais legal do Brasil”, como se descreve, fala sobre carreira, saúde mental e como suas características pessoais (ser uma pessoa com deficiência e LGBT) influenciam sua vida pública.
Terra - Como você começou a produzir conteúdo, sobretudo priorizando que aborda outras temas, que não o nanismo?
Matteus - Sou de Pirajuí, uma cidade do interior de São Paulo que tem cerca de 20 mil habitantes. Tenho sete irmãos e fui o único a nascer com nanismo. Tivemos o diagnóstico quando eu tinha 4 anos de idade. Na época, minha mãe fazia até rifa para conseguir pagar as consultas médicas e o tratamento. Eu também era a única pessoa com nanismo na cidade, então quando saía, as pessoas queriam até colocar a mão em mim, ver se eu era de verdade. Mas minha mãe sempre me criou para ser independente e fazer o que eu quisesse. Então fui estudar em Bauru aos 18 anos. ei a morar sozinho e na época criei um blog - que já se chamava Virei Adulto - para compartilhar as coisas que eu ia aprendendo a fazer em casa. Depois migrei para o Instagram, mas não revelava que eu tinha nanismo, só me assumi “baixinho” anos depois. Mas daí eu já tinha um público que seguia e gostava do conteúdo.
Para você, precisou também ser um processo de aceitação">Sou economista de formação, e trabalhei numa empresa durante oito anos. Sai de lá, num cargo alto, como chefe de setor. Eu tive a chance de mostrar pro mundo que eu tinha capacidade de ter uma carreira bem sucedida. Essa, infelizmente, não é a realidade da maioria. Quando decidi sair desse emprego, há dois anos, eu compartilhava mais conteúdo “lifestyle”. Looks, lugares que eu visitava e receitas nos stories. As pessoas começaram a pedir as receitas,então comecei a fazer vídeos para o feed. Na pandemia, entrei pro TikTok com as receitas e o conteúdo viralizou, tenho 4,5 milhões de seguidores na plataforma. Então isso acabou sendo o conteúdo principal agora.
Como você escolhe as receitas?
Eu só faço receita fácil e barata porque eu quero que as pessoas reproduzam em casa. Tenho até medo de fazer curso e virar chef de cozinha e perder essa espontaneidade. Então estou sempre sorrindo e cozinhando com ingredientes que as pessoas tem em casa. Não gosto de nada do tipo “vamos fazer uma redução e blábláblá”. As pessoas que cozinham em casa não querem saber o que é uma redução. Elas querem algo simples.
Com este número expressivo de seguidores, você se considera um sucesso?
Sim. O mais legal é que as pessoas esquecem que sou PCD. Elas esquecem do meu tamanho e prestam a atenção no meu conteúdo. Acho que é isso que a gente deveria desejar para todas as pessoas com algum recorte de diversidade. Claro que conseguir isso me custa muita coisa, mas considero positivo.
Te custa o que, por exemplo?
Eu não me sinto preparado para entrar em polêmicas. Nesse ano de eleição,por exemplo, eu queria e precisava muito ter me posicionado, mas eu não estava emocionalmente preparado para ligar com uma possível onda de ódio da internet. Eu fiquei doente e não compartilhei nada nas minhas redes, porque tento levar como um trabalho mesmo, não misturo a minha vida pessoal. Eu tive que fazer um vídeo sobre minha orientação sexual, mas no geral, são temas que prefiro não abordar. Eu já carrego o preconceito, porque as pessoas me julgam o tempo todo por causa do meu tamanho. Então eu prefiro evitar.
E por que você achou importante se posicionar sobre sua sexualidade?
As pessoas já perguntavam demais. Quando fiz o vídeo em junho, tive 3 milhões de visualizações. Por algum motivo, a sexualidade dos outros é importante para as pessoas. Como não tenho mais vergonha do meu tamanho, achei que seria importante falar sobre isso também. Esse amor próprio foi uma construção.
E mudou alguma coisa na sua audiência depois que você se assumiu publicamente?
Ganhei até mais seguidores. Dos 5 mil comentários, três foram mensagens de apoio, e isso foi bem legal. Antes eu recebia muita cantada de homens e mulheres. Agora mais de homens. É muito louco porque mandam até “nudes”. Eu acho ruim me tratarem como feitiche, mas em casos em que me sinto confortável, não vejo problema em topar.