Em meio à rotina intensa de trabalho, projeto defende conscientização para retomada do bem-estar 264d27
Jornalista fundou Desacelera SP para ajudar pessoas e empresas a saírem do “automático” 4jz5l
A agitada rotina da maior cidade da América Latina levou a jornalista Michelle Prazeres a criar o projeto Desacelera SP. Mudanças de estilo de vida e uma nova maneira de lidar com o tempo são exemplos de medidas que a fundadora da plataforma busca compartilhar para que as pessoas saiam do “automático” e reencontrem o bem-estar. 1a4co
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Em conversa com o Terra, a comunicadora falou sobre problemas, soluções e explicou a maneira com que a iniciativa lida com o mundo profissional e pessoal. Para ela, a aceleração das grandes cidades é uma questão coletiva, e não individual.
“Comecei a entender que a aceleração não é só uma percepção das pessoas individualmente. Ela é uma condição coletiva. Quando você vive numa cultura acelerada, você tende a responder a essa aceleração, porque você está no automático”, contou Prazeres.
Por isso, segundo a jornalista, apenas medidas como terapia, skin care e meditação não são suficientes. Essas ações devem ser tomadas junto às iniciativas e mudanças de pensamentos comuns, como na maneira em que a sociedade vê o tempo.
“A cultura da competitividade, da produtividade, do ponto de vista societário, são grandes problemas. [...] O discurso vigente faz a gente pensar nas soluções também no nível individual, que é a pessoa se cuidar, fazer skin care, meditação… tudo isso é muito importante. Fazer terapia. E seria muito importante que tivesse o para todo mundo. Mas, quando a gente prescreve isso, sem cuidar do organizacional, do interpessoal e do social, a gente está sendo mais violento com quem não pode”, explicou.
Ao apontar problemas e soluções, a jornalista reforça que é importante o descanso ser feito com pensamento no bem-estar, e não apenas como uma forma de retomar a produtividade.
“E a gente não precisa pausar para ser mais produtivo depois, a gente precisa pausar porque a gente é ser humano”, contou Prazeres.
Início do Desacelera SP 3wc3t
O pontapé inicial para a idealização do Desacelera SP surgiu com a gravidez de Prazeres. Na época, a jornalista dedicava seu tempo a três empregos, estudos e às pesquisas. Com a exaustão da rotina e a vontade de ar pela gestação sem empecilhos e com segurança, ela decidiu que era possível “viver com o suficiente”
“A gente começou o Desacelera SP com um guia para as pessoas desacelerarem na cidade, de 2015 para 2016. E aí, isso foi muito biográfico, a partir de um momento da vida que eu estava atravessando e eu pensei, bom, eu sou nordestina em São Paulo, sempre estranhei a pressa do São Paulo. E falei: ‘Pode ter outras pessoas que, assim como eu, estranham a aceleração dessa cidade. E aí, eu criei um guia para as pessoas desacelerarem aqui”, começou a contar a fundadora do projeto.
Prazeres, no entanto, ouviu de algumas pessoas que não era possível alcançar a desejada desaceleração em uma cidade como São Paulo. A jornalista, então, refletiu a situação e entendeu que parte do discurso de bem-estar brasileiro estava sendo importado de países com realidades distintas.
“As pessoas falavam que não conseguiam desacelerar numa cidade que não nos autoriza a desacelerar. E aí, eu comecei a entender que tinham aspectos relacionados ao bem-estar, ao cuidado à saúde mental e ao desacelerar que estavam relacionados a um discurso que vem de um outro lugar. Toda noção de bem-estar, cuidado e saúde mental que a gente tem é importada dos Estados Unidos e da Europa, que são contextos onde não existe a desigualdade que existe aqui no Brasil”, relembrou.
No começo da iniciativa, Prazeres visitava locais de trabalho e estudo para compartilhar suas ideias para a desaceleração. Um dos pontos importantes para o desenvolvimento do projeto, porém, foi a realização do Dia Sem Pressa, que reuniu mais de 1,5 mil pessoas em 2018. Poucos anos depois, em 2023, o projeto cresceu e foi inaugurado o Instituto Desacelera SP.
Todo esse processo, porém, foi feito com desconfiança e julgamento de terceiros: “Com a minha pesquisa, enfrentei até um certo preconceito, sabe, num país como o Brasil, em que ser devagar é visto como preguiçoso. E aí eu tenho que ficar explicando: ‘Ó, não é sobre ser devagar’. É porque o mundo está tão exacerbadamente acelerado que tem que ter alguém para dizer: ‘Gente, espera, isso daqui é urgente mesmo? Tem que ser agora">“O que a gente faz são atividades de convivência, experiência e consciência dentro das empresas que querem começar a construir mudanças culturais. Vamos às empresas, conversamos com as pessoas e, eventualmente, trabalhamos com lideranças, para que essas lideranças se sensibilizem e para que as transformações culturais possam acontecer. A gente realiza desde, pontualmente, uma palestra até um workshop, uma consultoria. A partir disso a gente constrói soluções de cuidado, bem-estar e saúde mental apropriadas para aquele contexto, e na paralela, a gente faz um trabalho formativo de conscientização das lideranças para que as pessoas possam ser autorizadas a desfrutar disso que agora existe lá”, completou.