Líderes mundiais pedem cautela após ataque contra Irã m3j16
EUA afirmam que Israel agiu unilateralmente. ONU alerta para risco de liberações radioativas, expressando preocupação com esforços anti-proliferação nuclear.O ataque de Israel contra o Irã gerou uma onda de reações de líderes políticos ao redor do mundo, que, em sua maioria, pediram cautela nesta sexta-feira (13/06) e defenderam uma desescalada das tensões. O bombardeio contra a infraestrutura nuclear do Irã e altos comandantes militares segue o fracasso de negociações entre Teerã e Washington, levantando preocupações quanto à paz e à estabilidade no Oriente Médio. 3m1x2z
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o ataque contra o Irã foi "excelente" e que "há muito mais por vir", durante entrevista à rede de TV americana ABC News
"Dois meses atrás, eu dei ao Irã um ultimato de 60 dias para 'fechar negócio'. Eles deveriam ter fechado. Hoje é o dia 61. Eu disse a eles o que fazer, mas eles simplesmente não o fizeram. Agora talvez eles tenham uma segunda chance", publicou em sua rede social.
Mais cedo, Trump disse à Fox News que "o Irã não pode ter uma bomba nuclear e esperamos voltar à mesa de negociações", citando as negociações que estavam em curso antes da ofensiva.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, negou envolvimento dos EUA no ataque, afirmando que Israel tomou "medidas unilaterais" contra o Irã. "Nós não estamos envolvidos em ataques contra o Irã, e nossa principal prioridade é proteger as forças americanas na região," disse
Na véspera do ataque, Trump alertara para possíveis ataques pelo seu país ou pelo governo israelense, caso as negociações não resultassem no desarmamento nuclear iraniano. Funcionários do governo americano considerados não essenciais já tinham sido orientados a deixar a região.
O ataque veio em resposta ao rápido avanço do programa nuclear do Irã, franco inimigo de Israel desde a Revolução Islâmica de 1979. Há anos, Israel afirma que não permitirá que o rival desenvolva armas atômicas.
"Nós pedimos que ambos os lados se abstenham de medidas que possam levar a uma a uma nova escalada e desestabilizar toda a região", disse o chanceler federal da Alemanha, Friederich Merz.
Já Mark Rutte, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), pediu que os EUA e outros aliados colaborem com os esforços para reduzir a tensão. Enquanto isso, a chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas, chamou a situação no Oriente Médio de perigosa, afirmando que "a diplomacia permanece o melhor caminho adiante."
Rápida escalada
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), censurara na quinta-feira o Irã pela primeira vez em 20 anos por descumprir acordadas obrigações de não proliferação nuclear. Em reação, o Irã desafiou a agência ao anunciar o aumento da sua produção de urânio enriquecido.
"Temos expressado repetidamente nossas sérias preocupações com relação ao programa nuclear do Irã, principalmente na resolução recentemente adotada pela AIEA", disse, por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot. "Reafirmamos o direito de Israel de se defender contra qualquer ataque."
Já China, que mantém uma parceria estratégica, porém moderada, com o Irã, destacou a violação da soberania, da segurança e da integridade iranianas. "A China está disposta a desempenhar um papel construtivo para amenizar a situação," afirmou o porta-voz da diplomacia chinesa, Lin Jian.
Apesar dos pedidos por cautela, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, alertou para a possibilidade de mais ataques pouco após o anúncio do primeiro bombardeio, afirmando que o país continuará a eliminar ameaças.
No início de junho, um relatório confidencial da AIEA afirmouque o Irã quase dobrara a sua produção de urânio altamente enriquecido nos três meses anteriores. Teerã possui agora quase 409 quilos de urânio com grau de pureza de 60% - um aumento de 133,8 quilos em relação à última avaliação trimestral da AIEA, de fevereiro.
Impactos de curto e longo prazo
O diretor da AIEA, Rafael Mariano Grossi, considerou o ataque de Israel "profundamente preocupante", apontando ao risco de "liberações radioativas com graves consequências" para as pessoas e o meio ambiente dentro e fora do Irã. "Afirmei em repetidas ocasiões que instalações nucleares jamais devem ser atacadas, independentemente do contexto ou das circunstâncias", disse.
"Ataques como este têm sérias implicações para a segurança nuclear, a proteção e as salvaguardas, bem como para a paz e a segurança regionais e internacionais", disse ele em nota. "Peço a todas as partes que exerçam o máximo de contenção para evitar uma nova escalada."
O diretor-geral da AIEA expressou ainda sua convicção de que o único caminho sustentável, tanto para Israel quanto para o Irã, e para a comunidade internacional, é baseado no diálogo para "garantir a paz, a estabilidade e a cooperação". Nesse sentido, declarou que sua agência está em contato com as autoridades de segurança nuclear do Irã para determinar a situação das instalações nucleares atacadas e avaliar qualquer possível impacto na segurança nuclear.
Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou particular preocupação com o estado das negociações entre Irã e EUA.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificou a situação com "profundamente alarmantes". " A Europa apela a todas as partes para que deem provas da máxima contenção, reduzam imediatamente a escalada e se abstenham de retaliações. Uma resolução diplomática é agora mais urgente do que nunca para a estabilidade da região e a segurança mundial", afirmou.
O presidente francês, Emmanuel Macron, apelou "a todas as partes que exerçam a máxima contenção e reduzam a tensão" e "evitem colocar em risco a estabilidade de toda a região", em publicação no X. "A França reafirma o direito de Israel de se defender e garantir sua segurança", afirmou.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que o governo pediu a "todas as partes que recuem e reduzam as tensões com urgência".
"A escalada não serve a ninguém na região. A estabilidade no Oriente Médio deve ser a prioridade e estamos envolvendo os parceiros com esse fim. Agora é a hora de moderação, calma e retorno à diplomacia".
O ministro das Relações Exteriores alemão, Johann Wadephul, evitou dizer se os ataques terão consequências para as exportações de armas da Alemanha para Israel.
Durante uma visita ao Cairo, o diplomata disse que o Conselho Federal de Segurança levaria algum tempo para discutir a questão.
A Rússia, que há três anos vem conduzindo uma guerra na Ucrânia, disse estar preocupada e condenar a escalada das tensões, disse o porta-voz Dmitri Peskov às agências de notícias estatais, chamando os ataques de "inaceitáveis" e "sem provocação".
Mediador das conversas, Omã chamou o ataque de uma "perigosa e imprudente" violação da lei internacional, pedindo uma reação da firme e inequívoca dos governos. Já a Turquia acusou Israel de não desejar uma resolução pela via diplomática.
ht/cn (Reuters, EFE, AP)