Trump tenta pressionar presidente da África do Sul com suposto 'genocídio' de agricultores brancos 69g63
Donald Trump exibiu nesta quarta-feira (21), diante do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, vídeos que, segundo ele, sustentam as acusações feitas pelos Estados Unidos de que agricultores brancos sul-africanos estariam sendo vítimas de "genocídio". Desde que voltou à presidência norte-americana, Trump tem feito da África do Sul um de seus alvos preferenciais, acusando o país de praticar discriminação racial contra a minoria branca descendente dos primeiros colonizadores europeus. 32546o
Donald Trump exibiu nesta quarta-feira (21), diante do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, vídeos que, segundo ele, sustentam as acusações feitas pelos Estados Unidos de que agricultores brancos sul-africanos estariam sendo vítimas de "genocídio". Desde que voltou à presidência norte-americana, Trump tem feito da África do Sul um de seus alvos preferenciais, acusando o país de praticar discriminação racial contra a minoria branca descendente dos primeiros colonizadores europeus. 2dt1d
O presidente norte-americano afirma — sem apresentar provas concretas — que brancos estariam sendo vítimas de um "genocídio" no país que viveu décadas sob o regime do apartheid.
Trump já ameaçou boicotar o primeiro encontro do G20 em solo africano, previsto para novembro em Joanesburgo, e expulsou o embaixador sul-africano de Washington em março.
Além dessa polêmica, o governo Trump está irritado com Pretória devido à queixa de genocídio apresentada pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ).
Por sua vez, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, sentado ao lado de Donald Trump na Casa Branca, fez um apelo nesta quarta-feira (21) para "recomeçar do zero" as relações entre os dois países, que vêm se mostrando bastante tensas desde o retorno do republicano ao poder.
"Estou aqui, principalmente, para redefinir as relações entre os Estados Unidos e a África do Sul", declarou o líder sul-africano, destacando especialmente a área econômica.
Instrumentalização da luta contra o apartheid 202n2m
O clima era relativamente descontraído no Salão Oval da Casa Branca quando, de repente, o presidente norte-americano pediu que as luzes fossem apagadas para que os vídeos fossem exibidos em uma tela.
Em um dos vídeos, Julius Malema — líder de um partido de oposição de esquerda radical da África do Sul, que obteve 9,5% dos votos nas eleições do ano ado — entoa o canto "Kill the Boer" ("Mate o fazendeiro"), uma música herdada da luta contra o apartheid, antigo regime de supremacia branca.
Os Boers são agricultores descendentes dos primeiros colonos europeus. A canção é bastante criticada na África do Sul, especialmente pelo partido de centro-direita Aliança Democrática, que faz parte da coalizão de governo e pede sua proibição.
Trump e Ramaphosa, acompanhados de ministros e assessores — entre eles Elon Musk, aliado próximo do ex-presidente republicano — assistiram aos vídeos em um clima que foi ficando cada vez mais tenso, com o som alto contribuindo para o desconforto.
"Eles estão sendo mortos" 2i1z4k
Em seguida, foi exibido outro vídeo, mostrando dezenas de carros nos quais estariam, segundo Trump, "famílias inteiras" de agricultores brancos fugindo de suas terras. "Eles estão sendo mortos", afirmou o presidente norte-americano.
Com isso, Washington voltou a acusar o governo sul-africano de "genocídio" contra agricultores brancos, após ter recebido, dias antes, alguns afrikaners [sul-africanos brancos de origem holandesa, sa, alemã ou escandinava] considerados "refugiados" nos Estados Unidos.
"Em geral, são fazendeiros brancos fugindo da África do Sul, e isso é algo muito triste de se ver. Espero que possamos ter uma explicação sobre isso, porque sei que não é o que você quer", declarou Trump.
O governo sul-africano rejeita com firmeza essas acusações. Ramaphosa respondeu: "Não, ninguém pode simplesmente tomar as terras de outros".
Manipulação e desinformação 325c1n
A chegada, em 12 de maio, de cerca de 50 membros da minoria afrikaner aos Estados Unidos — após Trump incentivá-los a deixar a África do Sul e buscar refúgio no país — foi muito mal recebida por Pretória.
"Se esse programa de reassentamento continuar, a África do Sul irá se opor veementemente", alertou o porta-voz da presidência sul-africana, Vincent Magwenya. "Será difícil para o governo Trump sustentar a ideia de um suposto 'genocídio' na África do Sul, pois é absolutamente impossível que eles não saibam que essa narrativa é falsa", acrescentou.
A mão de Elon Musk? j581v
Ainda assim, a istração Trump mantém sua posição. Questionado sobre o tema na terça-feira, durante audiência no Comitê de Relações Exteriores do Senado, o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio afirmou que "as 49 pessoas que chegaram se sentiam claramente perseguidas".
"Vivem em um país onde fazendas e terras estão sendo confiscadas com base em critérios raciais", respondeu Rubio a um senador. "Vocês simplesmente não gostam do fato de que eles são brancos", acusou o secretário, refletindo o tom inflamado do debate, marcado por trocas de acusações de racismo de ambos os lados.
Asilo apenas para brancos 4l112e
A acolhida dos afrikaners chama ainda mais atenção diante do fato de que a istração Trump praticamente suspendeu a entrada de refugiados e requerentes de asilo nos Estados Unidos, como parte de sua política migratória mais rígida.
Apenas 7,3% da população sul-africana é branca, mas essa minoria ainda detém a maior parte das terras agrícolas, de acordo com dados oficiais.
Foi justamente dessa parcela da população que saíram muitos dos líderes políticos responsáveis por institucionalizar o apartheid — regime de segregação racial que, entre 1948 e o início dos anos 1990, retirou da maioria negra quase todos os seus direitos.
Durante a visita, a prioridade sul-africana será manter os laços comerciais com os Estados Unidos frente às ameaças tarifárias, a fim de proteger suas exportações, segundo Vincent Magwenya.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial da África do Sul, atrás apenas da China.
(Com AFP)