Presidente do Paraguai afirma que espionagem brasileira 'abre velhas feridas' 5j6e5l
Em entrevista a uma rádio argentina, Santiago Peña falou sobre o caso de espionagem da Abin em meio à negociações sobre o tratado por Itaipu s4o4i
O presidente paraguaio, Santiago Peña, criticou a espionagem da Abin contra autoridades do país, ligando o caso a feridas históricas como a Guerra do Paraguai e pedindo explicações ao Brasil, destacando o impacto nas relações diplomáticas e no Mercosul.
O presidente da República do Paraguai, Santiago Peña, afirmou nesta sexta-feira, 4, que o caso de espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra autoridades paraguaias 'abre velhas feridas' e não ajuda 'a construir um Mercosul mais forte'. 73o43
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O chefe de Estado paraguaio deu entrevista à rádio argentina Mitre, na manhã desta sexta, e fez suas primeiras declarações públicas sobre o caso de espionagem da Abin, que veio à tona na terça-feira, 1º.
A revelação surgiu a partir de reportagens sobre uma ação hacker implementada pela Abin contra as autoridades paraguaias, divulgadas inicialmente pelo jornalista Aguirre Talento. A operação teria contado com invasão a computadores para a obtenção de informações sigilosas ligadas à negociação de tarifas da usina hidrelétrica binacional de Itaipu, alvo de disputa comercial entre Brasil e Paraguai.
Segundo Peña, o Paraguai cedeu à pressão brasileira para a redução dos preços das tarifas pelo excedente energético produzido em Itaipu e detalhou a suspensão das negociações até que o governo Lula detalhe as operações de espionagem.
Para o presidente, o caso 'lamentavelmente abre velhas feridas' que remontam à Guerra do Paraguai, considerado o maior conflito armado internacional ocorrido na América Latina, entre 1864 e 1870, travado entre os paraguaios e a Tríplice Aliança, formada entre Brasil, Argentina e Uruguai. Após o fim da guerra, o Brasil ocupou territórios do Paraguai por quase uma década.
"O Paraguai tem uma história bastante difícil na região. Em um momento de nossa história, tivemos que enfrentar uma guerra de extermínio, liderada principalmente pelo Brasil. E depois da guerra, o Brasil ocupou o território paraguaio por quase uma década. São feridas que buscas curar, mas esse episódio lamentavelmente abre essas velhas feridas", afirmou o presidente.
Peña também destacou a convocação do embaixador brasileiro em Assunção, Marcondes de Carvalho, para prestar esclarecimentos sobre o caso, que se dá como um 'ime para a construção de um Mercosul mais forte'.
"Está claro que há ciberataques provenientes da China, e os Estados Unidos estão nos ajudando de maneira intensa. Mas nunca imaginei que estaríamos sujeitos a espionagem por parte de nossos irmãos, nossos vizinhos, os brasileiros", finalizou.
Governo Lula reconhece espionagem, mas culpa Bolsonaro 3m1t69
Em nota divulgada nesta segunda-feira, dia 31, o Itamaraty reconheceu que a operação ocorreu e foi interrompida quando a direção da Abin nomeada por Lula tomou conhecimento do caso.
"A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato", disse o Ministério das Relações Exteriores.
"O atual diretor-geral da Abin encontrava-se, naquele momento, em processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e somente assumiu o cargo em 29 de maio de 2023". O Itamaraty também negou que o presidente Lula tenha dado aval à operação.
"O governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria", disse o MRE.
"O governo do presidente Lula reitera seu compromisso com o respeito e o diálogo transparente como elementos fundamentais nas relações diplomáticas com o Paraguai e com todos seus parceiros na região e no mundo."