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O que está acontecendo em Los Angeles, onde manifestantes enfrentam tropas da Guarda Nacional enviadas por Trump 662xo

Neste domingo (8), primeiros confrontos foram registrados entre a Guarda Nacional e manifestantes que protestam contra ações anti-imigrantes de Trump. Presidente promete "enviar o que for necessário pela lei e pela ordem" 6j5s17

8 jun 2025 - 08h27
(atualizado às 21h57)
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Confrontos tomaram conta do centro de Los Angeles neste domingo
Confrontos tomaram conta do centro de Los Angeles neste domingo
Foto: REUTERS/Omar Younis / BBC News Brasil

No terceiro dia de protestos contra medidas de deportação de imigrantes nos EUA em Los Angeles, manifestantes entraram em confronto com a polícia local e tropas da Guarda Nacional enviadas pelo presidente Donald Trump à cidade, neste domingo (8/6). 5j6y27

Primeiro, o embate ocorreu em frente a um prédio federal que abriga um centro de detenção no centro de Los Angeles. Policiais dispararam o que parecia ser gás lacrimogêneo, spray de pimenta e algum tipo de munição não letal contra a multidão, que gritava "fora, ICE", em referência à sigla do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA.

Depois, os manifestantes chegaram a interditar o trânsito de uma das vias expressas mais importantes do centro da cidade. Nesse ponto, a tensão aumentou e houve novos confrontos com os agentes de segurança.

O governo americano anunciou no sábado (7/6) o envio de 2 mil soldados da Guarda Nacional para as ruas da maior cidade da Califórnia, após dois dias de confrontos entre manifestantes e policiais.

Neste domingo, Trump disse a jornalistas que haverá "tropas em todos os lugares".

"Não vamos deixar que isso aconteça com nosso país... Se vermos perigo para nosso país e nossos cidadãos, seremos muito firmes", declarou o presidente, que prometeu ainda "enviar o que for necessário pela lei e pela ordem".

Logo depois, o presidente usou as redes sociais para chamar os atos de "motins de imigrantes". "Multidões violentas e insurrecionais estão cercando e atacando nossos agentes federais para tentar impedir nossas operações de deportação", escreveu Trump.

No sábado, em Paramount, um distrito predominantemente latino de Los Angeles, moradores entraram em confronto repetidamente com agentes federais do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês).

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, disse que a medida de Trump é "propositalmente inflamatória" e alerta que "só aumentará as tensões".

Neste domingo, Newson pediu calma aos manifestantes: "Não deem a Trump o que ele quer".

O governador, que é do Partido Democrata, também anunciou a solicitação formal para que o governo Trump revogue o "envio ilegal de tropas ao condado de Los Angeles e as devolva ao seu comando".

"Não tínhamos problema até Trump se envolver. Isso é uma grave violação da soberania do estado - inflama tensões e desvia recursos de onde realmente são necessários", disse Newson.

Após as cenas de violência, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, declarou que "o que estamos vendo é o caos provocado pelo governo". O envio de tropas federalizadas é uma "escalada perigosa", segundo ela.

Neste domingo, novas manifestações contra ações anti-imigrantes em Los Angeles tiveram presença da Guarda Nacional
Neste domingo, novas manifestações contra ações anti-imigrantes em Los Angeles tiveram presença da Guarda Nacional
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Em análise na BBC, o correspondente Anthony Zurcher escreveu que a "rapidez com que Trump reagiu sugere que essa é uma luta para a qual sua istração está preparada — e até ansiosa para enfrentar".

A primeira tropa da Guarda Nacional chegou na manhã deste domingo e se reuniu em frente ao centro de detenção no centro de Los Angeles, para onde imigrantes em situação irregular são levados após serem detidos.

A Guarda Nacional é uma força de reserva das Forças Armadas dos EUA, que geralmente atua em nível estadual. Neste caso, trata-se da Guarda Nacional da Califórnia.

Los Angeles é a segunda maior cidade dos Estados Unidos, a maior cidade do Estado da Califórnia, e vai sediar os Jogos Olímpicos de 2028.

A seguir, leia mais detalhes sobre os confrontos em Los Angeles, e a disputa política entre Trump e o democrata Gavin Newsom.

O que está acontecendo em Los Angeles? 6g4ub

Manifestantes perto de um carro em chamas após várias detenções pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), no sábado
Manifestantes perto de um carro em chamas após várias detenções pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), no sábado
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Los Angeles viveu no sábado (7/6) seu segundo e mais intenso dia de distúrbios, quando moradores de um distrito predominantemente latino entraram em confronto com agentes federais do ICE.

Gás lacrimogêneo e cassetetes foram usados para dispersar a multidão no distrito de Paramount.

Nesta semana, houve até 118 prisões em Los Angeles como resultado de operações do ICE, incluindo 44 na sexta-feira (6/6).

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, condenou as batidas, chamando-as de "cruéis".

No bairro de Paramount, o ar estava árido, carregado de gás lacrimogêneo e fumaça do lado de fora de uma loja da Home Depot, onde os protestos eclodiram.

Oficiais do Condado de Los Angeles dispararam granadas de efeito moral e gás lacrimogêneo a cada poucos minutos para dispersar os manifestantes.

Vizinhos e manifestantes relataram que migrantes se barricaram dentro de comércios locais, com medo de sair.

Uma pessoa foi presa e várias outras detidas após os protestos da noite ada, informou o Departamento do Xerife do Condado de Los Angeles à BBC. E dois policiais foram tratados em hospital por ferimentos, mas já receberam alta.

Membros da Guarda Nacional se reúnem em Los Angeles
Membros da Guarda Nacional se reúnem em Los Angeles
Foto: CAROLINE BREHMAN/EPA-EFE/Shutterstock / BBC News Brasil
Envio da Guarda nacional a Los Angeles ocorre após dois dias de confrontos entre manifestantes contra medidas de deportação e autoridades americanas; governador diz que ação de Trump é 'propositalmente inflamatória'
Envio da Guarda nacional a Los Angeles ocorre após dois dias de confrontos entre manifestantes contra medidas de deportação e autoridades americanas; governador diz que ação de Trump é 'propositalmente inflamatória'
Foto: Anadolu/Getty Images / BBC News Brasil

O chefe da patrulha de fronteira, Tom Homan, disse à emissora Fox News no sábado: "Estamos tornando Los Angeles um lugar mais seguro".

Em Los Angeles, para onde viajou para supervisionar pessoalmente as operações do ICE, Homan afirmou que mais recursos estavam sendo mobilizados, como a Guarda Nacional, e que o trabalho do ICE continuaria a ser feito.

Homan alertou que haverá "tolerância zero" para qualquer violência ou dano à propriedade privada.

Em uma publicação no X, Dan Bongino, do FBI, também emitiu um alerta aos manifestantes: "Vocês trazem o caos, e nós trazemos algemas. A lei e a ordem prevalecerão."

Ele afirmou que "várias prisões" foram feitas por "obstruir operações".

Los Angeles é uma das chamadas cidades "santuário" dos EUA, que são aquelas com grande presença de migrantes e que têm políticas locais mais favoráveis à migração do que outras partes do país (leia mais abaixo).

Oficiais do condado de Los Angeles detêm uma mulher durante confronto entre manifestantes e policiais, após várias detenções pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE)
Oficiais do condado de Los Angeles detêm uma mulher durante confronto entre manifestantes e policiais, após várias detenções pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE)
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O comunicado da Casa Branca à imprensa afirmou: "Nos últimos dias, multidões violentas atacaram policiais do ICE e agentes federais que realizavam operações básicas de deportação em Los Angeles, Califórnia."

"Essas operações são essenciais para interromper e reverter a invasão de criminosos ilegais nos EUA. Após essa violência, os irresponsáveis líderes democratas da Califórnia abdicaram completamente de sua responsabilidade de proteger seus cidadãos", disse.

"É por isso que o presidente Trump assinou um Memorando Presidencial mobilizando 2.000 membros da Guarda Nacional para lidar com a ilegalidade que foi permitida a se agravar", acrescentou.

O presidente dos EUA tem autoridade para mobilizar a Guarda Nacional para determinados propósitos, incluindo "reprimir a rebelião".

Autoridades do ICE e do governo Trump acusaram o Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD) de agir de forma lenta para tentar conter os manifestantes, demorando 2 horas para responder aos confrontos.

O LAPD negou essa afirmação. "Ao contrário da alegação de que o LAPD demorou mais de duas horas para responder, nosso efetivo foi mobilizado e agiu tão rapidamente quanto as condições permitiram com segurança," disse o departamento à CBS News, parceira da BBC nos EUA.

Carro destruído na estrada durante confronto entre a polícia e manifestantes após detenções pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), na cidade de Paramount, no Condado de Los Angeles, em 7 de junho
Carro destruído na estrada durante confronto entre a polícia e manifestantes após detenções pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), na cidade de Paramount, no Condado de Los Angeles, em 7 de junho
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Medida incomum 2gd5q

A decisão de Trump de federalizar a Guarda Nacional, que normalmente está sob controle estadual nos Estados Unidos, é incomum.

O site da força militar afirma que ela foi colocada sob controle federal usando o Título 10 (que descreve o papel das forças armadas) do Código dos EUA - a mesma lei que Trump usou - durante a era dos Direitos Civis.

Os presidentes Eisenhower, Kennedy e Johnson usaram a Guarda Nacional para ajudar a fazer cumprir os direitos civis e manter a ordem pública.

A Guarda também foi federalizada durante os protestos de Detroit em 1967, nos protestos após o assassinato de Martin Luther King Jr. em 1968 e durante a greve dos correios de Nova York em 1970.

De acordo com a CNN, a última vez que um presidente federalizou a Guarda Nacional foi durante os protestos de Los Angeles em 1992, em locais externos, depois que quatro policiais brancos foram absolvidos da acusação de espancamento de um motorista negro, gravado em vídeo.

Operações 'tão imprudentes quanto cruéis' 46111m

Em comunicado divulgado na sexta-feira, o governador democrata Newsom disse que "as contínuas e caóticas operações federais em toda a Califórnia para cumprir uma cota arbitrária de prisões são tão imprudentes quanto cruéis".

"O caos de Donald Trump está minando a confiança, separando famílias, e minando os trabalhadores e as indústrias que impulsionam a economia americana."

A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, acusou anteriormente o ICE de "espalhar o terror" na segunda maior cidade dos EUA.

Os chefes do FBI e do Departamento de Segurança Interna disseram que os comentários da prefeita colocaram agentes federais em perigo.

Angélica Salas, que lidera a Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes, declarou em um comício recente: "Nossa comunidade está sendo atacada e aterrorizada. Eles são trabalhadores. Eles são pais. Eles são mães. E isso tem que parar."

A Califórnia do democrata Gavin Newsom 311g17

O democrata Gavin Newsom vem se posicionando como um dos críticos mais enérgicos de Donald Trump em todo o país.

E muitos têm visto a postura de Newson como uma abertura de caminho para sua própria candidatura à presidência em 2028, pelo Partido Democrata.

Em um dos exemplos mais recentes, Newsom entrou em abril com uma ação judicial contestando a onda de tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.

Newson e outros líderes californianos vêm promovendo o Estado, no sudoeste dos Estados Unidos, como uma fortaleza contra a direita radical.

A Califórnia, além de ser o Estado mais populoso do país, com quase 39 milhões de habitantes, conta com o peso da sua economia.

A economia da Califórnia ultraou a do Japão, tornando o estado americano a quarta maior força econômica global. Sua força pode sacudir mercados e garante ao Estado o poder de influenciar a política nacional.

Em sua primeira reação à vitória de Donald Trump nas últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos, Newsom, disse: "As liberdades de que desfrutamos na Califórnia estão sendo atacadas e não vamos ficar de braços cruzados. Já enfrentamos este desafio antes e sabemos como reagir."

E em seguida, ele deu os primeiros os para tentar fazer da Califórnia um Estado "à prova de Trump", blindando suas políticas antes mesmo do início do segundo mandato de Trump.

O democrata convocou uma sessão extraordinária do Parlamento estadual para o dia 2 de dezembro, 49 dias antes da posse de Trump, para discutir opções e aumentar os recursos para possíveis litígios contra o novo governo, em temas como a proteção aos imigrantes, os direitos reprodutivos e a comunidade LGBTQIA+, além da luta contra as mudanças climáticas.

E qual foi a reação do presidente eleito naquele momento?

Trump usou seu apelido favorito para o governador: Newscum, um trocadilho que combina o sobrenome de Newsom com a palavra "escória", em inglês. E o acusou, fazendo referência ao seu próprio lema de campanha, de criar obstáculos para "todas as grandes coisas que podem ser feitas para que a Califórnia volte a ser grande".

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, disse que a decisão de Trump de enviar a Guarda Nacional é 'propositalmente inflamatória' (foto de maio de 2025)
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, disse que a decisão de Trump de enviar a Guarda Nacional é 'propositalmente inflamatória' (foto de maio de 2025)
Foto: EPA-EFE/Shutterstock / BBC News Brasil

Los Angeles: 'Santuário' para imigrantes 685m3g

A Califórnia é o lar de mais de 10 milhões de pessoas nascidas no exterior. Destas, cerca de 1,8 milhão não têm residência legal, segundo dados do think tank (centro de pesquisa e debates) americano Pew Research Center.

E também é o segundo Estado, depois de Nevada, que abriga mais famílias com membros em situações migratórias distintas. Nelas, por exemplo, os filhos são cidadãos americanos por nascimento, enquanto um ou ambos os pais não têm documentos.

Existem mais de seis milhões de lares com esta característica nos Estados Unidos - cerca de 5% do total. E cerca de 4,4 milhões de crianças nascidas no país vivem com algum parente sem autorização de residência, segundo o Pew Center.

Com este panorama, a deportação em massa pode ser não apenas um drama humano, segundo os especialistas, mas também um golpe para a economia.

Existem setores que dependem, em grande parte, da mão de obra sem documentos, como o setor da construção e a agricultura.

A Califórnia é um grande produtor agrícola. O Estado produz um terço das verduras e 75% das frutas dos Estados Unidos. E, em certas regiões, os trabalhadores sem documentos chegam a representar 70% da mão de obra disponível.

Por este motivo, a Califórnia começou a garantir a proteção dos imigrantes sem documentos há anos.

Em 2017, o então governador Jerry Brown assinou a Lei dos Valores da Califórnia (SB 54). Ela proíbe as forças policiais estaduais e locais de colaborar com as forças federais em assuntos migratórios.

Mais recentemente, após vitória de Trump, Los Angeles ou a se preparar para ime com a Casa Branca sobre imigração: em novembro, a Câmara Municipal aprovou uma lei que proíbe o uso de recursos locais para ajudar as autoridades federais de imigração.

O sistema de escolas públicas de Los Angeles também se reafirmou como um "santuário" para imigrantes em situação irregular e estudantes LGBTQIA+ em uma série de resoluções emergenciais.

O termo "cidade santuário" é popular nos EUA há mais de uma década para descrever locais que limitam sua assistência às autoridades federais de imigração.

Como não é um termo legal, as cidades adotaram diversas abordagens para se tornarem "santuários", como estabelecer políticas em leis ou simplesmente mudar as práticas policiais locais.

Além de Los Angeles, Nova York, Houston, Chicago e Atlanta são algumas das cidades com grande presença de migrantes que têm políticas locais mais favoráveis à migração do que outras partes do país.

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