Por que maior expansão de Israel na Cisjordânia em décadas pode inviabilizar Estado Palestino 582050
A maior medida deste tipo em anos é condenada pela presidência palestina como uma 'escalada perigosa'. 1h732p
Ministros israelenses afirmam que 22 novos assentamentos judeus foram aprovados na Cisjordânia ocupada — a maior expansão em décadas. 303v4l
Vários já existem como postos avançados, construídos sem autorização do governo, mas agora serão legalizados de acordo com a lei israelense. Outros são completamente novos, segundo o ministro da Defesa, Israel Katz, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich.
Os assentamentos — que são amplamente vistos como ilegais pelo direito internacional, embora Israel conteste isso — são uma das questões mais controversas entre Israel e os palestinos.
Katz disse que a medida "impede o estabelecimento de um Estado palestino que colocaria Israel em perigo", enquanto a presidência palestina classificou a iniciativa com uma "escalada perigosa".
A organização israelense Peace Now (Paz Agora), que monitora a expansão e se opõe aos assentamentos, classificou a ação como "a mais abrangente do tipo" em mais de 30 anos — e alertou que a medida "transformaria drasticamente a Cisjordânia e consolidaria ainda mais a ocupação".
Israel construiu cerca de 160 assentamentos que abrigam aproximadamente 700 mil judeus desde que ocupou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental — terras que os palestinos reivindicam, assim como Gaza, para seu almejado futuro Estado — na Guerra dos Seis Dias de 1967. Estima-se que 3,3 milhões de palestinos vivam ao lado deles.
Sucessivos governos israelenses permitiram o crescimento dos assentamentos. Mas a expansão aumentou acentuadamente desde que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, voltou ao poder no fim de 2022, à frente de uma coalizão de direita, pró-colonos, assim como no início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.
Nesta quinta-feira (29/5), Israel Katz e Bezalel Smotrich — líder ultranacionalista que tem controle sobre o planejamento na Cisjordânia — confirmaram oficialmente uma decisão que acredita-se ter sido tomada pelo governo há duas semanas.
Um comunicado anunciou que eles haviam aprovado 22 novos assentamentos, a "renovação do assentamento no norte de Samaria [norte da Cisjordânia] e o fortalecimento do eixo oriental do Estado de Israel".
O texto não inclui informações sobre a localização exata dos novos assentamentos, mas os mapas que estão circulando sugerem que eles vão estar espalhados por toda a Cisjordânia.
Katz e Smotrich destacaram o que descreveram como "retorno histórico" a Homesh e Sa-Nur, dois assentamentos no norte da Cisjordânia que foram evacuados ao mesmo tempo em que Israel retirou suas tropas e colonos de Gaza em 2005.
Há dois anos, um grupo de colonos estabeleceu uma escola religiosa judaica e um posto avançado não autorizado em Homesh, que, segundo a Peace Now, estaria entre os 12 assentamentos legalizados pela lei israelense.
Nove dos assentamentos seriam completamente novos, de acordo com a agência de monitoramento. Eles incluem Mount Ebal, ao sul de Homesh e próximo à cidade de Nablus, e Beit Horon Norte, a oeste de Ramallah, onde a construção já havia começado nos últimos dias, segundo a organização.
O último dos assentamentos, Nofei Prat, era atualmente considerado oficialmente um "bairro" de outro assentamento próximo a Jerusalém Oriental, Kfar Adumim, e agora seria reconhecido como independente, acrescentou a Peace Now.
Katz disse que a decisão foi um "movimento estratégico que impede o estabelecimento de um Estado palestino que colocaria Israel em perigo, e serve como uma proteção contra nossos inimigos".
"Essa é uma resposta sionista, de segurança e nacional — e uma decisão clara sobre o futuro do país", acrescentou.
Smotrich chamou a medida de uma "decisão única em uma geração", e declarou: "A próxima etapa é a soberania!"
Mas um porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas — que governa partes da Cisjordânia que não estão sob total controle israelense —, classificou a decisão como uma "escalada perigosa", e acusou Israel de continuar a arrastar a região para um "ciclo de violência e instabilidade".
"Esse governo israelense extremista está tentando, por todos os meios, impedir o estabelecimento de um Estado palestino independente", afirmou Nabil Abu Rudeineh à agência de notícias Reuters.
Lior Amihai, diretor da Peace Now, acrescentou: "O governo israelense não finge mais o contrário: a anexação dos territórios ocupados e a expansão dos assentamentos é seu objetivo central."
Elisha Ben Kimon, jornalista israelense do popular site de notícias Ynet que cobre a Cisjordânia e os assentamentos, disse ao programa Newshour, da BBC, que de 70% a 80% dos ministros queriam declarar a anexação formal da Cisjordânia.
"Acho que Israel está a poucos os de declarar esta área como território israelense. Eles acreditam que este período nunca mais vai voltar, esta é uma oportunidade que eles não querem perder — é por isso que estão fazendo isso agora", afirmou Ben Kimon ao Newshour.
Israel anexou efetivamente Jerusalém Oriental em 1980, em uma ação não reconhecida pela grande maioria da comunidade internacional.
Esta última medida é um golpe contra os esforços renovados para reavivar o ímpeto de uma solução de dois Estados para o conflito entre Israel e os palestinos, que já dura décadas — a fórmula internacionalmente aprovada para a paz que propõe a criação de um Estado palestino independente ao lado de Israel — com uma cúpula franco-saudita planejada na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York no próximo mês.
O Ministério das Relações Exteriores da Jordânia condenou o que chamou de "violação flagrante do direito internacional" que "prejudica as perspectivas de paz ao consolidar a ocupação".
Hamish Falconer, do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, disse que a medida era "um obstáculo deliberado à criação do Estado palestino".
Desde que assumiu o poder, o atual governo israelense decidiu estabelecer um total de 49 novos assentamentos, e iniciou o processo de legalização de sete postos avançados não autorizados, que serão reconhecidos como "bairros" de assentamentos existentes, de acordo com a Peace Now.
No ano ado, o principal tribunal da ONU emitiu um parecer consultivo afirmando que "a presença contínua de Israel no Território Palestino Ocupado é ilegal". A Corte Internacional de Justiça (CIJ) também afirmou que os assentamentos israelenses "foram estabelecidos e estão sendo mantidos em violação ao direito internacional", e que Israel deveria "retirar todos os colonos".
Netanyahu disse na época que o tribunal havia tomado uma "decisão de mentiras", e insistiu que "o povo judeu não é ocupante da sua própria terra".