Na Alemanha, solidão aflige principalmente jovens e idosos 6c2f3w
Solidão leva ao adoecimento e prejudica a democracia, apontam especialistas. Governo alemão botou o assunto na agenda política, e busca soluções para combater o problema.Uma sensação de se estar sozinho no mundo, incompreendido, isolado, vazio, inútil, triste ou desesperado: solidão. Cerca de 60% dos alemães sofrem desse mal, confirmado em estudos como o "Relatório sobre a solidão", divulgado no ano ado pela seguradora de saúde pública alemã Techniker Krankenkasse (TK). 4u1m2v
E os jovens estão entre os mais afetados, o que foi evidenciado no levantamento da TK, bem como por outro estudo, publicado recentemente pela Fundação Bertelsmann. De acordo com a pesquisa, intitulada "Jovens, solitários -
e engajados?", quase metade dos jovens entrevistados se sente muito ou moderadamente solitária. O levantamento ouviu 2.532 pessoas entre 16 e 30 anos na Alemanha.
Ao todo, 10% dos entrevistados disseram se sentir muito solitários, e outros 35%, moderadamente solitários. Desempregados com baixo nível de escolaridade, mulheres e imigrantes ou filhos de imigrantes são os mais atingidos entre os jovens.
Como aponta o estudo da TK, a solidão pode causar estresse, cansaço, distúrbios do sono, ansiedade e depressão, possivelmente até mesmo demência precoce.
Desencanto cresce
A pesquisa da Fundação Bertelsmann também destacou que jovens solitários têm pouca confiança na política e, consequentemente, na democracia, algo muito mais acentuado entre os que se dizem muito solitários: 76% deles acreditam que os políticos não levam a sério as preocupações da geração mais jovem. Entre os jovens que não são solitários, esse índice é de 61%.
Mais da metade dos jovens solitários (60%) também declarou sentir-se incapaz de promover mudanças políticas e sociais.
Aos 20 anos e à procura de emprego, Jennifer, nome fictício de uma entrevistada que mora em Berlim, raramente se sente solitária, mas se mostra igualmente decepcionada com a política: "Os políticos dão atenção demais às pessoas mais velhas. Nós, jovens, quase não recebemos atenção." Ela diz sentir uma espécie de "impotência", uma "profunda decepção": a sensação de não ser capaz de mudar nada.
A nova ministra da Família, Karin Prien (CDU), se diz preocupada com a profunda frustração dos jovens solitários: "Isso também tem a ver com a satisfação em relação à democracia. Os jovens solitários estão menos satisfeitos com a democracia e, assim, são mais suscetíveis a abordagens extremistas", diz, em entrevista à DW.
O risco disso, segundo o estudo da Bertelsmann, é de que essas pessoas se afastem dos processos políticos.
A ministra da Família e o governo alemão assumiram um compromisso de fazer algo a respeito da solidão e suas consequências sociais. Pela terceira vez, foi lançada uma campanha nacional contra a solidão, e o governo trabalha em uma "estratégia contra a solidão". No evento de abertura, Prien disse que gostaria de "formar uma aliança que, em conjunto, ajude a fortalecer a convivência social em nosso país".
Os autores do estudo da Bertelsmann recomendam que os políticos envolvam os jovens de forma mais específica nos processos políticos. Atividades de lazer gratuitas, com pontos de encontro em bairros, centros de juventude e mais quadras esportivas podem ajudar; lugares onde os jovens se sintam confortáveis e vivenciem o senso de comunidade.
Aliança contra o problema
Além dos jovens, outro grupo frequentemente afetado pela solidão é o de pessoas mais velhas. O "Relatório sobre a solidão" de 2024 da TK aponta que mais da metade das pessoas acima dos 60 anos se sente solitária, seja com frequência, às vezes ou raramente.
Christa Seeger, de Berlim, conhece bem esse sentimento: "Às vezes, a solidão me invade do nada", confidencia ela à DW num encontro de idosos na capital alemã. "Você não espera isso. De repente, você está sozinho."
Os idosos do grupo de Seeger se reúnem para evitar a solidão e o incômodo de se sentirem "inúteis". Eles conversam, ouvem palestras ou jogam minigolfe. São receitas contra a solidão, mas, às vezes, o sentimento aflora até mesmo durante os encontros, diz Seeger: "Quando você se senta consigo mesma, é muito deprimente. Isso acontece comigo aqui e também em casa". E solidão, neste caso, não significa depressão, algo que ela viveu na época da reunificação alemã, no início dos anos 1990, quando ficou desempregada.
Reino Unido como exemplo
O Reino Unido poderia servir de modelo para políticos alemães. Desde 2018, o país tem uma secretaria de Estado para a solidão. Um mecanismo fundamental é a chamada "prescrição social", em que médicos ou terapeutas podem receitar atividades sociais, como cursos de culinária ou caminhadas.
Comunidades online também estão sendo criadas para jovens a fim de promover o contato social em um ambiente positivo e de apoio. Desde 2024, o governo britânico também tem usado influenciadores digitais para atingir os jovens, com o objetivo de tirá-los da solidão e motivá-los a participar da política.
"Acho que precisamos fazer algo para que os idosos pensem mais sobre o que podem fazer pelos jovens. E os jovens devem pensar mais sobre o que podem fazer pelos idosos. Para que nos tornemos uma sociedade que cuida uns dos outros novamente", sugere a ministra alemã da Família.
Jennifer, de Berlim, dá uma recomendação muito pessoal contra a solidão: "Encontrem pessoas que amem vocês!"