Sem saúde mental, não haverá (mesmo) futuro do trabalho 1572i
Conheça três estágios de maturidade dos programas de saúde mental 5w4567
Quando se trata de saúde mental, nossas empresas ainda vivem o modelo de gestão criado na era da revolução industrial. Com foco na produtividade a qualquer custo, o impacto nos trabalhadores nessa época nem era considerado nessa equação. nx5t
Hoje evoluímos nos métodos de trabalho, nos organizamos em equipes colaborativas e entendemos a importância da criatividade e da inovação para as demandas do negócio na era digital. Mas pouco avançamos na pauta de saúde mental.
A cada semana, converso com pelo menos 10 empresas de grande porte. Quando pergunto a gestores e líderes de RH quais são os indicadores do FAP (Fator Acidentário de Prevenção) nos três últimos anos, ou quantos pedidos de afastamento por CID-F (código internacional de doenças relacionados aos transtornos mentais) a empresa teve no último ano, vejo quase invariavelmente a mesma cara de paisagem como resposta.
Como vamos mudar esse cenário? 6k291h
Se pergunto como eles avaliam a qualidade da saúde mental dos seus colaboradores, ouço com frequência que há alguns “casos isolados” de transtorno, mas que no geral tudo está bem. Insisto no questionamento e pergunto como eles medem o nível de engajamento dos funcionários e se acompanham os motivos pelos quais acontecem as demissões voluntárias. A resposta continua invariavelmente evasiva.
O resultado desse descaso com a saúde mental dos colaboradores volta na forma de presenteísmo, turnover, dias perdidos de trabalho e em um fenômeno conhecido como “quiet quitters”, em que funcionários só entregam o mínimo esperado para sua manutenção no emprego.
As empresas que iniciam uma jornada de saúde mental começam normalmente pelo estágio de Conscientização, depois transformam o cuidado com os colaboradores em Estratégia. Poucas estão no estágio de Reinvenção, como conto logo abaixo.
Três estágios de maturidade dos programas de saúde mental 1j441d
- 1º Conscientização
A grande maioria das organizações, 95% delas, está no estágio inicial, de conscientização. Elas ainda não medem os KPIs que comentei acima, não sabem da importância de um programa estratégico estruturado e não imaginam o impacto positivo em aumento de produtividade e lucratividade que poderiam ter ao investir em saúde mental.
Por isso chamo essa etapa de conscientização. Algumas empresas podem até ir além do básico exigido pela lei trabalhista, e oferecem soluções isoladas, como uma palestra de conscientização no Setembro Amarelo, a concessão de benefício de aula de meditação ou pilates.
Costumo dizer que aqui há apenas gasto com ações desconectadas e nenhum investimento.
- 2º Estratégia
Empresas que já estruturam programas estratégicos de saúde mental são 4,9% do total. O nível de conscientização e entendimento do tema está na agenda do C-Level e existem KPIs de negócio atrelados à saúde mental. As empresas têm programas claros, coordenados e consistentes no tema e calculam o ROI dos investimentos.
Aliás, é bom dizer que essas empresas recebem até 4 vezes o retorno do valor investido nos programas, além de melhorar sensivelmente a qualidade da saúde mental dos colaboradores, a segurança psicológica do ambiente de trabalho e consequentemente o aumento do engajamento e da produtividade das equipes.
- 3º Reinvenção
Apenas cerca de 0,01% das empresas estão nesse estágio. Sabe aquelas empresas que investem em um Chief Happiness Office, pensam em novos modelos de trabalho e criam novos designers organizacionais?
Essas empresas estão reinventando a forma de liderar pessoas e colocam a saúde mental no centro dessa discussão. Elas saíram da gestão da era industrial lá do início do texto.
As organizações que chegam nesse estágio ainda não têm a receita do bolo, mas estão testando, medindo e ajustando. Elas verdadeiramente entenderam que saúde mental e futuro do trabalho caminham lado a lado e é a única forma sustentável de fazer negócios.
Meu sonho grande é que a maioria das empresas chegue a esse estágio no futuro próximo. Até porque, se as pessoas não tiverem saúde mental, não haverá futuro do trabalho.
(*) Tatiana Pimenta é fundadora e CEO da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas.