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Conheça Sergio Vaz, o poeta que acende sonhos nas periferias 1b6e5m

Co-fundador da Cooperifa lança coletânea Flores da Batalha para resgatar humanidade em meio à correria da quebrada 5g6y12

8 mai 2023 - 11h49
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Foto: Daniel Arroyo

Quando se pensava que a fila tinha acabado, mais uma pessoa, acompanhada ou sozinha, entrava nela com o livro na mão, ansiosa, e aumentava a curva, que ocupava todo o salão do Centro Municipal de Recreação e Cultura (Cemur) de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. Ali, em meio às músicas de black music tocadas por um DJ, os olhos brilhavam e os sorrisos apareciam facilmente quando eram abraçados pelo poeta Sergio Vaz, que dividia o carinho entre redigir a dedicatória, tirar foto e abraçar o próximo da sequência. “Eu precisava desse contato e elas também”, afirma Sergio. “O livro só foi um elo para todos se conectarem em uma grande festa”, diz sorridente. 505k3s

Aos 58 anos, o poeta lançou em abril deste ano sua décima obra, Flores da Batalha (Editora Global). Com prefácio do rapper Emicida, o livro reúne uma coletânea de poemas que trata da vivência na periferia após a pandemia de Covid-19. Central em todos os seus escritos, essa é a população que foi a mais afetada não só pela doença, mas também pelas dificuldades de sobrevivência que acabam se sobrepondo às escolhas individuais.

 “No meu livro, eu queria resgatar essa batalha interior que todo mundo tem e que, às vezes, não tem tempo de enfrentar a si mesmo porque com a correria não dá”, afirma. “Meu livro é para lembrar as pessoas que elas têm sonhos, que têm planos, que amam, que beijam e que não são máquinas”.

Isolado durante esses dois anos, Sérgio também se viu em conflito, tristeza e em adoecimento pela situação do país e como seguir mantendo a sanidade em um período em que a comunicação por meio de telas ficou acima do contato físico. “Foi muito difícil porque eu faço poesia e, dentro da literatura, a poesia ainda é a arte menos privilegiada. E estamos falando de um país que não lê. Eu fiquei muito preocupado com o meu futuro e com o futuro da humanidade”, desabafa. 

Foto: Daniel Arroyo

O encontro no Cemur foi o primeiro de uma série de lançamentos do Flores da Batalha ao longo de abril. E o surpreendeu: “não esperava que viesse tanta gente”, diz Sérgio, feliz. Adultos, jovens, crianças, professores, estudantes, moradores de quebradas estavam ali. Alguns adolescentes aproveitaram a discografia do DJ para criar, ali mesmo, uma batalha de dança. O estudante Wellington Carlos de Moura, 17, aproveitou o eio escolar voltado ao evento para também fazer acrobacias de break. “Minha amiga começou a dançar e só fui dançar junto com ela”, brinca. 

Para ele, aquele espaço também sintetizava uma palavra: “negritude”, disse ao mostrar diversas pessoas negras com diversos cortes de cabelo e estilo tomando conta do salão. “Ter escritores de periferia abre portas”, aponta.

Estudante Wellington Carlos de Moura
Estudante Wellington Carlos de Moura
Foto: Daniel Arroyo

O estudante Rafael Riquelme da Costa, 15, também da rede pública assim como Wellington, concorda. “Por ele ser uma pessoa que vem de uma região que a gente mora perto, a gente gosta de ver histórias de pessoas que têm a mesma vivência que a gente”, afirma. “É uma pessoa que ou por uma vida difícil, escreveu lindas poesias, como o meu livro favorito dele que é Colecionador de Pedras. É muito interessante ver como essa pessoa chegou até esse ponto e ver que muitas pessoas da periferia também podem vencer”.

Até a deputada estadual também entrou na roda que se formou. Ediane Maria (PSOL), a primeira parlamentar empregada doméstica e coordenadora do  Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) a alcançar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), acompanhou a coreografia das meninas que lideravam o o. “O Sergio é um cara que resiste na cultura, fazendo sarau para a periferia, para a quebrada. Prestigiar esse livro é mostrar que a gente está avançando e a cultura está voltando. A gente viveu quatro anos de retrocesso quando a cultura foi duramente atacada”, disse à Ponte.

Deputada estadual Ediane Maria com livro do Sérgio Vaz
Deputada estadual Ediane Maria com livro do Sérgio Vaz
Foto: Daniel Arroyo

E trazer a perspectiva da cultura como uma área importante para formação de crianças e adolescentes fez com que Sérgio criasse o projeto “Poesia contra a Violência”, em uma escola do bairro do Jardim Ângela, no extremo sul da capital paulista. Na época, em 1999, um ano antes de lançar o conhecido sarau da Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa), esse bairro era considerado um dos mais perigosos do mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os bairros vizinhos, como Jardim São Luís e Parque Santo Antônio, onde Sérgio cresceu, também apareciam nas manchetes de jornais pela violência. 

Para ele, abandonar o ambiente escolar como uma responsabilidade coletiva é uma sentença de morte para todo o país e isso se reflete, também, na onda de ataques às escolas que vêm se intensificando. “Nós todos somos corresponsáveis por isso”, afirma. “A única pessoa que pensa na escola é o professor. E muito mais do que respeitá-los, nós temos que protegê-los”.

“Todos os jovens não gostam de ir para a aula. Eu nunca gostei, a gente sempre gostou de aula vaga”, lembra Sérgio, que era estudante numa época em que o Brasil ainda atravessava uma ditadura civil-militar. “Mas essa não é uma decisão da criança ou do adolescente. É uma decisão do Estado de que não é preciso investir na educação. E investir em educação é investir em educação pública de qualidade, onde a criança possa ter senso crítico”, afirma. “Existe uma máquina por trás para fazer com que o aluno desista e o professor também. O professor ainda não desistiu porque é um romântico doente, sendo assassinado, violentado, que está gritando e a sociedade pouco se importa”, crítica.

Foto: Daniel Arroyo

Da periferia para a periferia

Por serem negligenciadas e esquecidas, as quebradas tiveram que tomar a frente para criar mecanismos de auto pertencimento e de orgulho, aponta Sérgio. “Para conseguir emprego, tinha sempre alguém que mentia onde morava. Você imagina o que era o Parque Santo Antônio, o Jardim Guarujá, o Jardim Ângela, o Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim São Luís nos anos 80, 90">Antes de abraçar Sérgio, a historiadora e professora Viviane Pereira César, 42, seguia na fila com o filho Guilherme, 11. Aos 17 anos, quando uma professora comentou da obra do poeta, ela não deixou mais de lado e, hoje, usa o conteúdo durante suas aulas na rede pública. “Foi a obra dele e também a poesia de Carolina Maria de Jesus que me fizeram entrar na universidade”, diz, categórica. “Me fizeram me reconhecer como mulher preta e periférica e era a obra que mais se aproximava da minha realidade”, conta. “É o que ele fala: é a dessacralização da poesia. Ele tira a poesia do pedestal e a traz para a periferia”.

Ponte
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