
Jamais vou deixar de dizer que sou do Axé, diz Gilmelândia, que migrou dos bares para o trio elétrico há 25 anos 1v623h
Ao Terra, a cantora revive os anos 2000, momento em que sua carreira estourou, e fala sobre o futuro após lançar um novo single 6g451m
No início dos anos 2000, rádios e TVs do Brasil ecoavam a voz de Gilmelândia com os sucessos Bate Lata, Maionese e Peraê. Era o início de uma carreira de 25 anos marcada por idas e vindas com o Axé. Mas, mesmo tendo projetos musicais de forró e sido indicada ao Grammy Latino por um álbum de MPB, Gilmelândia é categórica: "Eu jamais, na minha vida, vou deixar de dizer que eu sou uma cantora da Bahia, uma cantora de Axé Music." 3q1m5z
- - Este é o terceiro episódio da série de reportagem Vozes do Axé, que resgata os 40 anos do gênero musical a partir da história de cantores e cantoras --Armandinho, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Gilmelândia e Léo Santana-- que levaram esse som baiano para o mundo.
O Axé é uma identidade, como Gilmelândia parece descrever. Ela, assim como outros artistas entrevistados pelo Terra, não deu uma definição rítmica para o gênero. O que faz o Axé ser o que é vai muito além de instrumentos ou de uma cadência específica.
“O Axé Music é uma música de entretenimento, uma música de felicidade, onde a gente libera químicos que as pessoas buscam muito nas terapias, que é dopamina, serotonina” -- Gilmelândia
E se Axé quer dizer felicidade, Gilmelândia é a cara do Axé. Na conversa de pouco mais de 30 minutos com a reportagem, a cantora mencionou a palavra “feliz” mais de 10 vezes.
“Quando eu era aquela menininha cantando lá no fundo do quintal, eu estava feliz. Quando eu fui cantar em bar, eu estava feliz. Banda Beijo, eu estava feliz. Hoje, eu sou uma mulher muito feliz. Eu amo cantar, eu amo a minha profissão, sinto que foi uma dádiva”, afirma.
Sua carreira começou depois que o cantor Netinho ouviu uma gravação sua e a chamou para ser vocalista da Banda Beijo. De uma hora para outra, Gilmelândia deixou de ser uma cantora que se apresentava em bares de Salvador para puxar um trio elétrico.
“O bloco famosíssimo, com 5.000 foliões, e de repente eu, aquela menina que era do bar, puxo a frente desse bloco. Mas assim, eu tirei de letra e esse foi o momento mais marcante da minha vida”, conta.
Além da emoção de estar em cima do trio elétrico, Gilmelândia guarda na lembrança daquele dia os machucados pelo corpo causados pela fantasia que escolheu. Ela conta que tinha visto a capa da revista Veja, da edição que celebrava a chegada do novo milênio, que trazia a foto de uma mulher metade robô, metade ser humano.
“Aquilo me chamou atenção, porque era um começo de uma nova era. Eles já estavam falando do que acontece hoje, de inteligência artificial, robô, essas coisas todas. Estava virando de 1999 para 2000. E eu resolvi sair no bloco Beijo de metade robô e metade mulher. Eu coloquei o olhinho pra piscar. Um rapaz que fazia, naquela época não tinha tantos profissionais para fazer isso no corpo, então coloquei aquelas ferragens que se usa em moto. Tanto que durante o percurso inteiro sangrei, mas eu não estava nem aí, porque eu queria dar o melhor para o meu público”, relembra.
O visual sempre foi um marco de Gilmelândia. Os pequenos coques que fazia no cabelo viraram parte de sua identidade e eram uma forma da cantora se destacar esteticamente das outras de sua época.
Hoje, com 49 anos, Gilmelândia mantém uma rotina intensa de trabalho. Neste carnaval, além de apresentações em Salvador, viaja para o Amazonas, Acre, depois volta para a Bahia e emenda com a semana seguinte uma outra viagem para o Pará.
"O povo sempre pergunta, 'Gil, você tem uma preparação para o carnaval?' Você não está entendendo, não é uma preparação para o carnaval um mês antes, dois meses antes. A gente tem que se preparar o ano todo, porque a gente não para, é o tempo todo cantando e pulando", conta Gilmelândia, que define os cantores da Axé Music de "atletas da música".
"Você pode observar que a gente fica cinco, seis horas no trio, pulando, sete, oito, não tem um gênero como esse", afirma.
Para o carnaval de 2025, Gilmelândia lançou a música Tá Docinha, que tem, assim como toda sua carreira, a intenção de deixar o público feliz. A letra surgiu de uma brincadeira que ela diz fazer com as mulheres nas ruas.
"Quando eu vou na farmácia, eu vou na feira, que eu gosto dessa coisa dos afazeres de casa, sempre eu vejo a menina lá na batalha, principalmente na feira, e aí eu o o dedo assim na menina, o dedo assim, no braço, no ombro, no rosto, aí eu faço assim na boca, e faço, ‘Mãe, você tá docinha’, aí a menina faz esse sorriso aí, ó”, conta.
Já para o futuro um pouco mais distante, Gilmelândia confessa que quer se voltar mais para a carreira de apresentadora -- o que não quer dizer que ela deixará de ser identificada como cantora de Axé. Isso nunca, jamais.