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Papas são tradicionalmente enterrados deitados, ao contrário do que diz post c3m10

RITOS FÚNEBRES DOS PONTÍFICES CONSTAM EM DOCUMENTOS OFICIAIS E HÁ REGISTROS HISTÓRICOS DE SEPULTAMENTOS 183g3d

15 mai 2025 - 16h45
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O que estão compartilhando: vídeo afirma que papas mortos não são enterrados ou cremados, mas sim mumificados e colocados sentados em câmaras seladas nas profundezas do Vaticano. O conteúdo diz que os corpos estão preservados e com as vestes intactas há centenas de anos. t5u14

Não há registro de que algum papa tenha sido mumificado; eles são embalsamados e enterrados.
Não há registro de que algum papa tenha sido mumificado; eles são embalsamados e enterrados.
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Conforme o historiador Leandro Rust, professor das disciplinas de História Medieval na Universidade de Brasília (UnB), não há sombra de dúvidas de que os papas foram enterrados ao longo dos séculos.

Os atuais ritos fúnebres do bispo de Roma, que incluem sepultamento, constam na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, de 1996, promulgada pelo papa João Paulo II.

O último papa a morrer, Francisco, foi enterrado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.

A Igreja Católica defende, com base em indícios encontrados em escavação arqueológica, que os restos mortais de São Pedro, considerado o primeiro papa, estão sepultados sob o Vaticano.

A Basílica de São Pedro abriga um conjunto de tumbas conhecidas como Grutas do Vaticano, onde estão enterrados diversos pontífices. O local é aberto a visitação.

Regras da igreja determinam sepultamento dos papas

Conforme o monsenhor André Sampaio de Oliveira, doutor em Direito Canônico e professor do Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico (PISDC), instituição brasileira agregada à Faculdade de Direito Canônico da Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, os atuais ritos fúnebres dos papas são previstos na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, de 1996, promulgada pelo Papa João Paulo II.

O documento determina que as exéquias do falecido pontífice sejam celebradas durante nove dias consecutivos e que o corpo seja sepultado entre o quarto e o sexto dia após a morte.

A cerimônia, explica o monsenhor, segue as indicações estabelecidas no Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, documento que rege os ritos funerários do pontífice romano e que foi, recentemente, reformulado pelo papa Francisco.

Rust, especialista em história do papado, explica terem existido diversos Ordines Romani — compilações de textos voltados para a definição de serviços e práticas litúrgicas — desde o século XIV com seções exclusivas para orientar como proceder quanto à cerimônia fúnebre de papas e cardeais, que deveriam ser sepultados. O mais antigo, diz, surgiu durante o pontificado de Urbano V (1362-1370).

Ao longo dos séculos, acrescenta, o universo de textos contendo regras dessa natureza se multiplicou, não apenas surgindo outros ordines, como também instruções formais do papado, artigos de direito canônico e, por fim, o Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, com as regras atuais.

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O enterro é tradicional no catolicismo

Rust garante que a deposição do corpo papal em um túmulo é uma constante histórica. Inclusive, diz, existem inúmeros registros de episódios em que a população romana conseguia ter o ao cadáver do papa sepultado e o saqueava, principalmente no primeiro milênio.

O objetivo era se apoderar de objetos enterrados junto com o pontífice por acreditarem se tratar de relíquias da fé cristã que trariam intercessões celestiais e milagres. "Há registros, por exemplo, do século VI, de medidas que eram tomadas contra esse comportamento instigado pelo 'amor dos fiéis'", afirmou.

De acordo com o historiador, antes do ano 1000, a norma consistia em descer o corpo do papa à terra no dia seguinte ao falecimento. A exposição pública dos restos mortais, como ocorre atualmente, é uma prática que surgiu na Idade Média.

Durante o falecimento do papa Eugênio III (1145-1153) aparece o primeiro registro de que o corpo papal foi conduzido por uma multidão do clero e do povo romano por vias públicas, atravessando a cidade. "Desde então, prevalece na tradição católica o interesse por uma grande visibilidade do corpo do pontífice e isso se estende a seu túmulo", explicou.

Rust destaca ser notório, por exemplo, que diversos túmulos papais foram construídos ao longo da histórica, sobretudo entre os séculos XV e XVII, para figurar como monumentos destinados a comunicar aos fiéis um profundo senso a respeito da arte, da iconografia e da autoridade católicas.

"Esse sentido eminentemente público das sepulturas teria levado um dos mais célebres papas renascentistas, Júlio II (1503-1513), a se encarregar da construção do próprio túmulo", disse. É nesse local que está instalada, atualmente, a escultura Moisés, de Michelangelo.

Rust lembra que até o início do século XX a Igreja Católica proibia a cremação aos cristãos e era obrigatório sepultar os cadáveres. A determinação constava no artigo 1203 do Código de Direito Canônico de 1917, conhecido como Código Pio-Beneditino, que pode ser consultado no site da Pontifícia Universidade Gregoriana.

"Há relatos de cremação de cristãos ao longo da história ocidental, especialmente em contextos de grandes epidemias, mas prevalecia a crença de que o sepultamento era um rito fúnebre superior", explicou o historiador.

Nos anos 1960, a cremação deixou de ser proibida pela Igreja Católica, mas, de acordo com o historiador, o sepultamento persiste como a prática funerária mais fortemente vinculada às tradições católicas.

"Não há registros de papas cremados - e caso eu me deparasse com um registro dessa natureza, minha primeira reação seria de ceticismo", observou.

Historiador não vê sentido em alegar que papas estão em 'câmaras seladas'

O vídeo analisado aqui afirma que os papas estariam em "câmaras seladas" sob a Basílica Vaticana. Mas, segundo Rust, essa alegação não faz sentido "historicamente".

Segundo ele, é sabido que os papas falecidos entre 496 e 824 foram sepultados sob a igreja de São Pedro, mas diversos outros, dos séculos X e XII foram enterrados na Basílica de São João de Latrão, também em Roma.

Além disso, há papas sepultados inclusive fora de Roma, como Clemente II (1046-1047), cujos restos mortais estão em Bamberg, atual Alemanha, e Gregório VII (1073-1085), enterrado na catedral de Salerno, no sul da Itália.

O papa Francisco também não está sob a Basílica do Vaticano. Ele foi enterrado em 26 de abril na Basílica de Santa Maria Maior, no Monte Esquilino, após as exéquias em São Pedro. Francisco foi o primeiro pontífice em mais de 120 anos a escolher ser enterrado fora do Vaticano e é o oitavo papa sepultado no local.

Antes dele, em 2022, o caixão do papa emérito Bento XVI foi levado para a Basílica de São Pedro e depois para as grutas do Vaticano, onde foi enterrado.

Não há indícios que papas tenham sido mumificados

Rust destaca que, em mais de vinte anos estudando o papado, jamais se deparou com o menor vestígio de que algum pontífice tenha sido mumificado. A técnica foi usada por civilizações antigas, como os egípcios, que removiam órgãos internos, desidratavam os corpos e os envolviam em linho, para preservar corpos.

Com os papas, o processo empregado é o de embalsamento, em que é removido o sangue e injetada uma solução química que conserva os órgãos e retarda a decomposição.

De acordo com Rust, os registros de embalsamamento de papas remontam ao século XII e o mais antigo está relacionado ao Papa Pascoal II, que faleceu em janeiro de 1118. Desde então, explica, as técnicas foram se aprimorando com o objetivo de preparar o corpo pontifício para a exposição pública e, sobretudo, sua colocação na sepultura com a fisionomia preservada.

Como exemplo de um caso bem sucedido de embalsamamento, ele cita papa João XXIII, falecido em junho de 1963 e cujo corpo segue em notável estágio de preservação. São famosos, ao longo da história, outros episódios de abertura de túmulos papais no quais as pessoas presentes relataram terem se deparado com corpos significativamente preservados. O historiador cita os casos de Gregório VII (1073-1085) e de Bonifácio VIII (1294-1303).

Em outras situações, a técnica aplicada falhou, como no episódio em que o corpo de Pio XII (1939-1958) ficou desfigurado durante a exposição pública. Por fim, há casos de papas que não foram embalsamados, como, por exemplo, João Paulo II (1979-2005).

Estadão
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