Yale e Harvard estão entre dezenas de universidades dos EUA que denunciam 'caça às bruxas' de Trump 62g40
Em uma primeira manifestação generalizada contra a vontade de Donald Trump de submeter as universidades, dezenas de instituições acadêmicas norte-americanas, incluindo as prestigiadas Yale, Princeton e Harvard, denunciaram nesta terça-feira (22) a "interferência política" do governo dos Estados Unidos. No Texas, um clima de medo paira sobre os campi universitários — embora os ataques ao setor acadêmico tenham começado antes mesmo do retorno de Trump ao poder. 553a9
Em uma primeira manifestação generalizada contra a vontade de Donald Trump de submeter as universidades, dezenas de instituições acadêmicas norte-americanas, incluindo as prestigiadas Yale, Princeton e Harvard, denunciaram nesta terça-feira (22) a "interferência política" do governo dos Estados Unidos. No Texas, um clima de medo paira sobre os campi universitários — embora os ataques ao setor acadêmico tenham começado antes mesmo do retorno de Trump ao poder. m2r4w
Com informações de Nathanaël Vittrant, correspondente da RFI no Texas, e AFP
"Nos posicionamos conjuntamente contra a interferência governamental sem precedentes" que ameaça "o ensino superior nos Estados Unidos", alertam cerca de 100 reitores e líderes de associações norte-americanas que am uma declaração conjunta, publicada nesta terça-feira (22) no meio de um confronto entre o governo Trump e Harvard.
"Estamos abertos a reformas construtivas e não somos contra uma supervisão legítima do governo", esclarecem os autores do texto, ao mesmo tempo que se opõem à "interferência indevida do governo" nos campi universitários e a qualquer "uso coercitivo do financiamento público para a pesquisa".
Desde o retorno à Casa Branca, o presidente norte-americano e sua istração têm buscado controlar o mundo acadêmico. O fim dos programas de promoção da diversidade, a ameaça de cortar financiamentos públicos, a censura de certos temas de pesquisa e as tentativas de influenciar os currículos, além da expulsão de estudantes estrangeiros, são algumas das medidas adotadas.
No Texas, reina um clima de medo nos campi, embora os ataques ao mundo universitário não tenham começado com o retorno de Donald Trump à presidência. No entanto, a resistência está se organizando.
"Ódio e imbecilidade" 1yi45
Na segunda-feira (21), Harvard - integrante da Ivy League, que reúne oito das universidades mais prestigiosas do país, incluindo Brown, Cornell, Princeton e Yale, também signatárias do comunicado - entrou com uma ação judicial contra o governo de Donald Trump devido ao bloqueio de US$ 2,2 bilhões em subsídios federais, após ter rejeitado exigências do governo norte-americano na semana ada.
O presidente Trump ameaça ir ainda mais longe ao retirar a isenção de impostos concedida a Harvard, acusando-a de propagar "ódio e imbecilidade". Sua istração também ameaçou proibir a aceitação de estudantes estrangeiros, caso a universidade não aceitasse se submeter a um controle sobre issões, contratações e orientação política.
Parlamentares republicanos também anunciaram que iniciaram uma investigação no Congresso sobre Harvard, acusando a instituição de violar leis de igualdade. O governo norte-americano tem atacado há várias semanas as universidades mais prestigiadas do país, acusando-as de permitir que o antissemitismo prosperasse durante os movimentos estudantis contra a guerra em Gaza, o que as universidades refutam.
"Tenho medo" 2b5953
"Tenho medo, como todo mundo. Não ouso mais falar, não ouso criticar o presidente por medo de que meu status de residente permanente nos Estados Unidos seja revogado", diz Gabriella*, estudante de psicologia na Universidade de Houston-Downtown, no Texas. Ela tem 21 anos e ou 20 anos nos EUA, mas ainda não possui a nacionalidade norte-americana, pois nasceu na Guatemala. Ela tem em mente os milhares de estudantes estrangeiros que, nas últimas semanas, tiveram seus vistos revogados. Apenas no Texas, eles são centenas.
A imprensa norte-americana tem amplamente noticiado casos de estudantes detidos e ameaçados de expulsão por organizarem ou participarem de manifestações pró-Palestina nos campi. A istração Trump transformou isso em uma questão de segurança nacional. "Os estudantes envolvidos nos movimentos pró-palestinos se tornaram alvos. Os serviços de imigração os levam e os fazem desaparecer. Uma amiga minha teve seu visto revogado e foi condenada ao que eu chamaria de exílio político", confidencia Sofia*, estudante paquistanesa entrevistada pela RFI durante uma manifestação anti-Trump em Austin.
Mas em muitos casos, os motivos são ainda mais superficiais. Naina*, estudante indiana de 26 anos, chegou aos EUA há quatro anos. Após concluir um mestrado em engenharia mecânica, trabalhava há dois anos para uma empresa norte-americana na região de Dallas, conforme autorizado por seu visto. "Há dez dias, recebi uma ligação da minha universidade me informando que meu visto foi revogado, o que significa que meu visto de trabalho também foi cancelado", relata ela na cafeteria de um supermercado indiano.
"Não sei por quê, não recebi explicação. Tudo o que me disseram foi que estava relacionado a uma atividade criminosa", diz. Desde então, a jovem tenta descobrir o que poderia ter feito de errado. "Tive um acidente de carro no ano ado, ninguém se feriu, mas houve danos materiais e fui multada em US$ 80 porque meu licenciamento estava vencido. Tive excessos de velocidade e uma condenação por um delito menor, mas a menção deveria ser apagada do meu registro após um curso de educação cívica", garante.
Professores estrangeiros também são visados 3x383j
Os professores estrangeiros também estão sendo afetados. "São motivos incomuns", confirma Matthew Thompson, advogado especializado em direito de imigração em Houston, cujo escritório foi procurado por vários desses estudantes estrangeiros ameaçados de expulsão. "Eles são obrigados a deixar o país por infrações de trânsito ou por ter apresentado uma identidade falsa: um estudante menor de 21 anos que quer comprar uma bebida, por exemplo. Coisas extremamente menores. E em menos de dois casos em três, os estudantes foram detidos, mas nem mesmo foram condenados."
Naina ainda tem esperança de contestar a decisão e continuar seus estudos nos EUA. "Meus pais hipotecaram a casa para pagar meus estudos aqui. Eu finalmente encontrei um emprego bem remunerado", lamenta ela. Diante da perspectiva de recursos longos, caros e incertos, muitos outros estudantes preferiram desistir.
Muitos limpam suas redes sociais e se abstêm de expressar certas opiniões publicamente. "Os acadêmicos estão aterrorizados com a ideia de serem associados a certas palavras", relata o advogado.
Caça às bruxas e "ideologia woke" 2b3i1s
Mas essa autocensura não poupa os acadêmicos norte-americanos. Sob o pretexto de combater a "ideologia woke", que, segundo Donald Trump, infiltra as universidades norte-americanas, o presidente agora proíbe o financiamento federal para estudos científicos que contenham certas palavras ou abordem certos temas, principalmente relacionados a estudos sobre gênero, direitos das minorias ou mesmo aquecimento global.
Uma verdadeira "caça às bruxas", cujos efeitos já são visíveis. "Eu entrevistava uma professora para o jornal interno da minha universidade e, em um momento, ela começou a falar sobre 'diversas leituras' que recomendava aos alunos, e de repente, ela parou e me pediu para usar outra palavra que não 'diversa'", conta Oliver Engel, estudante de jornalismo na Universidade do Texas em Austin. "Isso aconteceu várias vezes. Os acadêmicos estão aterrorizados com a ideia de serem associados a certas palavras, mesmo em um contexto perfeitamente inocente."
Cortes orçamentários 2g3315
Em sua ação judicial no tribunal federal de Massachusetts, a Universidade de Harvard afirma que está "implementando ativamente reformas estruturais para erradicar o antissemitismo em seu campus". A universidade denuncia a decisão "arbitrária" do governo de congelar o "financiamento de pesquisa médica, científica, tecnológica e outras pesquisas que nada têm a ver com antissemitismo".
"As ações do governo não apenas violam a Primeira Emenda (da Constituição norte-americana, que garante a liberdade de expressão), mas também as leis e regulamentações federais", argumenta o documento.
A posição de Harvard foi saudada por muitos professores e estudantes como um raro sinal de resistência, enquanto a Universidade de Columbia, em Nova York, aceitou, por sua vez, implementar reformas sob a pressão do governo republicano.
No início de fevereiro, o National Institute of Health (NIH), agência federal dos Estados Unidos responsável pela pesquisa médica, anunciou um corte significativo nos seus financiamentos destinados a universidades e centros de pesquisa, com a promessa de uma economia de mais de 4 bilhões de dólares por ano.
Uma decisão amplamente condenada pela comunidade científica e acadêmica, incluindo a prestigiada instituição Johns Hopkins, que expressou grande preocupação com as "potenciais consequências para a pesquisa científica e médica nos Estados Unidos".
* alguns nomes próprios foram trocados a pedido dos entrevistados