'A responsabilidade de todos agora é cumprir o legado de Francisco', diz arcebispo de Buenos Aires 5k283a
Monsenhor Jorge García Cuerva, responsável formal por continuar com o legado do papa Francisco na Igreja Argentina, diz que a prioridade interna é "unir a Argentina", enquanto a responsabilidade externa é "apostar pela paz; não pela guerra". Comum a toda a humanidade é "estar ao lado dos vulneráveis e dos que sofrem para que o legado de Francisco não fique no esquecimento". 4m1i8
Monsenhor Jorge García Cuerva, responsável formal por continuar com o legado do papa Francisco na Igreja Argentina, diz que a prioridade interna é "unir a Argentina", enquanto a responsabilidade externa é "apostar pela paz; não pela guerra". Comum a toda a humanidade é "estar ao lado dos vulneráveis e dos que sofrem para que o legado de Francisco não fique no esquecimento". 4m1i8
Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
A Argentina se despediu de seu papa com uma caravana popular à maior favela de Buenos Aires, ando pelos pontos emblemáticos que fizeram a obra de Francisco no país.
Pela primeira vez na história, o funeral de um papa no Vaticano não representou a despedida final. O primeiro papa do continente americano fez com que, devido ao fuso horário, a despedida de Francisco se estendesse pelo seu país de origem, levando a cerimônia a atravessar o oceano e fazer de Buenos Aires um segundo tempo da liturgia papal, com um caráter muito mais popular, ao melhor estilo papa Francisco.
O atual arcebispo de Buenos Aires, monsenhor Jorge García Cuerva, no mesmo posto que Jorge Bergoglio ocupava antes de se tornar papa, listou os principais pontos do legado de Francisco, desafio a ser seguido pelos argentinos e pelo mundo para que os ensinamentos do papa latino-americano não caiam no vazio.
"Nós nos comprometemos a continuar construindo uma cultura do encontro na qual haja lugar para todos?", perguntou García Cuerva à multidão na Praça de Maio, em frente à Catedral de Buenos Aires, em cuja escadaria foi construído um palco a céu aberto para a missa de despedida de Francisco.
"Sim, nós nos comprometemos", gritaram os fiéis, induzidos pela oração.
A cada nova pergunta, um novo item de prioridade para manter vivo o legado de Francisco: "Caminhar juntos e viver como irmãos, sendo artesãos da unidade, do perdão e da paz", "ter gestos concretos com os que menos têm", "com os idosos, com os que estão sozinhos, com os que moram nas ruas, com os que sofrem com a falta de trabalho, com os que não têm para comer, com os que estão doentes, com os que discriminam, com os presos, com todos os desprotegidos".
"Que Deus nos ajude a cumprir com este compromisso que será a melhor homenagem que podemos dar ao nosso santo pai Francisco", concluiu García Cuerva.
O mais desafiante, no entanto, é "unir os argentinos", à mercê de uma sociedade polarizada que oscila entre extremos a cada nova eleição, crispando a população. Durante a semana, García Cuerva chegou a pedir, na missa pela partida de Francisco, que "cada um abrace quem está ao lado sem lhe perguntar em quem votou".
"Sim", itiu García Cuerva à RFI que uma das prioridades a partir de agora é unir a Argentina para reforçar o legado de Francisco.
"É fazer cumprir com esse legado. É a nossa vez. Cumprir com o legado de Francisco é responsabilidade de todos. Todos nós temos de ser um pouco Franciscos", afirmou.
Quanto ao desafio para o mundo, García Cuerva recordou que "o papa instalou sobre a mesa da humanidade assuntos que devem ser cuidados por todos".
"Temos de cuidar da casa em comum", sublinha o arcebispo, listando esses cuidados: "construir a fraternidade", "estar ao lado dos mais vulneráveis e dos que sofrem", "apostar pela paz e não pela guerra".
"É o papel de cada um de nós. Tomara que possamos fazer isso para que não fique apenas na recordação nem no esquecimento", concluiu.
Missa sobre o legado 5k1c3f
Durante a missa de despedida, esses conceitos ficaram explícitos. O arcebispo insistiu principalmente no ponto de unir os argentinos.
"Sobre a reconciliação nacional, gostaria que virássemos para esse ponto o nosso olhar e que imaginássemos o abraço que nós nos devemos como argentinos, aquele abraço que negamos a quem pensa diferente, a quem tem outros costumes ou outros modos de viver, o abraço que não damos a quem sofre", refletiu.
Em vários momentos da missa, o arcebispo se emocionou, por exemplo, quando agradeceu diretamente a Francisco.
"Obrigado, querido Francisco, porque você foi próximo, irmão, amigo, pai e, sobretudo, um verdadeiro pastor entre as ovelhas, ajudando cada um de nós com as nossas próprias fragilidades e feridas ao caminhar pela vida. Vá em paz até Deus até que nos voltemos a ver, santo padre", despediu-se.
Morreu o pai de todos 67563m
"Hoje choramos porque não queremos que a morte ganhe. Choramos porque morreu o pai de todos. Choramos porque já sentimos no coração a sua ausência física. Choramos porque nos sentimos órfãos", descreveu, sintetizando o sentimento da maioria na histórica Praça que assistia a uma história despedida.
Eis que, através de auto falantes, ecoam pela Praça de Maio as mesmas palavras enviadas pelo papa Francisco em 13 de março de 2013, quando da sua entronização que também levou uma multidão à frente da Catedral de Buenos Aires. Aquelas palavras do começo de um no papado 12 anos atrás parecem perfeitas para o final, comprovando que Bergoglio e Francisco não mudaram com os anos e que a vida transcende a morte.
"Filhos, sei que estão na Praça. Sei que estão rezando. Obrigado pelas orações. Preciso muito delas. Obrigado por se reunirem para rezar. Caminhemos todos juntos. Cuidemos uns aos outros. Cuidem-se entre vocês. Cuidem da vida. Cuidem da família. Cuidem da natureza. Cuidem das crianças. Cuidem dos idosos. Que não haja ódio, que não haja briga. Deixem de lado a inveja. Dialoguem. Deus sempre perdoa. Deus compreende. Por favor, não se esqueçam deste bispo que está longe, mas que gosta muito de vocês. Rezem por mim".
Caravana popular 1v4n51
Após a missa, uma extensa caravana popular partiu à maior favela de Buenos Aires, ando pelos lugares emblemáticos da obra de Jorge Bergoglio, antes de tornar-se papa.
Foram seis quilômetros de peregrinação por santuários, praças onde Bergoglio celebravas missas a favor dos excluídos, hospitais, um abrigo popular fundado pelo papa e uma penitenciária.
A procissão terminou na paróquia de Nossa Senhora de Caacupé, na favela 21-24, onde vivem cerca de 100 mil pessoas.
É nessa humilde igreja onde terminou o papado de Francisco na Argentina, mas não o seu legado.
Se ainda falta para que um dia Francisco se torne santo, na Argentina, esse processo já começou.