Na Coreia do Sul, boca de urna indica vitória da esquerda na eleição presidencial 3y3n2y
Lee Jae-myung, candidato que liderou o processo de impeachment contra o ex-presidente sul-coreano teria obtido 50,6%, ante 39,4% de Kim Mon-soo 252j6s
Pesquisas de boca de urna indicam vitória do candidato de centro-esquerda Lee Jae-myung na eleição presidencial da Coreia do Sul, após uma crise política provocada pela lei marcial do ex-presidente Yoon Suk Yeol.
SEUL - O Partido Democrático, de centro-esquerda, deve sair vencedor da eleição presidencial da Coreia do Sul realizada nesta terça-feira, 3, segundo projetaram pesquisas de boca de urna. a4d4x
As urnas fecharam às 20h no horário local (08h pelo horário de Brasília), e, segundo pesquisas de boca de urna, o candidato de centro-esquerda, Lee Jae-myung, venceu o pleito.
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Jae-myung era apontado como favorito na eleição, à frente do ex-ministro Kim Mon-soo. Pesquisas de boca de urna projetam vitória do candidato de centro-esquerda com 50,6%, ante 39,4% de Kim Mon-soo.
A votação, que ocorre em turno único, foi convocada seis meses depois de o país mergulhar em um caos político provocado por um decreto de lei marcial feito pelo então presidente Yoon Suk Yeol, restrigindo direitos civis e fechando o Parlamento. A medida foi derrubada horas depois diante da resistência dos parlamentares e protestos em massa da população.
Em abril, Yoon foi oficialmente destituído do cargo, após a Justiça confirmar seu processo de impeachment, dando um prazo de 60 dias para novas eleições.
O vencedor do pleito desta terça assumirá o cargo de maneira quase imediata e terá de fazer frente a uma série de desafios, incluindo a crise provocada pelas tarifas aplicadas pelos EUA no comércio internacional, que prejudicaram a economia exportadora da Coreia do Sul.
Também enfrentará uma das menores taxas de natalidade do mundo e a crescente beligerância da Coreia do Norte, com seu arsenal militar em constante expansão.
A maior preocupação dos eleitores, no entanto, é o impacto da fracassada lei marcial de Yoon, que deixou a Coreia do Sul sem liderança durante os primeiros meses do ano, segundo analistas.
A quarta maior economia asiática atravessa um período de instabilidade política desde o início de dezembro, quando o conservador Yoon declarou lei marcial por algumas horas e enviou o Exército à Assembleia Nacional, dominada pela oposição.
A eleição é vista como um referendo a respeito da breve imposição de lei marcial pelo ex-presidente Yoon Suk Yeol, que ocasionou sua expulsão do cargo. Isso deu a Lee uma vantagem inicial, e as pesquisas que antecederam a eleição o mostraram cerca de 10 pontos porcentuais à frente de Kim, candidato do Partido do Poder Popular, de direita.
Sua vitória por antecipação "não se deve a nenhuma proposta política específica, mas sim ao colapso espetacular de Yoon", disse o professor Leif-Eric Easley, da Universidade Feminina Ewha, em Seul.
Lee afirmou que pretende usar seu poder para unir o país e reanimar a economia. Mas seus apoiadores querem que ele aprove projetos de lei especiais no Parlamento para iniciar investigações mais abrangentes sobre a lei marcial de Yoon e para investigar as alegações de corrupção envolvendo a família do ex-presidente.
Kim também promete uma recuperação nacional. Mas alimentou o mesmo medo e indignação da direita que levaram Yoon a enviar tropas militares ao Parlamento controlado pelos democratas para tentar impor a lei marcial. Kim afirmou que, se eleito, o Lee se transformará em "um monstro" e abusará de seu imenso poder para vinganças políticas.
"A polarização política continuará", disse o reitor da Escola de Pós-Graduação em Estudos Políticos da Universidade Kyonggi, Sung Deuk Hahm. "Lee Jae-myung precisa apresentar um bom desempenho econômico para se defender dos desafios à legitimidade de sua presidência.
Lee ainda enfrenta seu próprio problema judicial: ele está sendo julgado por diversas acusações criminais, incluindo violação de leis eleitorais. Há um debate jurídico sobre seus julgamentos deverem continuar caso ele vença a eleição ou ser suspensos até o fim de seu mandato de cinco anos. A Constituição do país não fornece uma resposta clara. O Tribunal Constitucional provavelmente terá de se pronunciar.
Até lá, "a incerteza e a confusão persistirão", disse Choi Jin, diretor do Instituto de Liderança Presidencial, com sede em Seul.
Mas na verdade Lee é um sobrevivente.
De favela a favorito à presidência 706cr
Crescendo em uma favela ao sul de Seul, Lee só concluiu o ensino fundamental antes de começar a trabalhar em fábricas clandestinas na adolescência. Mas acabou se tornando advogado de direitos humanos, prefeito, governador, chefe do maior partido político da Coreia do Sul e candidato à presidência duas vezes.
Lee perdeu a eleição de 2022 para Yoon. Seus problemas jurídicos se agravaram, mas sua imagem como vítima de perseguição política se consolidou entre seus apoiadores, quando promotores sob o comando de Yoon o perseguiram, juntamente com sua família e seus ex-assessores, com múltiplas acusações criminais. Sua sorte na política mudou depois que o impopular Yoon declarou lei marcial e os sul-coreanos, furiosos, reagiram.
Os apoiadores de Lee se uniram em apoio à sua reputação de que realiza as coisas — algo de que o país precisa urgentemente após três anos de governança disfuncional sob o comando de Yoon. Eles também expressaram a esperança de que ele implementasse reformas há muito esperadas, entre elas a reforma do Ministério Público do país, acusado de se intrometer na política.
Mas seus detratores, incluindo eleitores idosos e as elites políticas de direita filiadas ao Partido do Poder Popular, o classificam como um esquerdista perigoso que minaria a aliança da Coreia do Sul com Washington para melhorar as relações com a Coreia do Norte e a China.
Lee reconhece a polarização política como um dos maiores desafios que enfrentaria como presidente. (Ele escapou por pouco da morte quando foi esfaqueado no pescoço por um agressor motivado politicamente no ano ado.) Mas deve agir com cautela ao lidar com o problema.
Yoon e outros envolvidos na imposição da lei marcial estão sendo julgados por acusações de insurreição. Embora Lee tenha prometido mais investigações, muitos sul-coreanos de direita afirmam que Lee e seu partido também foram responsáveis pela lei marcial de Yoon, porque suas táticas obstrutivas no Parlamento o levaram a extremos.
"As pessoas querem punição, mas se for longe demais, Lee Jae-myung enfrentará acusações de vingança política e perseguição", disse Hahm, da Universidade de Kyonggi.
Durante a campanha, Lee prometeu construir "unidade nacional" punindo os envolvidos na lei marcial de Yoon sem se entregar à vingança política. Ele falou menos sobre causas tradicionais de esquerda, como redistribuição de riqueza e impostos mais altos para os ricos, concentrando-se mais no crescimento econômico.
Lee também deverá encarar um delicado ato de equilíbrio na diplomacia. Ele tentou dissipar a acusação da direita de que era "pró-China" e "anti-EUA" enfatizando a aliança com Washington como a base da diplomacia sul-coreana. Mas também apelou para sua base de esquerda ao prometer melhorar os laços com a China e a Coreia do Norte sem comprometer a aliança com Washington.
Essa estratégia tem críticos em Washington.
"Nós sabemos que muitos países ficam atraídos pela ideia de buscar cooperação econômica com a China e cooperação em defesa com os EUA", disse o secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, no sábado. Mas "a dependência econômica da China", alertou ele, "apenas aprofunda sua influência maligna e complica nosso espaço de decisão em defesa em um período de tensão".
Kim prometeu tornar a Coreia do Sul um aliado mais confiável dos EUA. Mas também defendeu uma ideia que incomodará os formuladores de políticas em Washington: a Coreia do Sul, disse ele, deveria voltar a adquirir armas nucleares táticas dos EUA ou se preparar para construir suas próprias armas nucleares para combater a Coreia do Norte. / AP, AFP e NYT
