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Ela comprou bebê Reborn para ajudar a superar a perda do filho: 'Era como se ele estivesse ali' 2h565m

Amy Souza, de 33 anos, adquiriu boneco hiper-realista que se parecia com seu bebê para auxiliá-la a atravessar o luto 4on1i

16 mai 2025 - 04h59
(atualizado às 14h46)
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Ela comprou bebê Reborn para ajudar a superar a perda do filho: 'Era como se ele estivesse ali':

Os bebês reborn viraram febre no Brasil e no mundo nos últimos meses. Os bonecos hiper-realistas, que são produzidos desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e ganharam destaque a partir dos anos 1990, ficaram ainda mais conhecidos depois que artistas de bebê reborn aram a divulgar seu trabalho nas redes sociais, atraindo olhares de curiosidade e julgamento. 5w4v3n

Embora todo excesso esconda uma falta, como dizia o psicanalista Sigmund Freud, os bebês reborn também têm seu lado positivo, podendo ser usados para fins terapêuticos. Este é o caso de Amy Souza, de 33 anos, natural de Cocal de Telha, no Piauí. Ao Terra, ela conta que comprou um bebê reborn depois da morte do filho, Isaac Gabriel.

Isaac tinha uma doença chamada acidose metabólica, que foi descoberta tardiamente pelos médicos. A condição provoca sintomas como náuseas, vômitos e fadiga e, se não tratada, pode levar à morte. Isaac morreu em março de 2022, um dia depois de completar um mês de vida. Amy acredita que teve negligência médica.

Amy Souza, de 33 anos, e seu bebê reborn
Amy Souza, de 33 anos, e seu bebê reborn
Foto: Arquivo pessoal/Arquivo pessoal

"Depois que o Isaac morreu, eu só chorava. Acordava gritando o nome dele. Um dia, navegando no TikTok, apareceu para mim um vídeo de um bebê reborn. Pensei: 'Acho que vou pedir ao meu marido para comprar um para mim.' Ele concordou, e encomendei um boneco igual ao meu filho", relata.

"Recebi muitos comentários de pessoas preocupadas comigo, dizendo que seria ruim para mim, que eu ficaria pior --mas não foi isso que aconteceu, pelo contrário. Foi como um consolo, amenizou o meu sofrimento. Embora eu soubesse que não era o Isaac, era como se, de alguma forma, ele estivesse ali", acrescenta.

Por mais de dois anos, o bebê reborn de Amy serviu de e emocional para ela e a ajudou a enfrentar a perda de Isaac. Ela conta que não cuidava do boneco como se fosse um bebê, mas que o deixava em algum lugar onde pudesse sempre vê-lo, como em cima da cama. Assim, era como se o filho se fizesse presente.

Depois da morte de Isaac, Amy teve outro filho, Kauã, que vai completar um ano de vida em 30 de maio. Com isso, ela sentiu que o bebê reborn já havia cumprido seu papel e o guardou num armário. Apesar disso, a mulher garante que ainda tem muito carinho pelo boneco e que não pretende se desfazer dele. Ela o deixa na casa da mãe sempre que viaja, por medo de que algo aconteça com ele.

Limites 6xx1d

Segundo a neuropsicanalista Eliane Maria, o bebê reborn pode ser usado em tratamentos terapêuticos, com acompanhamento de um profissional. O boneco pode ajudar mulheres que sofreram aborto espontâneo ou que perderam o filho após o nascimento, por exemplo, como foi o caso de Amy. O objeto pode ocupar um lugar simbólico, auxiliando a mãe a se desligar emocionalmente do filho e a atravessar o luto.

A questão a a virar um problema quando a mulher não consegue distinguir o boneco, que deveria ocupar um lugar simbólico em situações específicas, de um bebê real. Eliane explica que algumas pessoas, por terem um histórico de carência afetiva, podem acabar usando o boneco como uma espécie de “fuga emocional”.

Mãe de três, artesã lucra com a venda de bebês Reborn: ‘viro a madrugada trabalhando’:

Na psicanálise, isso tem nome: "mecanismo compensatório afetivo". Afeta principalmente pessoas com a chamada "criança interior ferida". Crianças que não foram amadas e acolhidas, seja por terem vindo de famílias disfuncionais ou por outros motivos, acabam não conseguindo se relacionar com as pessoas na vida adulta, criando vínculos de dependência emocional. Nesse contexto, se apegar a um ser inanimado surge como uma alternativa.

"Boneco não responde, não retruca, não abandona, não diz o que não gosta. Ele só vai fazer o que quiserem que ele faça. Isso acaba se tornando um transtorno para a pessoa", explica Eliane.

"É como um vício. Quanto mais ela cria proximidade com o boneco, mais isso vai gerando dopamina no cérebro. É a mesma sensação de quando você está triste e come um chocolate, por exemplo. Por isso, o acompanhamento terapêutico é fundamental para evitar que se crie uma relação de dependência", acrescenta.

O limite entre o que é benéfico e o que deixa de ser saudável pode ser estabelecido a partir do ponto em que há um "descolamento da realidade", de acordo com Eliane. Um exemplo desse fenômeno são mulheres que tratam os bonecos como filhos, chegando até a levá-los a um serviço de atendimento médico.

Na terça-feira, 13, o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) protocolou, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o Projeto de Lei (PL) nº 3.757/2025, que propõe a proibição do atendimento de bebês reborn ou quaisquer outros objetos inanimados nos serviços públicos do estado.

Segundo Caporezzo, a proposta foi protocolada após relatos não oficiais --que não foram registrados pelos órgãos de saúde do estado-- de solicitações de atendimento a bebês reborn em unidades de saúde.

O Terra encontrou, no TikTok, o relato de uma mulher que conta ter presenciado uma situação do tipo. De acordo com ela, uma mulher que carregava um bebê reborn ou na frente dela em uma fila em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

"Estava lá na UPA com minha filha, 38ºC de febre, queimando, ando mal. Estava lá há duas horas. De repente, chega uma mulher com um bebezinho e pede para ar na frente", contou.

"Quando olhei, o bebê estava duro. Em um primeiro momento, pensei que estivesse morto. Entrei em choque. Quando parei para ver novamente, era um bebê de plástico, um bebê reborn", acrescentou.

'Uma arte muito linda' 4o5r5i

A artesã Gabriela Neves, de 31 anos, natural de Londrina (PR), tem diversos vídeos nas redes sociais em que mostra a rotina de cuidados com seus bebês reborn. Ela dá banho nos bonecos, troca a roupa deles, lhes dá de comer e até mesmo planeja festas de aniversário --mas a situação não é o que parece.

Gabriela não é "mãe" de bebê reborn, apenas faz os produtos para vender. Os vídeos, em que mostra a rotina de cuidados com os bonecos, são feitos com o único intuito de gerar engajamento e divulgar os bonecos. Funciona. Atualmente, ela acumula mais de 500 mil seguidores no TikTok e mais de 300 mil seguidores no Instagram.

"Uma vez, uma moça me mandou uma mensagem dizendo que havia escrito um texto enorme, achando que eu era 'mãe' de bebê reborn. Depois, ela entrou no meu perfil, viu que eu era uma artista que só estava divulgando o meu trabalho e deletou o texto. As pessoas não entendem que aquilo é uma encenação", afirma.

Gabriela Neves, de 31 anos, em seu ateliê, em Londrina (PR)
Gabriela Neves, de 31 anos, em seu ateliê, em Londrina (PR)
Foto: Arquivo pessoal

Gabriela conta que começou no ramo há cinco anos, em meio à pandemia de covid-19. Em um primeiro momento, a atividade começou como um hobby para vencer a tristeza e o tédio, mas depois se transformou em um trabalho --muito rentável, por sinal. Hoje, ela relata que consegue produzir cerca de 16 bonecos em cerca de dois meses.

Os bebês reborn custam a partir de R$ 2.800. O boneco mais caro que Gabriela já vendeu até hoje foi no valor de R$ 7.000. Os preços variam de acordo com uma série de fatores, tais como o tamanho, material, nível de detalhes (mais ou menos cabelo, por exemplo) e se será vendido com ou sem enxoval. Para ela, cada encomenda é única e exige muito amor e dedicação.

"Eu digo que é uma arte muito linda. Ela salva vidas e, inclusive, salvou a minha", diz. "Muita gente acha que é coisa de doido, mas não é. Criar esses bebês me salvou da depressão e sou muito grata a Deus por ter me dado esse dom."

Fonte: Redação Terra
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