O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que irá deportar Greta Thunberg, o brasileiro Thiago Ávila e outros ligados à organização Coalizão Flotilha da Liberdade (FFC, na sigla em inglês) — que luta contra o bloqueio de Israel a Gaza. 244h1l
A pasta informou também que o barco onde eles estavam atracou nesta segunda-feira (9/6) na cidade de Ashdod e as pessoas a bordo, incluindo a ativista sueca, aram por "exames médicos para garantir que estejam em boas condições de saúde".
O ministério divulgou nas redes sociais fotos do brasileiro e de Greta Thunberg em Ashdod.
Na noite de segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil afirmou na rede social X que Thiago Ávila já chegou ao aeroporto de Tel Aviv, em Israel, e retornará ao Brasil.
Além do Brasil e Suécia, cidadãos da França, Alemanha, Holanda, Espanha e Turquia estavam a bordo do navio - entre eles Rima Hassan, deputada sa do Parlamento Europeu, e Omar Faiad, jornalista francês da rede Al Jazeera.
O barco partiu da Itália em 1º de junho para conscientizar sobre as condições de fome em Gaza.
Israel defende que seu bloqueio a Gaza é necessário para impedir que armas cheguem aos combatentes do Hamas na região.
Um vídeo compartilhado pela FFC mostrou os ativistas sentados com coletes salva-vidas e as mãos levantadas enquanto as forças israelenses entravam no barco. Os ageiros podiam ser vistos jogando celulares ao mar.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel se referiu ao Madleen como um "iate de celebridades para selfies" e compartilhou imagens de soldados distribuindo sanduíches e garrafas de água aos ativistas após a interceptação.
A Coalizão Flotilha da Liberdade afirma que a ajuda é desesperadamente necessária no território palestino e acusa Israel de genocídio — uma alegação que Israel tem negado com frequência.
Mais cedo, a FFC publicou uma foto mostrando pessoas usando coletes salva-vidas sentadas com as mãos levantadas.
Pouco depois, o Ministério das Relações Exteriores de Israel informou que o barco estava "navegando em segurança em direção à costa de Israel", que os ageiros estavam "ilesos" e que deveriam ser "repatriados para seus países de origem".
Mais cedo na segunda-feira, o Itamaraty disse em nota que "o governo brasileiro acompanha com atenção" a interceptação da embarcação e "instou" Israel a libertar os ativistas.
"Ao recordar o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais, o Brasil insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos", diz a nota.
No mesmo comunicado, o governo brasileiro defendeu que Israel "remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante."
"As Embaixadas na região estão sob alerta para, caso necessário, prestar a assistência consular cabível, em consonância com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares", conclui a nota do Itamaraty.
'Se você está assistindo a esse vídeo, isso significa que eu fui preso ou sequestrado' 9525g
O ativista brasileiro Thiago Ávila, que está entre os detidos, divulgou um vídeo no Instagram que parece ter sido gravado antes da detenção de Israel.
"Eu sou Thiago Ávila, sou um cidadão brasileiro e membro da Coalizão Flotilha da Liberdade, e se você está assistindo a esse vídeo, isso significa que eu fui preso ou sequestrado por Israel ou por alguma outra força cúmplice no Mediterrâneo na nossa viagem rumo a Gaza para romper o bloqueio", diz ele no vídeo.
Segundo o site da organização, Ávila tem 37 anos e já participou de outras missões humanitárias — sendo a mais recente para Cuba, em 2024. Em seu Instagram, ele vem publicando fotos e vídeos do barco Madleen.
Greta Thunberg, de 22 anos, é uma das ativistas mais conhecidas do mundo por sua atuação contra as mudanças climáticas, especialmente por sua influência junto a jovens.
Em 2018, aos 15 anos, a sueca realizou a primeira "greve escolar pelo clima" em frente ao parlamento em Estocolmo. O protesto teve ampla cobertura, e centenas de milhares de jovens em todo o mundo aderiram às suas greves chamadas de "sextas-feiras pelo futuro".
Desde então, Thunberg foi presa diversas vezes por sua participação em protestos ambientais ao redor do mundo e multada pela justiça sueca.
O ministério das Relações Exteriores de Israel criticou o grupo, alegando que eles "tentaram encenar uma provocação midiática com o único propósito de ganhar notoriedade, o que incluiu menos do que um caminhão de ajuda humanitária".
"Existem maneiras de entregar ajuda à Faixa de Gaza; não com selfies no Instagram", afirmou.
O ministério das Relações Exteriores de Israel disse que a Marinha instruiu o navio a mudar de curso "devido à aproximação de uma área restrita". Israel afirma que o bloqueio é necessário para impedir que armas cheguem aos militantes do Hamas em Gaza.
sca Albanese, relatora especial da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, disse à BBC que o barco sofreu três incidentes a caminho de Gaza.
Albanese afirma ter mantido contato com o barco durante a viagem e que a chegada a Gaza estava prevista para esta segunda-feira.
Mas as comunicações foram interrompidas quando o Madleen ainda estava em águas internacionais, diz ela.
"Primeiro, eles foram cercados por lanchas rápidas", diz ela. "Esta foi a primeira vez que percebi o estresse deles."
Depois que as lanchas rápidas partiram e a situação se acalmou, Albanese conta que duas aeronaves teriam lançado uma substância sobre o barco.
Albanese afirma que estava em contato com os tripulantes, inclusive no momento em que soldados israelenses embarcaram e "as comunicações com o capitão foram abruptamente interrompidas".
O Hamas disse que a interceptação do Madleen é uma "violação flagrante do direito internacional".
Em um comunicado, o grupo armado palestino exigiu a libertação dos ativistas a bordo e responsabilizou Israel "totalmente por sua segurança".
O Hamas fez um apelo às Nações Unidas e a outras organizações internacionais para que "condenem este crime e tomem medidas urgentes para romper o cerco ao nosso povo".
A Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC) se descreve como um "movimento de solidariedade popular entre pessoas" que "está trabalhando para pôr fim ao bloqueio ilegal israelense a Gaza".
Formada em 2010, a coalizão afirma trabalhar com "parceiros da sociedade civil" e sem parceria de qualquer partido, facção ou governo.
O Madleen — batizado em homenagem à primeira e única mulher pescadora de Gaza — deixou a Itália em 1º de junho com o objetivo de conscientizar sobre a escassez de alimentos no território palestino.
A FFC afirma que o navio transporta uma quantidade simbólica de ajuda, incluindo arroz e leite em pó para bebês. Israel afirma que o barco transporta "menos de um caminhão de ajuda".
A FFC já havia indicado que estava "preparada para a possibilidade de um ataque israelense".
O Ministro da Defesa israelense, Israel Katz, alertou que o navio precisava retornar e que Israel agiria contra qualquer tentativa de romper o bloqueio.
Em uma publicação no X no domingo (08), Katz escreveu: "Eu instruí as Forças de Defesa de Israel (IDF) a agirem e impedirem que a flotilha de ódio 'Madleen' chegue à costa de Gaza e a tomarem todas as medidas necessárias para isso."
Katz afirma que o objetivo do bloqueio israelense, em vigor desde 2007, é "impedir a transferência de armas para o Hamas" e que é essencial para a segurança de Israel, que busca destruir o grupo.
A organização sustenta que o bloqueio marítimo a Gaza é ilegal e classificou a declaração de Katz como um exemplo de Israel ameaçando o uso ilegal da força contra civis e "tentando justificar tal violência com calúnias".
"Não seremos intimidados. O mundo está observando", disse Hay Sha Wiya, porta-voz da Flotilha.
"O Madleen é uma embarcação civil, desarmada e navegando em águas internacionais, transportando ajuda humanitária e defensores dos direitos humanos de todo o mundo... Israel não tem o direito de obstruir nossos esforços para chegar a Gaza."
Em 2010, soldados israelenses mataram 10 pessoas ao abordarem o navio turco Mavi Marmara, que liderava uma flotilha de ajuda humanitária com destino a Gaza.
Recentemente, Israel permitiu a entrada de ajuda limitada em Gaza após um bloqueio terrestre de três meses, priorizando a distribuição por meio do Fundo Humanitário de Gaza, apoiado por Israel e pelos EUA, mas amplamente rejeitado por grupos humanitários.
O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, afirmou na semana ada que os palestinos enfrentam "a escolha mais sombria: morrer de fome ou correr o risco de serem mortos enquanto tentam ar os escassos alimentos disponíveis".
Quase 20 meses se aram desde que Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque sem precedentes liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e mais de 250 feitas reféns.
Desde então, pelo menos 54.880 pessoas morreram em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.