'Criei muitas regras na minha vida para conseguir viver', diz estudante trans de 23 anos 523s5i
Com a coragem de quem transforma dor em potência, Jordana sonha em ocupar espaços e ser quem é livremente 652l47
No Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, relembrado neste 17 de maio, conheça a história de Jordana Viana, jovem trans de 23 anos.
"Eu descobri com seis anos", diz Jordana Viana, com a segurança de quem já contou sua história muitas vezes e, ainda assim, precisa repetir. Natural de Goiânia, a estudante de jornalismo de 23 anos viveu a maior parte da vida criando uma personagem para sobreviver. "Até os 19 anos eu tinha que performar algo que eu não era. Eu criei muitas regras na minha vida para eu conseguir viver." 6y535g
Na infância, Jordana teve o primeiro vislumbre de quem era. "Falei que queria ser uma menina. Minha mãe não teve uma resposta muito boa naquela época. Pensei: Por quê? Mas guardei esse desejo por muitos anos", contou ao Terra. Por mais de uma década, enquanto crianças brincavam livremente, ela viveu uma vida se policiando. Ela observava atentamente o que os meninos faziam, falavam e gostavam para copiá-los. Em contrapartida, tudo aquilo que pertencia ao universo feminino era evitado.
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Em sua mente, avam cenas do que poderia acontecer com ela. "Vou ser expulsa de casa, vou sofrer, as pessoas vão me bater na rua, vão abusar de mim, vão fazer isso, vão fazer aquilo". Só mais tarde, já adulta, quando conheceu outras pessoas trans, é que os medos começaram a perder força.
A chave virou em um lugar improvável: o universo virtual. Amante de videogames, a estudante conheceu uma amiga, que logo se tornou espelho para que ela se entendesse. Naquele ambiente, ela sempre escolhia personagens femininos, assim como outras pessoas. "Jogava GTA Roleplay. Conheci uma amiga, a Laura, de Portugal. Fizemos uma chamada de vídeo, olhei pra ela, olhei pra mim, e pensei: talvez eu seja igual a ela."
Aos 19 anos, finalmente, se abriu para a família. "Eu precisava arrumar alguém que tinha total certeza que me apoiaria, então fui no meu irmão. Contei tudo pra ele. Chorei, chorei, chorei." O pai, que ela imaginava como ameaça, surpreendeu: "Meu pai foi bem receptivo, muito amoroso, como sempre foi. Era mais um medo que demonizava as pessoas pra mim."
O peso da bandeira 4ny54
De Goiânia, cidade marcada pelo conservadorismo, vieram episódios isolados de transfobia. Um dia, Jordana entrou em uma lanchonete e se sentou. Mas os olhares vieram antes do cardápio. Um, depois outro, e mais um, em forma de uma corrente de julgamentos. Ela percebeu. "Pensei: daqui a pouco vou ter que puxar uma cadeira e sair para cima de alguém, aí vou ser a estatística da transexual agressiva", lembra.
"E aí você tem que se policiar para acabar não manchando o nome de uma comunidade inteira."
Jordana sabe que carrega mais do que sua própria história. Uma expectativa que a ultraa, uma imagem que foi imposta sem escolha. Não por mérito ou desejo, mas pelo simples fato de existir. "É cansativo".
"Às vezes, você só tá vivendo a sua vida e as pessoas vão te julgar como se você fosse o espelho de todo mundo. Será que eu posso errar?"
Jordana acredita que sua forma de se comunicar contribui para que evite embates. "Ninguém aprende com grito. A gente aprende conversando." Em suas redes sociais e em lives de gameplay sob o nome Tania Tentasion, ela abre caixas de perguntas e dialoga com pessoas que querem entender mais.
“O primeiro o para quem quer aprender seria escutar um pouco mais e falar um pouco menos".
Sonhos grandes 732h6d
Jordana sonha grande e seu sonho é, antes de tudo, simbólico. "Sonho muito em poder mexer mais com TV, trazer um pouco mais de voz, mostrar para pessoas trans que elas também podem existir, que elas também podem ocupar lugares, não só na marginalidade, não só na prostituição. A gente também pode estar na TV apresentando o Jornal Nacional, mostrando para o Brasil inteiro que você é competente."