South of Midnight é o primeiro grande acerto da Compulsion Games 73a3b
Novo projeto do estúdio da Microsoft deve estabelecer seu futuro 2z3k4g
A Compulsion Games foi um dos estúdios adquiridos pela Microsoft em meados de 2018. Desde então, a desenvolvedora não lançou mais nenhum projeto, e seu último título, We Happy Few, enfrentou muitas críticas na época. Além de um desenvolvimento conturbado, o jogo chegou em o antecipado em 2016 e só teve sua versão completa dois anos depois. 1p3h2u
Com esse histórico, South of Midnight encara grandes desafios: restaurar a imagem do estúdio entre os jogadores e estabelecer uma nova IP em um mercado saturado por sequências e remakes. Além disso, precisa se destacar em um ano repleto de grandes lançamentos. Mas, entre tantos obstáculos, ao menos um a Compulsion já conseguiu superar.
Mitos são reais se você acredita neles 4n5g6c
Em South of Midnight, a história gira em torno de Hazel Flood, que vive com sua mãe em Prospero, uma cidade fictícia inspirada no “Deep South” dos Estados Unidos. A vida de Hazel muda drasticamente quando um furacão atinge a cidade e a sua mãe, que estava em casa, acaba sendo levada pela tempestade. Determinada a encontrá-la, partimos em uma jornada que a leva a descobrir que muitas dos contos que ouvia na infância são reais. Ela se vê em um mundo onde criaturas do folclore ganham vida, cada uma carregando histórias que vão além das páginas dos livros.
Nossa protagonista descobre que a cidade já teve uma escolhida para guiar as pessoas rumo à liberdade, conhecida como Tecelã. Ao coletar suas ferramentas, nossa personagem a a enxergar as Linhas, algo reservado apenas aos escolhidos. Essas Linhas influenciam a grande tapeçaria que molda o mundo do jogo, criando os Estigmas. Além de lidar com os traumas que rompem essa estrutura, também é necessário interagir com os objetos de memória, fragmentos das lembranças de alguém.
A forma como a Compulsion Games incorporou elementos do folclore e os apresenta para quem não os conhece é maravilhosa. Optar por um conto narrado a cada fase foi um grande acerto, ainda mais quando o narrador é um dos melhores personagens e um grande conselheiro durante a jornada. Uma criatura mítica chamada Bagre.
Uma forma que a desenvolvedora buscou de vincular a jogabilidade à narrativa é através do Vórtice de Estigma, pequenos fragmentos que carregam as mágoas de uma pessoa. Com eles, descobrimos o que alguns personagens aram, incluindo os chefes que enfrentamos. Um ponto que se destaca é como alguns desses fragmentos abordam temas considerados pesados, sendo raro ver jogos que se arriscam a tratá-los, como trabalho escravo e violência infantil. A Compulsion soube istrar bem esses temas, sem parecer algo forçado ou cair na tentativa de apenas chocar o jogador.
As criaturas místicas que encontramos ao longo das fases são todas memoráveis, a ponto de cada uma merecer um texto próprio. Tom Dois-Dedos, Rougarou, Molly Abraço-Apertado e outros se destacam tanto pela motivação quanto pelo visual e pela trilha sonora que os acompanha. Aliás, as músicas compostas originalmente são um espetáculo à parte. Cada área e chefe possuí uma trilha que reflete o momento da história, tornando esses instantes ainda mais especiais.
Falar dos gráficos pode parecer o óbvio, mas desde o anúncio, o estilo visual dele sempre impressionou. A escolha de dar aos personagens uma aparência inspirada em filmes de stop motion foi um grande acerto do estúdio, e na versão completa, a qualidade está acima da média, com animais, roupas e outros detalhes muito bem trabalhados.
Explorando Prospero 28l5f
A estrutura das fases é bem direta, o que acaba se tornando um problema crônico com o tempo. Boa parte delas se resume a um único objetivo: destruir os Estigmas, encher a garrafa e partir para o próximo capítulo. Sempre que a garrafa é preenchida, uma sequência de perseguição se inicia. A dificuldade dessas partes é bem tranquila, basta desviar de espinhos, pular no momento certo e alcançar a árvore de garrafas.
A travessia pelo mapa é satisfatória. Hazel pode usar suas habilidades de tecelã para criar um planador, correr pelas paredes e se deslocar com uma linha que lembra bastante um gancho. Um detalhe interessante é que praticamente todos esses meios de locomoção possuem um som próprio, como se fossem crianças cantando. Ao combiná-los, a trilha sonora se completa, criando uma experiência única.
Apesar da boa travessia, a exploração acaba sendo um dos pontos fracos. Não há uma grande recompensa em vasculhar cada canto do mapa, já que os únicos achados são algumas páginas que aprofundam o trauma do personagem daquela fase, o felpo para aprimorar habilidades e o filamento de vida, que aumenta a barra de vida do jogador após coletar três — mas cada fase contém apenas um deles.
As habilidades de uma tecelã 6b5g30
O combate é bem simples e até se destoa da qualidade vista no restante do título. Os inimigos enfrentados na maior parte das fases são chamados de assombrações, sendo eles os únicos adversários além dos chefes. As assombrações possuem variações, como a Supervisora, que cria escudos para outras assombrações; os Brutamontes, que têm uma barra de vida mais resistente; e a Dilaceradora, o tipo mais comum de se encontrar, além de algumas outras variações.
Enfrentar esses inimigos chega a um ponto em que se torna cansativo, já que muitos têm um aspecto semelhante e alguns sequer se movem, tornando as batalhas pouco desafiadoras. Outro problema durante essas lutas é a câmera, que se mostra pouco funcional, assim como o radar de aviso, que deveria indicar quando um inimigo está prestes a atacar. O tempo de reação acaba sendo curto, dificultando a identificação da origem do golpe.
Hazel possui somente uma arma para usar durante as lutas, chamada de objeto de estação. Essa ferramenta conta apenas com golpes fracos e carregados. Além disso, ela tem à disposição magias como o Entrelace, que prende os inimigos, o Empurrão de Linhas, que os arremessa para longe e reflete projéteis, e o Puxão de Linha, que pode puxar adversários para sua direção ou, em certas variações, levar Hazel até eles. Embora seja possível realizar combos combinando essas habilidades, o repertório de golpes da protagonista é bem limitado. A desenvolvedora poderia ter ampliado o arsenal para oferecer mais possibilidades ao jogador.
Na batalha contra os chefes, esses problemas somem por um tempo. Cada um deles possui um método específico para ser derrotado. Por exemplo, Tom Dois-dedos, um crocodilo gigante, que só pode sofrer dano após acertarmos um sino, enquanto o restante da luta exige que sobrevivamos aos seus golpes. É uma pena haver poucos confrontos com essas criaturas, pois é neles que o trabalho acima da média do estúdio se destaca.
Considerações 5d506d
South of Midnight mostra que nem todo jogo precisa ser revolucionário para ser considerado bom. A Compulsion Games entrega uma experiência visualmente marcante, com uma narrativa rica inspirada no folclore sulista e personagens memoráveis. A jogabilidade se destaca na travessia pelo mundo, mas sofre com um sistema de combate pouco refinado e fases que poderiam ter mais variedade.
Ainda assim, é um grande o para o estúdio e um indicativo promissor do que podem criar no futuro. O título prova que os videogames continuam sendo uma das melhores formas de contar histórias, e South of Midnight faz isso com muito estilo e personalidade.
South of Midnight será lançado no dia 8 de abril para PC e Xbox Series X|S, estando disponível também via Game .
Esta análise foi feita no Xbox Series, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Microsoft.