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Vídeo distorce informações de estudo sobre vacina combinada para gripe e covid-19 61j2h

MÉDICO OMITE DADOS IMPORTANTES, COMO FATO DE QUE EVENTOS ADVERSOS REGISTRADOS FORAM LEVES E MODERADOS; AUTOR DA PUBLICAÇÃO ALEGA QUE DISPONIBILIZOU A SEGUIDORES LINK PARA PESQUISA 46143h

23 mai 2025 - 16h43
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O que estão compartilhando: vídeo em que um médico afirma que "estão tentando empurrar" uma vacina de RNA mensageiro conjugada para covid-19 e influenza, que imuniza contra uma cepa da covid que não existe mais. O novo imunizante causaria mais efeitos colaterais que as duas vacinas isoladas. gt5u

Vídeo que circula nas redes sociais omite informações importantes que constam em estudo científico.
Vídeo que circula nas redes sociais omite informações importantes que constam em estudo científico.
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O autor do vídeo omite informações importantes sobre o estudo da vacina mRNA-1083, desenvolvida pela farmacêutica Moderna. A vacina combina proteção contra influenza e covid-19.

O desenvolvimento da vacina tem objetivo de aumentar a cobertura vacinal com um imunizante que protege contra diferentes doenças. Ainda não há previsão sobre se ela será adotada no sistema de saúde do Brasil.

A vacina estudada protege contra a variante XBB.1.5 da covid, que de fato circula menos atualmente. A Moderna explicou que essa cepa foi a escolhida porque foi a recomendada pela agência regulatória dos EUA quando o estudo começou, no segundo semestre de 2023.

Se a vacina for aprovada por uma agência reguladora para uso na população, ela será atualizada com a variante mais recente, de acordo com a farmacêutica. Especialistas consultados pelo Verifica afirmam que esse procedimento de atualização é comum.

A vacina "dupla" de fato apresentou mais eventos adversos que as isoladas de covid e influenza, mas eles foram de curta duração e com intensidade leve ou moderada. O imunizante não tem problemas de segurança.

Procurado, o autor do vídeo disse que compartilhou o link do estudo completo para consulta na postagem. Ele argumentou que o tempo do vídeo é curto para fazer todas as considerações a respeito da publicação científica.

O que diz o estudo?

Os autores do estudo não afirmam que o imunizante é uma opção melhor àqueles que já estão no mercado. O que se destaca é que uma vacina multicomponente pode ser uma opção preferível para facilitar a vacinação, com potencial benefício logístico e de adesão.

Desenvolvido por cientistas da Moderna e de outras organizações, a pesquisa avaliou a capacidade de gerar resposta imune e a segurança da vacina experimental mRNA-1083 em adultos com 50 anos ou mais.

O estudo foi um ensaio clínico de fase 3, randomizado e cego. Isso quer dizer que pacientes foram divididos aleatoriamente em grupos que tomaram um placebo ou o imunizante experimental, sem saber qual dos dois estavam recebendo. Houve também participantes que tomaram vacinas separadas de covid e influenza.

A pesquisa foi feita em 146 centros nos Estados Unidos e envolveu mais de 8 mil participantes divididos em dois grupos etários (50-64 anos e 65 anos ou mais).

O estudo demonstrou que a resposta imune gerada por uma dose única da vacina mRNA-1083 não é inferior à resposta imune causada pelas vacinas separadas de gripe sazonal e covid. Foram testadas quatro estirpes de gripe (A/H1N1, A/H3N2, B/Victoria, B/Yamagata) e uma de covid-19 (XBB.1.5).

Segundo a Moderna, o perfil de segurança foi aceitável para todas as faixas etárias, e a maioria das reações foi leve ou moderada. Essas características estão de acordo com as vacinas já utilizadas para covid e gripe.

Conforme o estudo, istrar a vacina contra a gripe junto com a de covid-19 é atualmente recomendado pela OMS e pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC). Assim, uma vacina multicomponente poderia ser uma opção preferível para imunizar contra ambas as doenças com uma única injeção.

Os pesquisadores informam no próprio estudo que ele tem limitações. Uma delas é que a eficácia da mRNA-1083 não foi estabelecida e merece investigação futura. A pesquisa avaliou apenas a resposta imunize causada pela vacina.

A publicação não recomenda imediatamente o uso da mRNA-1083. Os pesquisadores deixam claro que o imunizante é considerado "investigacional" e que os dados apresentados são resultados interinos. Conforme os autores da pesquisa, os dados finais ainda serão reportados separadamente.

O que dizem as especialistas sobre o estudo?

De acordo com especialistas ouvidas pelo Estadão Verifica, ainda não é possível saber se a vacina combinada é melhor do que as separadas de covid e influenza.

O estudo analisa a produção de anticorpo humoral, produzido após aplicação da vacina ou quando há contato com uma célula estranha ao organismo. Segundo a doutora em Ciências Biológicas Mellanie Fontes-Dutra, pesquisadora e professora da Escola de Saúde da Unisinos, para entender se um imunizante é superior a outros, é necessário investigar outros parâmetros.

Deve ser analisada, por exemplo, a proteção concedida pelo imunizante. Ou seja, a eficácia da vacina em reduzir infecções sintomáticas, casos graves, hospitalizações e óbitos. Isso só pode ser medido após imunização da população em geral.

"O artigo não faz menção que o imunizante em questão é melhor que outras vacinas, mas que alguns parâmetros foram superiores quando comparados com o observado por vacinas padrões", afirmou.

A doutora em Imunologia Denise Morais da Fonseca, professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), concorda que ainda há outros aspectos da nova vacina a serem estudados. Mas há fatores positivos, como o fato de ser um único imunizante para duas doenças.

"A quantidade de imunidade gerada não é inferior à imunidade gerada pelas vacinas que estão no mercado. Ela gera até um pouco mais de anticorpos neutralizantes", observou.

"Nós não podemos julgar essa vacina em relação a cepas olhando pra hoje", comentou. "O estudo se deu em um período anterior e o mais importante está na validação da tecnologia combinando dois alvos virais, uma vez que mostramos segurança e eficácia".

Denise lembra que, em 2023, quando o estudo foi iniciado, não se podia imaginar qual variante estaria em circulação agora ou qual estará quando o imunizante for aprovado. De qualquer forma, a plataforma de mRNA utilizável pode ser fácil e rapidamente atualizada.

Para ela, essa é uma vantagem desse imunizante. As vacinas contra influenza atuais são de vírus inativado, cuja atualização pode demorar até oito meses. Esse processo porque exige cultivo de cepas em ovos embrionados de galinha. Por esse motivo, elas não são recomendadas para quem tem alergia grave à proteína do ovo.

No caso dos imunizantes com tecnologia mRNA, a atualização é menor porque os vírus estão sequenciados. Isso quer dizer que os cientistas têm a "receita" do código genético dos vírus.

"Supondo que surja uma variante hoje, em uma semana a gente consegue sequenciar essa variante, ou seja, encontrar a sequência que está diferente da plataforma que já existe", explicou. "Com isso, se consegue fazer um ajuste químico e a vacina está atualizada".

Depois, são necessários mais alguns testes de segurança, porém mais simples que aqueles feitos quando se criou a vacina. "a de novo por mais uma etapa de regulação, que é muito mais rápida", afirmou Denise. "Vão pedir alguns testes de segurança rápidos e simples que vão identificar efeitos que podem vir a aparecer, o que dificilmente vai acontecer".

O doutor em Imunologia Momtchilo Russo, também professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, não vê qualquer problema com a cepa utilizada para o desenvolvimento do imunizante.

Segundo ele, o interessante nesse estudo é que os cientistas conseguiram desenvolver uma vacina combinada que funciona. "A necessidade de atualização de vacina não é novidade", observou.

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Revista científica criticada no vídeo é de alto impacto

Tanto Russo quanto Denise observaram que o autor do vídeo criticou a revista em que o estudo foi publicado, ao afirmar que "a Jama uma vez foi uma revista muito importante, muito séria, na área médica. Hoje em dia não a disso aí…".

Segundo eles, a publicação é considerada de alto impacto e está pareada com as melhores revistas científicas do mundo. "É confiável", disse Russo.

Denise destaca que, atualmente, a Jama tem impacto maior que Science e Nature, revistas científicas muito respeitadas. "É uma revista de referência na área médica", afirmou.

A doutora acrescenta que a primeira etapa do estudo criticado no vídeo foi publicada na Nature Medicine, outra revista entre as de maior impacto na área médica.

"O estudo já vem respaldado por uma publicação anterior", afirmou. "Ou seja, outra revista muito importante na área também já reconheceu as fases 1 e 2 do estudo. Não se pode desvalorizar um periódico assim, sem nenhum argumento".

Casos de covid-19 são esporádicos?

No vídeo, o médico afirma que casos de covid-19 são "esporádicos, que a gente vê aqui e ali". Mas a doutora Mellanie ressaltou que isso não é verdade. "Ainda temos uma grande circulação desse vírus no mundo e no Brasil", disse.

No País, atualmente há predomínio da variante JN.1. Segundo o informe da Semana Epidemiológica 19 de 2025, neste ano, até 10 de maio, foram notificados 197.927 casos e 1.556 óbitos pela doença.

"A covid-19 segue sendo um importante problema de saúde pública, ainda que amos a ter cenários distintos dos vistos em 2020 e 2021", declarou Mellanie.

Denise acrescenta que, graças ao efeito das vacinas e à evolução do vírus, ele tende a se atenuar. Apesar disso, o SARS-CoV-2, que causa a covid, continua infectando. Ainda há casos de internação e mortes, principalmente entre idosos e pessoas com comorbidade.

"Já tratamos covid-19 como uma infecção viral, não tem mais aquele desespero de fazer o teste de covid. Então, muitas vezes, a pessoa tem covid e não está diagnosticada", disse.

O que diz o médico responsável pelo vídeo?

Ao Verifica, o médico alegou que a cepa escolhida para o desenvolvimento da vacina, independente de quando começou a pesquisa, é uma variante que não existe mais e, para ele, isso invalida o argumento de que o objetivo é aumentar a cobertura vacinal tanto para gripe quanto para covid-19.

Ele acrescentou que o objetivo do vídeo não é causar polêmica, mas "explicitar informações que infelizmente não têm sido divulgadas e que precisam ser discutidas".

O médico citou que o FDA, dos Estados Unidos, pretender restringir a aplicação de vacinas para maiores de 65 ou pacientes com comorbidades. O órgão também questionou o benefício de doses repetidas de vacinação em pessoas de baixo risco.

O assunto foi abordado pelo comissário da FDA, Marty Makary, e pelo líder das avaliações de produtos biológicos do órgão, Vinay Prasad, em um artigo publicado no New England Journal of Medicine nesta terça, 20. A publicação foi notícia em veículos norte-americanos, como New York Times, Washington Post e Reuters.

Nas reportagens, os jornais contextualizam que o atual secretário de saúde dos Estados Unidos, Robert Kennedy Jr., é conhecido por ser cético em relação às vacinas e faz campanha contra a vacinação para covid-19. As reportagens também destacam que especialistas demonstram preocupações em relação à decisão.

O autor do vídeo teve afirmações checadas anteriormente pelo Verifica. Em 2020, ele afirmou falsamente que os efeitos colaterais da CoronaVac poderiam ser piores do que a própria covid-19. Naquele ano, também disse que o número de mortes causadas por HIV era quatro vezes maior do que o número de mortes pelo coronavírus, o que não é verdadeiro. Em 2022, considerou baixa a mortalidade de covid-19 em crianças quando a doença era uma das principais causas de óbito no público infantil.

Estadão
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